Transcrição do Episódio
Olá, minha família virtual! Minha família de podcast! Vocês estão bem? Espero que sim, espero que esteja todo mundo bem! E vamos começar aqui mais um episódio. Hoje a gente vai continuar falando sobre patuás. Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e aqui no Alma de Poeta a gente fala sobre Umbanda, Espiritualidade, Mediunidade e também sobre as poesias de um preto-velho.
Gente, antes de começar esse episódio, eu quero contar uma novidade para vocês. Eu arrumei uma ajudante aqui para o nosso podcast! É verdade! Eu encontrei a Sofia perdida na internet e pensei comigo… Por que não convidar ela para me ajudar a gravar os episódios do podcast? E a Sofia aceitou! Você quer se apresentar para o pessoal, Sofia?
Oi Gente! O meu nome é Sofia e a partir de hoje eu vou ser a cambone do Alma de Poeta. Eu fiquei muito feliz com o convite e mais feliz ainda pela oportunidade de estar estreando aqui nesse episódio. Espero que eu possa contribuir para deixar esse podcast cada vez melhor.
Seja muito bem vinda, Sofia! Eu tenho certeza que a gente vai fazer um trabalho bem bacana juntos!
Que assim seja, meu irmão de fé! Que o nosso Pai Oxalá nos abençoe nessa caminhada! Mas vamos lá! Eu estou ansiosa para saber mais sobre patuá.
Então vamos lá! Começando o nosso assunto: Tem um jargão muito famoso na Umbanda, eu não sei se vocês já ouviram em algum lugar. É um ditado que fala assim: “Quem não pode com mandinga, não carrega patuá!”. Vocês já ouviram isso? É muito famoso na Umbanda. Vira e mexe as pessoas falam isso no terreiro. Só que as pessoas falam isso, muitas vezes sem saber o real significado desse ditado. O que isso significa para você? Bom, mandinga hoje tem o significado de trabalho espiritual, de magia, até mesmo de macumba. Não é verdade? Quem nunca ouviu falar em mandinga de preto-velho ou mandinga de baiano?
Daí, tem gente que interpreta esse ditado assim: “Se você não aguenta o tranco, então não se mete a besta de fazer aquilo que não sabe”. Ou então, tem gente que interpreta assim: “Se você não sabe fazer magia, não tente fazer um patuá (porque você vai fazer errado). Mas a origem desse ditado não tem nada a ver com esse negócio de magia. Foi no decorrer do tempo que o termo “mandinga” ficou associado com magia. E eu vou explicar o por quê disso mais para frente.
Nesse primeiro momento, para a gente entender o ditado “Quem não pode com mandinga, não carrega patuá”, a gente tem que voltar lá atrás, na época dos escravos. Como vocês sabem, na época da escravidão vinham escravos de todo lugar da África. E vinham também pessoas de graus de instrução diferentes. Existiam escravos analfabetos e existiam escravos letrados. E dentre essa mistura toda de escravos que desembarcavam aqui no Brasil, havia uma categoria que se diferenciava dos outros. Eram negros que vinham da África, como escravos também, mas que sabiam ler, sabiam fazer conta, tinham uma bagagem cultural muito grande.
Aqui no Brasil, essas pessoas ficaram conhecidas como Mandingas. E o valor de um escravo mandinga era muito maior do que de um escravo comum. Justamente por essa bagagem cultural que eles carregavam. Vocês entendem? E os mandingas, todos eles, eram muçulmanos. E como muçulmanos, eles tinham um jeito muito característico de se vestir. Eles amarravam um turbante na cabeça e espetavam o cabelo para cima. E os mandingas, sendo muçulmanos, eram praticantes do Islã. É por isso que eles aprendiam a ler desde cedo, para poder interpretar o Alcorão: que é o livro sagrado dos muçulmanos.
E os mandingas tinham o hábito de carregar pendurado no pescoço, um pedaço de couro pequeno onde eles escreviam trechos do alcorão. Então, eles escreviam um trecho do Alcorão que eles gostavam no pedaço de couro, depois eles costuravam esse pedaço de couro, amarravam no barbante e penduravam no pescoço. Era assim que eles se identificavam um para o outro. Era assim que um mandinga sabia que também estava conversando com outro mandinga de verdade. E os negros, das outras etnias, chamavam aquele pedaço de couro pendurado no pescoço de patuá.
