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A Energia de Exú – Parte 1

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Vamos falar um pouco sobre o Orixá Exú e as Entidades que se apresentam na Umbanda com o nome de Exú. Qual é a natureza de Exú? Será que podemos enxergar Exú como o Diabo? Dê o play e confira!

Transcrição do Episódio

Oi galerinha!!! Tudo bem com vocês? Vamos começar mais um episódio do nosso podcast? Sobre o que a gente vai falar hoje? O que vocês acham de a gente falar um pouquinho sobre Exú? É… assunto controverso, assunto polêmico. Falar sobre Exú é sempre desafiador, principalmente para quem não é do meio umbandista. Porque eles acabam associando Exú com a personificação do mal.

As pessoas acabam associando Exú com o Demônio, com o diabo. Será que elas estão certas ou estão erradas sobre isso? Olha… não é tão preto no branco como as pessoas pensam, não viu! É sobre isso que a gente vai conversar hoje. Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e esse é o podcast “Alma de Poeta’, criado em homenagem ao querido Pai Antônio, onde a gente fala sobre Umbanda e espiritualidade.

Primeiro a gente vai falar sobre as entidades que trabalham com a denominação de Exús, ok? São espíritos que atuam em uma faixa vibratória mais densa, mais próxima aos encarnados. Depois a gente vai falar sobre o orixá Exú e o seu significado na Umbanda. Ou seja, Exú orixá é uma coisa, Exú entidade é outra, ok?

Bom, vamos lá. Vocês já ouviram falar na dualidade do ser humano? Nessa necessidade que a gente tem de separar o bem e do mal? E essa dualidade é generalizada em diversas crenças, filosofias, culturas. Quem nunca ouviu falar no Ying e Yang, polo positivo e negativo que se interpenetram. no conceito de claro e escuro, luz e sombra?

Quem já estudou um pouquinho de Ying Yang sabe que o positivo carrega uma parte no negativo dentro de si. Assim como o negativo também carrega uma parte do positivo. Nada é absoluto na natureza. Nada é absoluto no universo, as coisas se misturam e se complementam. E na Umbanda não é diferente.

Na Umbanda, quando a gente fala de entidades, de linhas de trabalho, nós temos a direita e a esquerda… uma complementando a outra. O Pai Antônio fala o seguinte: nós temos duas pernas, a direita e a esquerda, e nós precisamos que nossas duas pernas trabalhem em sincronia uma com a outra. Senão a gente não consegue caminhar, a gente não consegue se equilibrar.

Na Umbanda é igual. Se você quer fazer um trabalho harmonioso na Umbanda, se você quer progredir na sua caminhada espiritual, você vai precisar do concurso das duas forças de trabalho, das duas polaridades energéticas que se manifestam nos terreiros: a linha da direita e a linha da esquerda.

Na maioria das casas, a linha da direita se manifesta como pretos-velhos, caboclos, crianças, baianos, marinheiros… E a linha da esquerda, se apresenta de uma maneira mais genérica como Exús e Pombajiras. Não é isso o que vocês veem normalmente nas giras?

Só que quando a gente fala de polaridade, o assunto se torna um pouco mais complexo. Porque na linha dos pretos-velhos, por exemplo, a gente encontra pretos-velhos trabalhando na direita e também na esquerda. Os pretos-velhos que trabalham na esquerda, a gente chama de pretos-velhos kimbandeiros. A mesma coisa acontece com os caboclos, tem os caboclos que trabalham na direita e os caboclos kimbandeiros.

No caso das crianças (espíritos que se manifestam com uma forma infantil), temos os Erês na direita e os Exús-mirins na esquerda. A gente tem a linha dos baianos na direita e a linha do cangaço na esquerda. O que eu quero que vocês percebam aqui, gente, é que mesmo dentro de uma linha de trabalho, na umbanda, a gente encontra entidades que trabalham nas duas polaridades.

