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Itans, Pontos Cantados, Pontos Riscados e Velas

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Você já ouviu falar sobre a história dos Orixás? Será que essas lendas africanas se aplicam à Teologia da Umbanda? Configura também neste capítulo a finalidade e a importância dos pontos cantados, dos pontos riscados e da velas na Umbanda.

Transcrição do Episódio

Olá, meus irmãos! Galerinha do Axé! vocês estão bem? Olha, eu queria falar uma coisa aqui para vocês antes de começar esse episódio. Eu estou me sentindo muito feliz e realizado com esse podcast, sabe. Eu estou percebendo que esse podcast, apesar de eu não estar divulgando-o em rede social nenhuma, está crescendo cada vez mais em quantidade de ouvintes.

E eu me sinto muito honrado em poder falar de Umbanda para pessoas que muitas vezes não são umbandistas. Eu já recebi um feedback bem bacana de pessoas que começaram a ouvir o podcast assim por acaso, e acabaram se identificando com os assuntos que são abordados aqui. Gratidão a todos vocês pelo carinho, pelas palavras de incentivo. Saibam que cada episódio desse podcast é feito com muita devoção, com muito amor.

E eu peço ao nosso Pai Maior que me dê discernimento para levar sempre a boa palavra, o entendimento correto para quem nos ouve. Porque eu fico muito preocupado com essa responsabilidade de transmitir conhecimento, sabe. Porque uma palavra mal empregada ou mal interpretada pode interferir muito nas decisões que as pessoas tomam, não é mesmo. Que Deus me dê a clareza de expor o conhecimento da maneira certa.

Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e nesse podcast a gente fala sobre Umbanda, Espiritualidade, Mediunidade e as poesias passadas por uma entidade querida: o Pai Antônio.

Dito isso, eu quero começar esse episódio tirando algumas dúvidas. Às vezes as pessoas entram em contato comigo pelo WhatsApp, às vezes as pessoas entram em contato comigo pelo site. Às vezes são dúvidas que as pessoas me perguntam nas salas do Clubhouse. E eu fico muito feliz de poder explicar, de poder esclarecer esses questionamentos que me são feitos.

Vamos lá… a primeira dúvida que me foi passada é da Thais. Eu frequento um Centro que eles têm uma visão diferente com relação aos Orixás. Eles contam histórias dos Orixás que brigam entre si, que se relacionam amorosamente, que geram outros filhos Orixás. E essas histórias, apesar de serem bem interessantes, não fazem o menor sentido para mim. Você poderia explicar melhor para mim o por quê dessas histórias de Orixás?

Thais, deixa eu falar uma coisa para você: Essas histórias de Orixás que você está falando, no candomblé se chama itan. O Itã nada mais é do que o estudo da mitologia dos Orixás, são lendas contadas de geração para geração. Então, você vai ler lá, por exemplo, que Ogum era o filho mais velho de Oduduá e que era um terrível guerreiro e lutava contra os reinos vizinhos. Ou então que uma vez Oxossi estava caçando, atirou uma flecha que derrubou uma colmeia em cima de Logunedé que foi picado pelas abelhas e socorrido por Omulú. Essas são lendas da cultura Iorubá.

Só que essa mitologia é estudada no Candomblé, que é muito diferente da Umbanda. O Candomblé e a Umbanda, eles têm uma visão muito peculiar de Orixás. O Candomblé, ele cultua os Orixás como antepassados. O povo Iorubá acreditava que, muito antigamente, Deus vivia entre eles. Até que um dia, Deus ficou injuriado com as coisas erradas que as pessoas faziam e resolveu ir embora para o seu reino no céu.

Só que antes de ir embora, ele nomeou deuses e deusas para desempenhar certas funções na natureza. E então surgiu a figura dos Orixás. Você vai perceber que na visão do Candomblé, os Orixás têm um aspecto muito humano. Eles sentem ódio, sentem inveja, brigam entre si, se relacionam amorosamente. Tudo isso vem da cultura Iorubá, da cultura africana.

Só que na Umbanda é diferente. A Umbanda não absorveu essa parte da cultura africana. A Umbanda tem uma visão muito diferente de Orixá. para Umbanda, Orixá é um atributo de Deus, é uma maneira que Deus tem de se manifestar entre nós. O Orixá é o Poder de Deus. Então, em um terreiro de Umbanda mesmo, você não vai ouvir essa mitologia. Tanto é que eu não sei a mitologia Iorubá. Se você me perguntar quem é filho de quem, quem se casou com quem, quem brigou com quem, eu não vou saber te responder. Porque isso não faz parte da Umbanda.