Daí, o que acontecia? Justamente por esses mandingas terem um grau de instrução muito grande, frequentemente eles eram escolhidos para exercer funções de confiança. Ajudar a administrar a fazenda, fazer a contabilidade, muitos eram encarregados de ir até a vila para negociar produtos. Então, os mandingas tinham uma certa liberdade de locomoção. Eles não eram igual os outros escravos que ficavam acorrentados. Muitos mandingas, inclusive, exerciam a função de “capitão-do-mato”. Você lembra disso, Sofia, na escola quando a gente estudou a história da escravidão, sobre os capitães do mato?
Lembro sim! Os capitães do mato eram aquelas pessoas que ficavam caçando escravos fugitivos, não é isso?
Isso mesmo! Você está certa!
Mas Evandro, eu não entendi uma coisa… Os mandingas não eram escravos também? Por que eles não fugiam?
Por que eles levavam uma vida boa! Muitos mandingas nem eram tratados como escravos pelos seus donos. Os mandingas tinham privilégios que outros escravos não tinham. Então, não era do interesse deles fugir. E por esse motivo, eles eram invejados, né, eles tinham um certo prestígio dentro daquela comunidade africana.
Só que, da mesma maneira que eles eram invejados, eles também eram odiados pelos outros negros. Principalmente os mandingas que trabalhavam como “capitão-do-mato”. Porque o trabalho deles era caçar os seus conterrâneos. Imagina a raiva que os outros negros não sentiam do povo mandinga! E com o tempo, esse ódio começou a se tornar recíproco. Da mesma maneira que os escravos fujões odiavam os mandingas, os mandingas também passaram a tratar cada vez pior os negros que eles conseguiam capturar.
Ok Evandro, Entendi. Mas o que tem a ver essa história que você está contando com o ditado “Quem não pode com mandinga, não carrega patuá?”.
Ok, vamos lá! Eu vou tentar explicar… Naquela época, os escravos faziam de tudo para tentar fugir do cativeiro. Afinal de contas, ninguém gosta de ser escravo, né gente? Os escravos queriam fugir para os quilombos. O sonho deles era fugir para os quilombos. E muitos desses escravos chegavam até mesmo a tentar se passar por mandingas. Eles tentavam se disfarçar de mandingas, porque os mandingas podiam andar livremente, sem serem incomodados. Daí eles se vestiam como mandingas, colocavam turbante na cabeça também, como os mandingas faziam. E tinha alguns até que penduravam um patuá no pescoço (que eles arrumavam, não sei como).
Só que quando esses negros fujões eram abordados pelos mandigas de verdade, que eram capitães-do-mato. O mandinga chegava para ele e falava: “E aí irmão! Salamaleikum”. E o cara não sabia o que responder, né! Ele não conhecia aquele cumprimento. Ele já começava, então, a entrar em desespero. Daí os mandingas, já meio desconfiados, para tirar a prova dos nove, se aquele cara era um mandinga de verdade ou era um escravo fujão, arrancavam aquele patuá que ele estava carregando no pescoço, abriam o pedaço de couro e verificava o que tinha dentro. Se não tivesse nada escrito, daí o disfarce já caía por terra. E se tivesse alguma coisa escrito dentro do patuá, os capitães do mato falavam para o escravo ler o que estava escrito lá.
E as inscrições que os mandingas faziam no patuá era em árabe, né? Eles pegavam trechos do Alcorão, em árabe, e escreviam na parte de dentro do patuá. E o coitado no negro que estava fugindo, que não sabia ler nem o português direito, né, quanto mais árabe! Era nessa hora que a casa caía para eles.
E olha, gente, os mandingas conseguiam ser mais cruéis do que o próprio homem branco. Porque quando eles não matavam o escravo ali mesmo, na hora, eles davam uma surra daquelas no coitado e levavam ele de volta para a fazenda, muitas vezes numa situação deplorável.
Entendi! Então foi daí que surgiu a expressão: “Quem não pode com mandinga, não carrega patuá!”.