Algumas trabalham com uma irradiação energética preponderantemente positiva, outras entidades trabalham com uma energia de polaridade oposta. E olha, eu quero deixar bem claro aqui uma coisa: trabalhar na polaridade negativa não significa trabalhar para o mal. O umbandista que quer trabalhar de uma maneira harmoniosa com Exús e Pombajiras tem que entender esse conceito muito bem. Trabalhar com a linha da esquerda não é trabalhar para o mal.

O Pai Antônio usa uma expressão que eu acho bem bacana. Ele fala que a esquerda é o outro lado da casa do Pai. É o lado da casa de Deus que não bate sol. E não é porque não bate sol daquele lado da casa que vai deixar de ser a casa do nosso Pai. Vocês entendem? Tanto as Entidades que trabalham na direita como na esquerda, trabalham com a permissão de Zambi, trabalham em nome de Deus. E merecem todo o nosso respeito e nosso carinho.

Ah, Evandro, então você está dizendo para mim que Exú não faz o mal? Antes de responder isso, deixa eu te fazer uma pergunta: o que você entende por mal? Fazer o mal seria prejudicar alguém sem motivo? Se for isso, eu digo para você que Exú não faz o mal, porque Exú não trabalha para prejudicar ninguém. Pelo menos não as entidades que se apresentam como Exús dentro da Umbanda, tá?

Porque tem muito espírito trevoso por aí que se faz passar por Exú para agir em benefício próprio, principalmente em rituais de magia negra. Esses espíritos são o que na Umbanda a gente chama de kiumbas, são os malfeitores do plano espiritual. Não tem nada a ver com Exú. Muito pelo contrário. A linha da esquerda bate de frente com esses espíritos malfeitores.

Agora, se você entende o mal como sendo aquele mal necessário que vai fazer a gente progredir, então Exú faz o mal sim. Porque essa é uma das funções que Exú carrega, a de executor do nosso karma. Se você precisa passar por uma provação, pode ter certeza que vai ser um Exú que vai o pontapé inicial para que aconteça aquela provação.

E eles fazem isso com gosto, viu! Não porque eles querem te ver sofrer, mas porque eles sabem que essa provação vai ser importante para o seu progresso. Porque muitas vezes, você mesma como espírito é quem pediu para passar por aquela provação. Exú só vai dar uma gargalhada e dizer assim: que seja feita a tua vontade (e pimba).

Vocês já ouviram falar na lei de causa e efeito? Alguns chamam de lei do karma. O que você planta hoje é o que você vai colher amanhã. Mas para muitos de nós, o amanhã já chegou. É hora da colheita. Estamos colhendo hoje o que nós plantamos no passado. E sobra para quem, muitas vezes, fazer esse trabalho sujo? para Exú!

Então, por exemplo, vamos pensar numa situação bem radical aqui: se você tiver que ser atropelado nessa vida e ficar paraplégico, é Exú que vai te distrair enquanto você estiver atravessando a rua. Se você tiver que morrer afogado, é Exú que vai te incentivar a entrar no mar e depois provocar cãibra nas suas pernas. Porque Exú vai atuar como o executar o teu karma. Vocês entendem? Essa é a primeira função de Exú.

A segunda função que Exú exerce é a função de polícia do mundo astral. Exú é a tropa de choque que atua no baixo astral. Eles batem de frente com os espíritos do mal. Quando eu falo espíritos do mal, eu estou me referindo às entidades que ainda preferem viver à margem das Leis de Deus.

A linha da esquerda muitas vezes é obrigada a travar imensas batalhas espirituais para combater os desmandos desses espíritos ignorantes das verdades divinas. Não é à toa que muitas casas consideram os Exús como guardiões. Nos terreiros de Umbanda, a linha da esquerda é responsável por fazer o isolamento energético do local, para que não adentrem espíritos que possam perturbar o trabalho espiritual que vai ser realizado. Essa é a segunda função dos Exús: o de guardiões.