Se você estuda isso no terreiro que você frequenta: de duas uma: ou é um terreiro de candomblé ou é uma umbanda misturada, que tem mais um viés africanista. Entende? Porque a Umbanda Sagrada, a Umbanda Esotérica, a Umbanda popular, essas Umbandas mais tradicionais não costumam abordar esse aspecto humanizado dos orixás.

As pessoas do Candomblé costumam dizer que os itãs, eles têm um significado mais profundo. Elas falam que essas histórias alegóricas dos Orixás carregam ensinamentos, como se fossem parábolas. É preciso interpretar a história para extrair o real significado. Mas eu, sinceramente, não saberia passar para você de uma maneira fidedigna, o significado de cada lenda. Porque eu não entendo nada de Candomblé.

Eu me sentiria um impostor aqui de falar alguma coisa que não esteja relacionada diretamente com a minha religião. Até porque eu corro o risco de falar bobeira, né? Umbanda é umbanda, candomblé é candomblé. está certo? Vamos lá para uma outra pergunta?

Oi Evandro, me chamo Emília e tenho uma dúvida. Antes disso queria elogiar o Podcast. Estou iniciando na Umbanda os podcast tem ajudado bastante no entendimento. Minha dúvida na verdade e para que Serve os Pontos cantados e como funciona? E sobre as velas também como funciona. E a Emília também quer saber para que servem os pontos riscados, qual é o objetivo da Entidade riscar um ponto, em que momento isso é feito e como isso pode ajudar a consulente.

Emília, um abraço para você. Obrigado por esse carinho que você e a sua noiva tem de acompanhar nosso podcast. Você disse para mim que vocês estão começando na Umbanda agora, né? Eu peço para o nosso Pai Olorum que seja um caminho de luz para vocês duas!

Vamos lá. Na verdade, você me fez três perguntas, né? Primeiro você me perguntou para que servem os pontos cantados. Os pontos cantados, na verdade, tem duas funções principais. Uma das finalidades é louvação. Assim como na igreja católica tem as músicas, tem os cantos e tem as preces e orações, na Umbanda existem os pontos cantados.

E você pode notar que nós temos os pontos cantados tanto para Orixás quanto para Entidades. Tem ponto de Oxóssi, tem ponto de Xangô, tem ponto de Iansã, de Iemanjá, né? para todos os Orixás cultuados na Umbanda tem pontos cantados. E da mesma maneira, você vai encontrar ponto de preto-velho, ponto de caboclo, ponto baiano, ponto de marinheiro e por aí vai.

Esse lado da louvação que nós fazemos, através dos pontos cantados, tem a finalidade de fazer com que a nossa vibração se eleve. Você vai entrar em um estado vibratório propício para entrar em uma conexão mais direta com os planos superiores ao nosso. E existe uma outra função do ponto cantado que é a invocação dos nossos guias espirituais.

Através dos pontos cantados, nós estamos chamando os nossos guias, os nossos mentores para perto de nós. O ponto cantado tem essa função de conectar a sua mente com a mente do espírito desencarnado que vai se manifestar. Dependendo da linha que o espírito trabalha, ele vibra numa frequência específica. E através do ponto cantado, você consegue entrar nessa mesma frequência da Entidade. Entende?

Então, quando você canta um ponto para uma preta-velha, por exemplo, [lá vem vovó descendo a serra…] através da cadência da música, da melodia, do toque do atabaque, você acaba entrando na mesma frequência das entidades que trabalham naquela linha. Se você cantar para Iemanjá, por exemplo, você vai perceber que o ritmo e a vibração são totalmente diferente [eu escrevi um pedido na areia].

Então, com o tempo, você vai começar a identificar essas nuances que existem entre uma linha e outra, entre um orixá e outro. Você disse começou a fazer o desenvolvimento mediúnico e tal. Você vai ver como que o ponto cantado e a sintonia correta vai facilitar em muito a sua conexão com o mundo espiritual. Então o ponto cantado é basicamente isso: louvação e invocação.

Agora, com relação aos pontos riscados. O ponto riscado, nada mais é do que símbolos sagrados que são desenhados pela Entidade incorporada no médium. Esse desenho geralmente é feito com a pedra de pemba. O que que é a pedra de pemba? É um pedaço de giz confeccionado especialmente para o ritual sagrado da Umbanda.