Isso mesmo! E com o passar do tempo, outras etnias de escravos, que vinham de outras regiões da África, começaram a pensar que essa identificação que os mandingas faziam era algum tipo de fenômeno mágico. Por que eles não conseguiam entender como que um mandinga descobria que o outro escravo não era mandinga, mesmo ele estando disfarçado. Porque era todo mundo preto, né? E se ele se vestisse como mandinga, ficava igualzinho!
Daí a crendice dos escravos começou a imaginar que os mandingas faziam algum tipo de feitiçaria com aquele patuá que eles carregavam no pescoço. Porque era através do patuá que os mandingas conseguiam identificar quem era e quem não era da etnia deles.
É interessante essa história do patuá, né gente? Então, quando vocês forem fazer um patuá, lembra do ditado: “Quem não pode com mandinga, não carrega patuá!
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E sobre o que a gente vai conversar agora, Sofia?
Que tal a gente aproveitar esse episódio para tirar algumas dúvidas que o pessoal mandou para o Podcast?
Legal, vamos lá! Qual é a pergunta?
Quem mandou essa dúvida foi o Kairon, de Camboriú. Primeiramente, ele parabeniza pelo trabalho e diz que está maratonando todos os episódios. A dúvida que o Kairon mandou é a seguinte: Ele diz que já é fiho de uma casa e já tem até assentamento. Daí, ele quer saber como é que ele pode acelerar o desenvolvimento da mediunidade?
Excelente pergunta, Kairon! Antes de mais nada, obrigado pelo seu contato. Eu fico muito grato pelo seu elogio e feliz que você esteja gostando do podcast. Essa sua duvida deve ser a dúvida de muita gente também, viu Kairon! Quando a gente está nesse processo de desenvolvimento mediúnico, muitas vezes a gente quer ver resultado, né? Às vezes parece que não está indo… Será que eu estou fazendo alguma coisa errada? Ou será que eu estou deixando de fazr alguma coisa?
Bom, eu tenho uma boa e uma má notícia para te dar. Qual você quer ouvir primeiro? A notícia boa é que todos nós temos condições de desenvolver a nossa mediunidade. Para isso basta ter força de vontade, persistência e disciplina. Porque a mediunidade é inata do ser humano. Na maioria de nós, ela permanece em um estado latente.
E a notícia ruim é que infelizmente não existe uma receita pronta! Não dá para eu chegar para você e falar que você precisa fazer isso, isso e isso. Porque não é assim que funciona! Existem vários tipos de mediunidade e dentro de cada tipo, existem infinitas variações. Variações, que eu digo, é assim com relação ao grau de intensidade, ou ao grau de sensibilidade que você tem.
Mas assim, apesar de não haver uma receita de bolo para isso, porque, como eu disse, a mediunidade é diferente de pessoa para pessoa, existem determinados procedimentos que a gente faz que pode ajudar nesse “despertar mediúnico”, digamos assim… A primeira coisa que a gente tem que aprender a disciplinar é manter uma conexão mental regular com o plano espiritual. Quando eu digo “plano espiritual”, eu estou falando de você tentar se manter sintonizado com os seus guias (o máximo que você puder). Isso vai ajudar muito no processo de desenvolvimento mediúnico.
E na Umbanda, mais especificamente, que usa muito a mediunidade de incorporação, a gente costuma fazer determinados rituais, seja em casa ou seja no terreiro, para ir burilando essa nossa sensibilidade. Que tipo de rituais eu estou falando? De você fazer preces diariamente (principalmente quando acorda e quando vai dormir); de você fazer firmezas na sua casa, de você fazer oferendas… De você fazer os preceitos corretamente antes de ir para a gira, de você participar dos rituais de amaci… De você, de vez em quando, visitar pontos de força da natureza (praia, cachoeira, mata fechada, rios). Esses locais são excelentes para limpar o seu corpo astral.
O que mais que você pode fazer para ajudar no seu desenvolvimento mediúnico? Se você é uma pessoa muito agitada ou muito ansiosa, é essencial que você comece a praticar a meditação. E assim, não é só fazer meditação uma vez ou outra, quando dá na telha. A meditação tem que ser todos os dias, de preferência no mesmo horário. Se você estabelecer uma rotina e uma disciplina de horários, você vai dar a oportunidade para que os seus guias espirituais se planejem, do lado de lá, para estar ao seu lado, naquele horário, a fim de te ajudar nesse processo de aprimoramento mediúnico.