E a terceira função dos Exús é limpar energias densas. O povo da esquerda, pela sua própria característica de vibrar em uma energia mais pesada, porque se eles não vibrarem nessa energia, eles não conseguem atuar no baixo astral, eles também tem essa facilidade de limpar energias mais pesadas.

Muitas vezes, espíritos mais, digamos assim, desmaterializados, pedem ajuda dos Exús e Pombajiras para fazer uma limpeza mais profunda no ambiente ou em determinada pessoa. O seu catacumba costuma dizer, por esse motivo, que Exú também é lixeiro.

Daí você pode me perguntar: bom, mas se eles têm uma energia mais pesada, isso significa que eles são menos evoluídos? Não necessariamente. Muitos Exús vibram uma energia pesada por opção. Eles conseguem adensar voluntariamente a sua energia usando sua força mental.

Porque muitos Exús trabalham no baixo astral porque eles querem, eles trabalham lá por amor, para ajudar espíritos sofredores, mas muitos deles já possuem permissão da espiritualidade superior de inclusive mudar para mundos melhores do que esse. Então, essa é a terceira função de Exú: limpar energias densas.

Então, recapitulando: as entidades que trabalham na linha de Exú tem três funções principais: a primeira – executor do karma. A segunda – guardião ou polícia do astral e a terceira – lixeiro, responsável por levar embora energias densas.

Bom, e com relação ao orixá Exú? Como a gente pode entender essa força divina? para isso, a gente tem que falar um pouco sobre os Orixás. Na Umbanda, a gente entende os Orixás como sendo atributos da divindade, forças emanadas diretamente de Deus para equilibrar a criação.

Pois bem, a teologia da Umbanda fala que Olorum, o nosso Deus, antes de criar qualquer coisa, ele criou Exú, o Orixá. Exú é o vazio absoluto que foge à nossa compreensão. Porque se você pensar no vazio como sendo o vácuo do espaço. Esse vácuo ainda é alguma coisa. O vazio absoluto é o nada, aquilo que não existe. Mas a partir do momento em que pensamos nesse nada, ele já passa a existir e deixa de ser o vazio absoluto. É muito louco isso!

Mas vamos lá. Depois que Deus criou Exú, o vazio absoluto, ele preencheu esse vazio com a luz de oxalá. Ou seja, nesse sentido, Oxalá está em uma polaridade oposta a Exú. Vocês entendem? Aqui a gente já consegue perceber o Ying atuando no Yang e vice versa. O tudo se harmonizando com o nada. A luz de oxalá se harmonizando com a ausência de luz, ou as trevas de Exú.

Por isso que, na Umbanda, Oxalá é simbolizado com a cor branca, porque o branco é a união de todas as cores. E Exú, por sua vez, é simbolizado com a cor preta, que é a ausência de todas as cores. Por esse motivo, Oxalá está hierarquicamente acima dos demais Orixás. Ele representa a União de todos os Orixás. Enquanto que Exú está na polaridade oposta.

Tem uma corrente filosófica da umbanda chamada de Umbanda Sagrada. Essa escola foi idealizada por Rubens Saraceni. E a Umbanda sagrada chama os Orixás de tronos, na verdade. Então tem o trono do amor, o trono da justiça, o trono da fé, do conhecimento e por aí vai. São 7 tronos.

E a Umbanda sagrada diz que cada trono tem duas polaridades, representados por dois orixás diferentes. De um lado tem um orixá que eles chamam de universal, que é irradiador, ou seja positivo. E de outro lado tem um orixá que eles chamam de cósmico, que é absorvedor, ou seja, de polaridade negativa.

Na Umbanda que eu acredito e que eu pratico é mais ou menos a mesma coisa. Só muda a nomenclatura, ok? Cada Orixá possui o seu aspecto positivo e o seu aspecto negativo. O aspecto positivo irradia a energia que falta e o aspecto negativo absorve a energia em excesso ou alguma energia desvirtuada. A única diferença é que, na minha concepção, o aspecto absorvedor de cada Orixá é sustentado pela força de Exú.

