Transcrição do Episódio
Oi, pessoal! bom dia, boa tarde, para mim aqui já é boa noite. Espero que estejam todos bem, saudáveis, felizes, serenos. Estamos aqui iniciando mais episódio do nosso podcast “alma de poeta”.
Eu inicio o podcast de hoje fazendo uma pergunta para vocês: por que que vocês acham que houve a necessidade de se anunciar a Umbanda como uma religião? Vocês já pararam para pensar sobre isso? Porque já tem tantas religiões nesse mundo! Mais uma para quê? Às vezes eu fico me fazendo esses questionamentos quando eu estou sozinho sabe?
E o mais interessante é que muitos desses questionamentos acabam sendo respondidos para mim através de mensagens. Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e nesse podcast a gente fala conversa sobre Umbanda, sobre Espiritualidade, sobre Mediunidade, além é claro das poesias do Pai Antônio.
Vocês gostam de estórias? eu queria contar uma estória para vocês antes de responder essa pergunta do porquê que houve essa necessidade de anunciar a umbanda como uma religião.
Era uma vez um menino, na verdade era um adolescente, porque ele já tinha completado os seus 17 anos. Ele se chamava Zélio… Zélio Fernandino de Moraes. E o Zélio era de uma família tradicional do Rio de Janeiro, isso lá nos idos de 1908.
Ele morava com a família perto de São Gonçalo, num distrito chamado Neves, e o rapaz havia terminado o ensino médio e estava se preparando para ingressar no colégio naval para seguir a carreira militar. O Zélio queria seguir os passos do pai que também era militar. O seu pai se chamava Joaquim Fernandino Costa e era Oficial da marinha.
Só que de uma hora para outra, os sonhos do Zélio começaram a ir por água abaixo, começaram a acontecer algumas coisas estranhas na vida dele. tinha dias em que ele não conseguia andar direito, ele andava curvado e falava bem devagar, como se estivesse já com uma idade bem avançada.
Nessas horas, o sotaque dele mudava radicalmente. E ele começava a falar coisas que parecia não ter nem pé nem cabeça. Outras vezes ele adquiria uma postura altiva, e nessas horas ele andava muito rápido e fazia as coisas assim com muita agilidade, parecia um felino e demonstrava um grande conhecimento das leis da natureza.
Lógico que esses acontecimentos acabaram preocupando muito os pais do Zélio. Todo mundo achava que ele estava ficando louco, como podia assim o rapaz ter esses comportamentos tão estranhos. Então, os pais do Zélio resolveram levar ele até um tio que era psiquiatra.
Daí o tio examinou o Zélio, fez um monte de exames e acabou constatando que o rapaz não tinha não tinha nada, não tinha problema mental nenhum. Muito pelo contrário. O tio falava que quando o Zélio estava sofrendo aqueles “distúrbios”, ele era ficava muito bom de papo e era muito agradável conversar com o Zélio nesses momentos.
E o tio deu o diagnóstico para os pais: olha, de louco ele não tem nada. Eu sugiro que vocês o levem até um padre, para fazer um exorcismo, porque pode ser que esses ataques aí seja coisa do diabo.
E os pais do Zélio, preocupados, acabaram aceitando esse conselho e chamaram um outro parente da família, que também era tio do Zélio e que era padre. E eles tentaram fazer três exorcismos no menino. O tio e outros padres que vieram juntos e nada, não resolveu nada. Aquelas manifestações estranhas prosseguiam.
E esses comportamentos estranhos do Zélio foram se agravando, se agravando até que chegou um dia que ele foi acometido por uma paralisia que ninguém sabia explicar. O Zélio não conseguia mais andar, não conseguia mais nem se levantar.
E foram chamados mais médicos, foram feitos mais exames e ninguém conseguia explicar o que que estava acontecendo. E daí, passou-se algum tempo, né, e um belo dia, o Zélio se levanta da cama e fala assim: “amanhã eu estarei curado”. Dito e feito! No dia seguinte ele estava normalzinho da silva, como se nada tivesse acontecido.
Eu não sei se vocês repararam, mas a família do Zélio era uma família que possuía recursos. Porque não era qualquer um que naquela época, em 1908, tinha um psiquiatra e um padre na família. Até hoje é difícil encontrar famílias que tenham parentes psiquiatras ou padres. E a família do Zélio tinha os dois: um padre e um psiquiatra.
Para vocês verem como tudo aconteceu com um planejamento da espiritualidade.
Primeiro os pais do Zélio levaram ele até o tio psiquiatra e o tio disse: olha, ele não tem nenhum problema mental. Depois levaram até o tio que era padre e o tio disse: ele também não está possuído por demônio, isso não é obra do diabo.