É, meu amigo, desenvolver a mediunidade dá trabalho! Como tudo que vale a pena nessa vida, né? Precisa do nosso esforço. Mas é um esforço que vale muito a pena. Desenvolvendo a mediunidade, a gente melhora como pessoa e também tem a oportunidade de ajudar gente necessitada.
E assim, o tempo de desenvolvimento mediúnico também varia muito de uma pessoa para outra. Tem gente que pisa no terreiro e daqui a um ou dois meses já está recebendo seus guias. E tem gente que demora anos até começar a ter as primeiras impressões do plano espiritual. Isso vai muito de cada um… Eu mesmo, fiquei quase dois anos participando das giras de desenvolvimento até começar a receber as primeiras entidades. Foi um processo longo, foi um processo demorado, mas o resultado é muito gratificante!
Então, Kairon, o que eu digo para as pessoas quando elas me questionam sobre esse assunto de desenvolver a mediunidade, é que precisa ter paciência. Quanto mais ansiosa a pessoa fica para desenvolver a mediunidade, mais demora para acontecer.
Eu conheci uma moça há um tempo atrás. Na verdade, já faz muito tempo isso… (nossa, como eu estou ficando velho). E eu lembro que essa moça era doente para desenvolver a mediunidade. Ela era obsecada nisso! Ela chegava no terreiro e ficava falando: “eu tenho que desenvolver a mediunidade. Eu preciso desenvolver a mediunidade”. O povo lá já não aguentava mais a mesma ladainha.
E daí, com o passar do tempo, ela foi meio que desanimando, sabe? Foi passando aquela euforia dela. A sorte é que ela não desistiu! Ela se manteve firme na ritualística, nos preceitos, nas rezas. Porque tem muita gente que, quando bate o desânimo, já desiste, né? Ela não, ela se manteve firme.
Daí, eu lembro que a gente estava em uma gira de desenvolvimento, e ela estava lá, na dela, quietinha no cantinho. E eu cheguei, cumprimentei e aí puxei um papo com ela e perguntei: “e aí, será que hoje a gente sente alguma coisa?”. Porque eu também estava naquele processo de desenvolvimento, né?
Daí, ela virou para mim e falou assim: “Ah, eu já desencanei de ficar esperando por alguma coisa. Eu sei que não vai vim nada mesmo…”. Rapaz!!! Naquele dia, ela incorporou com uma força, que eu assustei! E a Entidade veio, e trabalhou nela e girou… E quando ela desincorpou, daí ela desembestou a chorar de alegira e de emoção. Foi lindo de ver!
E essa moça, a Letícia. Eu não esqueço dela. Sem querer, ela foi uma das melhores professoras que eu tive. Não assim, de me orientar, porque eu e ela, a gente estava mais ou menos no mesmo nível de aprendizado. Mas daí eu comecei a refletir sobre a mudança de atitude que ela precisou ter para desempacar daquela situação e abrir os canais mediúnicos.
Bom gente, já falei demais. A Sofia está quase dormindo aqui do meu lado. Espero que vocês tenham gostado do episódio. E eu agradeço a companhia, agradeço a atenção que vocês estão dando ao podcast. E agradeço a você, Kairon, pela mensagem carinhosa e também por ter enviado a sua dúvida para o nosso podcast. E é isso, gente.
Sofia, você quer finalizar falando alguma coisa?
Sim, eu quero! E eu não estava dormindo, não! Eu estava fazendo as minhas anotações aqui para não esquecer. Então, nesse episódio, a gente falou sobre o Povo Mandinga e as origens do patuá no Brasil. E também tivemos a oportunidade de conversar um pouquinho mais sobre desenvolvimento mediúnico. E se você gostou desse episódio, não deixe de acompanhar o nosso podcast nas principais plataformas de áudio. Você pode ouvir o Alma de Poeta no Spotify, no Deezer, no Amazon Music, no Google e no Apple Podcast. E também acessando o nosso site: almadepoeta.com.br. Um grande abraço a todos! Fiquem com Deus e até o nosso próximo episódio!