A pemba, por si mesma, ela já carrega um Axé. Em muitos terreiros ela é consagrada, ela é cruzada antes do médium trabalhar com ela. E qual a função do ponto riscado? para que que serve? Primeiro: o ponto riscado funciona como uma espécie de identidade do espírito comunicante. Através do ponto riscado, você consegue saber em qual linha a Entidade trabalha e na força de qual Orixá. Os espíritos, eles se reconhecem no plano astral simplesmente mostrando o seu ponto riscado.

Quando a entidade traça o ponto riscado no terreiro, ela está mostrando para todos os espíritos desencarnados que estão presentes no ambiente, sejam eles trabalhadores ou socorridos, qual é o grau hierárquico que aquela entidade possui. Se a gente fosse fazer uma comparação bem tosca, seria mais ou menos igual aquelas listas e estrelas que os militares usam em cima do ombro? Você já viu?

Então, um espírito vai olhar para o ponto riscado e vai falar assim: caramba. Esse aí tem poder. Trabalha na falange tal, tem essa e essa especialidade. E o ponto riscado é tão respeitado no plano astral, que muitas vezes, espíritos mal-intencionados, os kiumbas, deixam de agir simplesmente porque viram um ponto riscado. Eles sabem que se eles fizerem alguma coisa, vai ter consequência. Vão sofrer represálias por aquela falange.

É igual aquele filme “tropa de elite”. Você já assistiu? No meio policial, qual é o símbolo que identifica o Bope? É a faca na caveira. Qualquer bandido que vê o símbolo da faca na caveira, já treme nas base, já identifica como sendo o Bope. No mundo espiritual, é mais ou menos a mesma coisa. O Caboclo traçou um ponto riscado, os kiumba já treme na base. Os espíritos falangeiros identificam aquele ponto que foi riscado e compreendem exatamente qual é o cargo espiritual que aquela entidade possui.

Em que momento que a Entidade vai fazer um ponto riscado? Quando ela sente a necessidade de fazer um trabalho magístico. O ponto riscado é fundamental para o trabalho de magia dentro de um terreiro. E assim, não é qualquer pessoa, não é qualquer médium que vai conseguir identificar ou interpretar um ponto riscado.

Geralmente são as Entidades que conseguem identificar aquele ou então o Pai de Santo. Às vezes nem ele consegue. E muitas vezes a entidade não fala. Melhor não saber. Outra coisa… dificilmente a Entidade vai traçar um ponto riscado para um atendimento individual. Geralmente o ponto riscado é usado em assuntos mais complexos. Em um auxílio coletivo, por exemplo, que vai demandar a ajuda de muitos espíritos.

Então, quando você vai no terreiro, passa por uma consulta e a Entidade não risca ponto nenhum. Isso é o normal, tá? Não vai pensar que a entidade está fazendo pouco caso do seu problema. Porque ela só vai fazer o ponto riscado dela, muitas vezes, quando o bicho está pegando. Então o ponto riscado é isso. Ele tem a função magística dele, de abrir um trabalho, de fechar um trabalho, de convocar a falange. E também tem o aspecto de identidade, de reconhecimento no plano espiritual.

Agora vamos para sua terceira pergunta, Emília.

Qual a função das velas. para que que servem as velas? As velas tem um importante papel, não só no ritual religioso, como também em rituais de magia. Porque as velas funcionam como uma espécie de condensador energético. O que que é isso? Vocês já colocaram uma lupa no sol? Nossa, quando era criança eu adorava brincar com esse negócio.

Botava fogo em tudo quanto é lugar. Se você colocar uma lupa no sol, você vai perceber que, dependendo do ângulo, os raios do sol vão convergir para um ponto central, fazendo com que o calor se intensifique tanto que acaba provocando uma combustão daquele ponto em que a lupa está apontando. Nesse caso, a lupa está funcionando como um condensador energético. Vocês entendem?

Com a vela é a mesma coisa. Só que ao invés da vela usar o raio solar, ela vai usar alguns outros elementos que existem no ambiente. Quando você acende uma vela e direciona o seu pedido, aquela vela vai funcionar como uma lupa, intensificando o seu desejo, fazendo a energia que existe nos elementos da natureza se movimentar.