E com esses dois diagnósticos feitos, abriu-se o caminho para a investigação espiritual. Porque nem a ciência nem a religião conseguiu resolver o problema dele. Foi aí que um amigo da família sugeriu que levassem o garoto até um centro espírita que ficava lá na cidade de Niterói que é município vizinho a São Gonçalo. E foi onde tudo começou a tomar forma.
Esse centro espírita era dirigido por um homem chamado José de Sousa. E o Zélio chegou lá com a família, foram recebidos. E o garoto começou a ter aqueles comportamentos estranhos que ninguém sabia o que era. Foi quando falaram para ele: olha, o que ele tem é mediunidade. Esses comportamentos são típicos de manifestações mediúnicas. E como o Zélio estava agitado, muito estranho naquele dia, o dirigente resolveu colocar ele sentado na mesa entre os médiuns, eu não se era para dar um passe ou receber algum tipo de comunicação.
O fato é que quando o Zélio se sentou na mesa. Houve uma incorporação. E o Zélio incorporado, logo em seguida se levantou e disse: “aqui falta uma flor”. Saiu apressadamente em direção ao jardim e retornou com uma flor nas mãos, depositando a flor no centro da mesa. Isso causou um grande alvoroço entre os presentes, porque era terminantemente proibido alguém sair da corrente mediúnica durante as sessões.
O dirigente José de Sousa, que também tinha uma percepção mediúnica, logo constatou que havia um espírito se manifestando através do Zélio. E começou a conversar com esse espírito.
Quem é você que ocupa o corpo desse jovem? E o espírito respondeu: Eu? Eu sou apenas um caboclo brasileiro.
Então, um outro médium que estava na sessão, que tinha dons de clarividência, falou para entidade assim: você se identifica como um caboclo, mas eu vejo na sua roupagem fluídica que você possui restos de vestes clericais. Eu estou vendo que, nesse momento, eu me dirijo a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz?
E o caboclo respondeu: O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre, meu nome era Gabriel Malagrida, fui acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da inquisição por haver previsto o terremoto que destruiu a cidade de Lisboa em 1755. Mas em minha última existência no corpo físico, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.
Então o dirigente perguntou: E qual é o seu nome? E o espírito respondeu: Eu não vim aqui para dar um nome, mas se é preciso que eu tenha um, digam que eu sou o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, porque para mim não existirão caminhos fechados. E eu venho anunciar o início de uma nova religião que harmonizará as famílias e que há de perdurar até o final dos séculos.
E no desenrolar da conversa, o dirigente pergunta, de uma forma até meio debochada, se já não haveria religiões suficientes na Terra, inclusive o espiritismo. E convida o caboclo a se retirar porque ele não teria nada a acrescentar naquela reunião, em uma manifestação clara de preconceito por uma suposta falta de cultura da entidade que se manifestava. Nesse momento, vários médiuns começaram a receber espíritos de índios e de pretos-velhos dando comunicação.
O dirigente ficou transtornado com aquilo. Era um absurdo o que estava acontecendo. Naquela casa não seria admitida a presença de espíritos ignorantes e o Sr. José de Sousa ordenou que todos aqueles espíritos fossem embora, advertindo a todos do atraso espiritual que possuíam. Um a um os espíritos foram deixando os médiuns.
Em seguida, um dos médiuns da sessão se dirigiu ao caboclo das 7 encruzilhadas perguntando o seguinte: Por que pretende o irmão que esta casa aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram na terra, são claramente atrasados?
E o menino Zélio, tomado de uma força inexplicável, sem saber o que dizia, ouvindo apenas a sua própria voz, respondeu o seguinte: Deus, em sua infinita bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, momento em que ricos e pobres, poderosos e humildes, todos se tornam iguais, mas vocês homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar estas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte.
Por que não podem nos visitar estes humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além? Porque rejeitam a manifestação de caboclos e pretos-velhos? Acaso estes não seriam também filhos do mesmo Deus?
Pois eu digo o seguinte: Amanhã, na casa onde meu aparelho, haverá uma mesa posta a toda e qualquer entidade que queira ou precise se manifestar, independente de quem tenha sido em vida, todos serão ouvidos, todos serão bem-vindos. Nós aprenderemos com aqueles que sabem mais e ensinaremos àqueles que sabem menos. E a nenhum viraremos as costas, pois esta é à vontade do Pai.
E o dirigente falou irônico: E você supõe que alguém irá se interessar em assistir esse culto? E o caboclo respondeu: “cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que iniciarei amanhã”.