Então, por exemplo, vamos falar sobre o Amor, que é regido por Oxum. Você lembra que teve um episódio que a gente falou só sobre oxum? Então, Oxum, como todo Orixá, possui um aspecto irradiador, que a Umbanda Sagrada chama de Universal. E um aspecto absorvedor, que a Umbanda Sagrada chama de cósmico.

Então, se falta amor na vida da pessoa, o lado positivo de oxum vai irradiar a energia necessária para suprir essa necessidade, direcionando amor praquela pessoa. Por outro lado, se a pessoa tem um amor excessivamente desvirtuado como, por exemplo, sentimento de possessão ou ciúmes, então será o aspecto negativo de Oxum que vai atuar naquela pessoa para absorver o excesso de amor desequilibrado que a pessoa carrega e colocar ela em equilíbrio novamente. Vocês conseguem perceber essas duas polaridades? Uma irradia o que falta, a outra absorve o excesso. E isso acontece com todos os Orixás.

Tem uma poesia que Pai Antônio me passou que se chama justamente “Exú orixá”. Eu vou ler ela aqui para vocês. É basicamente o que eu expliquei até agora.

Negro também dá a contribuição
oferecendo singela explicação
sobre a natureza de Exú Orixá.
Mas ainda me falta entendimento
para compreender o ensinamento
dessa Força Viva a se manifestar.

O vocabulário pobre da humanidade
faz limitar nossa capacidade
de explicar a Criação Divina.
E pela falta das palavras certas,
utilizamos o dom dos poetas
para transformar Orixás em rimas.

Antes de Zambi criar o Universo,
houve um procedimento reverso
que chamamos na Umbanda de Exú.
É o mistério do vazio absoluto,
mostrando o principal atributo,
que muitos vêem como tabu.

Exú é o Vazio que vem antes de Tudo.
O primeiro Orixá criado no mundo
pela vontade de Zambi Maior.
Exú antecedeu todos os outros
preparando o terreno arenoso
oferecendo seu berço de Amor.

Após a criação da Força de Exú,
o Universo, que ainda estava nu,
foi preenchido com a Luz de Oxalá
Então, o Nada encontrou o Tudo
que permeia a existência dos mundos
envolvendo os demais Orixás.

Alguns dizem que Exú é o caminho,
mas eu digo que Ele é o grande ninho
onde o Universo inteiro se aconchega.
Até o fluído cósmico universal
que preenche o espaço sideral
na força viva de Exú se entrega.

Por isso, na Umbanda Sagrada,
a primeira força a ser invocada
é por tradição Exú Orixá.
O vazio que deu início a tudo,
o nada, sem qualquer conteúdo
que faz o Universo se harmonizar.

Não é legal essa poesia? Nossa, eu fiquei refletindo muito sobre esses ensinamentos. E olha só que interessante: justamente pelo fato de zambi ter criado Exú antes de todos os orixás é que tanto na umbanda quanto no candomblé, Exú é a primeira força a ser saudada no terreiro. No final, a poesia fala que Exú é o vazio que deu início a tudo e que faz o universo se harmonizar. Vocês percebem? Essa harmonização é justamente o fator absorvedor de Exú, aquele que absorve o excesso.

Bom, isso foi apenas uma primeira pincelada. A gente ainda vai ter muito o que conversar sobre Exú (tanto o Orixá quanto as Entidades). Mas eu prefiro dividir esse áudio e continuar falando sobre Exú em uma outra oportunidade para não ficar muito longo.

Espero que vocês tenham gostado dessa primeira parte. Não deixe de acompanhar o nosso podcast pelas plataformas de áudio: Spotify, Google Podcast, Deezer, Apple Podcast, Anchor.fm e agora, uma novidade. O nosso podcast também está disponível no Amazon Music. Olha só que chique! Além disso, vocês também podem deixar seus comentários no nosso site “alma de poeta”.

Fiquem com Deus, com Oxalá e com Exú e até o nosso próximo episódio!

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