Só que assim, para isso funcionar, você tem que ter o pensamento direcionado, né? Não adianta nada você acender uma vela só por acender. Não vai ter efeito nenhum. Tipo, quando acaba a energia elétrica na sua casa, por exemplo, você vai lá e acende uma vela para ficar não ficar no escuro. Nesse caso, como você não direcionou o seu pedido para nada, então a vela vai perder a sua função magística.

A partir do momento em que você direciona a vela para uma finalidade, o seu comando mental acaba meio que organizando aquelas forças energéticas que foram ativadas com o acender da vela. Por isso que as velas são muito utilizadas em rituais de magia, porque elas ajudam a movimentar as energias da natureza.

E a magia nada mais é do que você manipular forças energéticas através do seu pensamento. O problema é que nós não temos um pensamento forte o suficiente para fazer qualquer magia sem o auxílio de condensadores energéticos. E existem diversos tipos de condensadores energéticos, né? Não é só a vela. Tem patuás, tem amuletos, tem talismãs, pedras, fluídos corporais. Tudo isso, utilizado da maneira certa, acaba funcionando como um condensador energético.

Mas as velas também tem uma outra função. Elas servem como pontos de força pras Entidades Espirituais. Porque as Entidades, elas conseguem manipular as energias que foram ativadas com a vela. Aquela mistura de fogo, parafina e ar acaba criando uma espécie de redemoinho no plano espiritual, proporcionando às Entidades, muitas vezes, material de trabalho ou material de sustentação energética.

E essa sustentação, ela serve tanto pros nossos guias espirituais como também para espíritos sofredores. A gente pode acender uma vela, por exemplo, para alguém que acabou de desencarnar. Esse espírito vai utilizar a sustentação energética da vela para se equilibrar. Da mesma maneira, a gente pode acender uma vela para um espírito de luz, também. É o caso de um dos preceitos da Umbanda, de firmar uma vela para o seu anjo-da-guarda antes de ir para gira.

Percebam que nesse caso, o seu anjo da guarda não precisa se equilibrar, ele já é um espírito equilibradíssimo. Quem precisa se equilibrar é você. Então, o seu guia espiritual vai manipular aqueles elementos ativados na vela, juntamente com a sua energia de médium, para direcionar fluídos terapêuticos e protetores enquanto você estiver desempenhando a sua função de trabalhador em uma casa de Umbanda.

E a utilização da vela é tão importante, que não é só no ritual da Umbanda que tem isso. A igreja católica acende velas, O budismo acende velas, várias religiões usam esse instrumento para potencializar os trabalhos espirituais.

Bom gente, eu acho que já vai dar o nosso tempo aqui de 20 minutos. Eu falei muito hoje, só com essas dúvidas que vocês me trazem. Eu agradeço a Thais pela pergunta muito oportuna da história dos Orixás. Peço desculpas por não conseguir responder essa pergunta com a profundidade que o tema merece. Porque como eu disse, mitologia de Orixá está mais ligada ao Candomblé, aos cultos de nação. Não faz parte da doutrina de Umbanda.

Agradeço imensamente também à Emília, pelos questionamentos sobre pontos cantados, pontos riscados e velas. Esses são assuntos interessantíssimos e importantíssimos que se você estudar a fundo, você vai começar a compreender a grandiosidade que é um ritual e Umbanda e o trabalho dos nossos guias espirituais.

Espero que eu tenha conseguido esclarecer, pelo menos um pouco da dúvida de vocês. E não se acanhem, se vocês tiverem dúvidas sobre Umbanda, espiritualidade ou mediunidade, manda para gente! O máximo que vai acontecer é eu falar “não sei”, como eu disse hoje aqui sobre a história dos orixás. Mas é melhor eu falar “não sei” do que falar bobeira, não é mesmo? Porque culto de nação não é a minha praia.

E assim, chegamos ao final de mais um episódio. Hoje, o episódio inteiro foi só respondendo perguntas, né? Que ótimo! Isso demonstra o interesse de vocês pela Umbanda, o interesse em aprender cada vez mais sobre o mundo espiritual. E isso contribui muito para o despertar da nossa consciência.

Deixo aqui novamente a minha gratidão a todos vocês. Continuem acompanhando o nosso podcast pelas principais plataformas de áudio. Você pode encontrar o “Alma de Poeta” no Spotify, Amazon Music, Google Podcast, Deezer, Apple Podcast, AnchorFm, Youtube e também pelo nosso site “almadepoeta.com.br“. Um grande abraço a todos, fiquem com deus e até o nosso próximo bate-papo.

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