E assim aconteceu. No dia seguinte, quando deu 8 horas da noite, o Caboclo das 7 baixou na casa da família do Zélio anunciando o início de uma nova religião e começou a dar atendimentos.
E o povo da Federação Espírita foi em peso lá para ver se era mesmo verdade o que havia sido anunciado na véspera. Foram parentes, amigos, vizinhos e uma multidão de desconhecidos para verificar o fenômeno.
E o Caboclo declarou que naquele momento se iniciava um novo culto, onde os espíritos de velhos africanos que haviam sido escravos e que, como desencarnados, não encontravam campo de atuação nos seus irmãos remanescentes que praticavam apenas magias negras, já deturpadas e dirigidas em sua totalidade para os trabalhos de feitiçaria;
E ele disse que nessa nova religião se manifestariam também os índios nativos de nossa terra, que poderiam trabalhar em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social. Todo mundo seria ajudado. Porque a prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal deste culto, que teria por base o Evangelho de Jesus.
E foi assim que se iniciou a Umbanda. Mas o que eu quero chamar a atenção para vocês aqui é o seguinte. Vocês perceberam como que a Espiritualidade resolveu causar um alvoroço para anunciar a Umbanda? Porque o Caboclo das 7 poderia muito bem ter incorporado lá dentro da casa do Zélio fernandino, com seus pais e simplesmente ter avisado que iria começar uma nova religião, sem causar o estardalhaço que ele causou no centro espírita.
Porém aquilo foi necessário para dar um cachoalhão naquela sociedade preconceituosa e hipócrita da época. Os centros kardecistas da época não aceitavam manifestação de espíritos que passaram pela terra no anonimato de um escravo ou de um índio. Como se o espírito tivesse uma única encarnação em toda a sua existência, não é verdade? Houve a necessidade desse choque.
E olha só que interessante: antes de anunciar a religião, a Espiritualidade fez questão que o Zélio passasse por um médico, para dizer que ele não era louco e por um padre, para dizer que aquilo não era obra do demônio. Só então a espiritualidade intuiu para que os pais do Zélio o levassem até o centro espírita para anunciar o surgimento da Umbanda.
Então, respondendo a pergunta que eu fiz lá no começo: por que que houve essa necessidade de anunciar a umbanda como uma religião. Em um primeiro momento, para quebrar preconceitos. Por que que um espírito que se apresentava como doutor fulano de tal era bem recebido enquanto que um outro espírito que se manifestasse como preto-velho ou índio era convidado a se retirar?
Percebam que este é um dos principais princípios da Umbanda, um dos principais alicerces. Não carregar qualquer tipo de preconceito contra ninguém. Porque se você tem algum tipo de preconceito no seu coração, você está agindo contra as palavras do Caboclo das 7. A Umbanda não aceita qualquer tipo de discriminação.
E em um segundo momento, a Umbanda veio para chegar no coração das pessoas simples. Pessoas que se sentiriam extremamente constrangidas de conversar com um Doutor ou com um Filósofo ou com um Cientista, se colocam muito à vontade para abrir o seu coração para um preto-velho, para um caboclo, para uma criança, para uma pombajira. Porque essas pessoas veem esses espíritos como seus iguais, que passaram pelas mesmas dificuldades que elas estão passando, que sofreram aqui na Terra e que, por esse motivo, podem passar conselhos de como devemos proceder na vida.
Espero que vocês tenham gostado dessa história! São por esses e outros motivos que eu amo a Umbanda e eu amo a simplicidade com que os nossos guias se manifestam para nos orientar. Obrigado por acompanharem os nossos episódios, que o nosso Pai Oxóssi nos dê muito conhecimento, perseverança e disciplina para que possamos continuar nessa caminhada evolutiva. Fiquem com Deus e até o nosso próximo encontro.
Olá, Evandro. Já faz um tempo que acompanho seu site. Conheci através de uma pesquisa pessoal sobre a Umbanda, em específico um episódio sobre ter um altar em casa. Gostei muito do que você falou, sua simplicidade e sua forma clara de explicar. E desde então, comecei a ouvir e ler as transcrições dos podcast. Sempre quis conhecer a Umbanda e já conheci duas casas, mas não participei muitas vezes. No entanto, sigo fazendo minhas pesquisas afim de obter mais conhecimento e finalmente achar uma casa parar frequentar. Bom, não quero me alongar, quero agradecer por compartilhar seu conhecimento. Tem me ajudado bastante. Continue fazendo esse trabalho lindo. Que Deus te abençoe! Abraços.