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Firmezas e Assentamentos – Parte 2

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Dando continuidade ao episódio anterior, hoje a gente vai conversar sobre assentamentos. Você sabe qual é a função de um assentamento no terreiro de Umbanda? Quais são os tipos de assentamentos que existem? Nesse episódio nós conversaremos um pouco sobre esse assunto.

Transcrição do Episódio

Oi, pessoal! Bom dia, boa tarde, boa noite! Tudo bem com vocês? Estamos aqui iniciando mais um episódio do Podcast Alma de Poeta e hoje a gente vai dar continuidade àquele assunto que nós iniciamos na semana passada. Na semana passada a gente falou sobre a diferença entre Orixás, Enviados e Entidades. A gente falou também sobre a diferença entre força e poder. E nós conversamos também sobre firmezas. No episódio de hoje a gente vai falar sobre assentamentos. Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e nesse podcast, como vocês sabem, a gente fala sobre Umbanda, Espiritualidade, Mediunidade e poesias de Pai Antônio.

Só a título de curiosidade, o assentamento também é um elemento ritualístico que foi trazido do Candomblé. Porque a Umbanda, na sua origem, não fazia assentamentos. A Umbanda fazia apenas firmezas e consagração de imagens. Com o tempo, os terreiros foram incorporando esses rituais característicos do Candomblé. Então, o assentamento veio do Candomblé, assim como também o uso dos atabaques. Porque eu não sei se vocês sabem, mas no início da Umbanda, não se tocavam atabaques. Eram apenas cantos.

Na Tenda da Nossa Senhora da Piedade, que foi o primeiro terreiro fundado pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas, as pessoas não batiam nem palmas. O que tinha era apenas pontos cantados e firmezas. Daí, com o tempo e com a disseminação da Umbanda pelas diversas regiões do país, os terreiros foram incorporando ritualísticas de outras religiões. Daí começou a ter atabaque, começaram a ter imagens de Orixás (porque antes eram apenas imagens de santos católicos que haviam no altar). Hoje, não! Hoje você vai num terreiro e você vai ver a imagem africana de Xangô, de Iansã, de Iemanjá, muitas vezes sem fazer referência a qualquer sincretismo religioso.

Lógico que isso varia de casa para casa, né? Tem casa que coloca a imagem de Ogum e tem casa que prefere seguir a tradição, colocando a imagem de São Jorge Guerreiro. Tem umbandista que fala que hoje em dia não haveria mais a necessidade de se colocar imagens de santos católicos no altar, uma vez que Umbanda é Umbanda, Catolicismo é Catolicismo. Tem outros umbandistas que preferem continuar colocando imagens de santos católicos, simplesmente por amor à tradição. Eles falam que a Umbanda é feita de tradições e isso é uma maneira de demonstrar respeito. Quem está certa, quem está errada? Vocês já devem saber a minha opinião, né? Os dois estão certos!

Nossa, Evandro! Que falta de personalidade! Você sempre fica assim em cima do muro? Fico! Eu gosto de ficar em cima do muro porque eu consigo olhar para os dois lados! E isso não é falta de personalidade, isso é a minha maneira de enxergar! Eu tenho essa visão mais universalista da Umbanda, fazer o quê?

Mas voltando para o assunto. Com relação a esses elementos do Candomblé que foram incorporados pela Umbanda, não são todas as casas que praticam. Eu mesmo já trabalhei numa casa que não tinha atabaque, que não fazia assentamentos, nada disso. Nem por isso deixava de ser Umbanda. Tem casa, por exemplo, que não faz o ritual da quartinha. E, por outro lado, tem casas que preferem que seus médiuns cuidem da quartinha. A gente vai falar sobre quartinhas mais pra frente, não se preocupem.

Mas vamos começar a falar sobre o assentamento em si, que é o assunto de hoje. Então eu disse no episódio anterior que nos terreiros a gente faz firmezas e assentamentos, certo? O assentamento, como o próprio nome diz, é o Poder do Orixá assentado naquele lugar (Lembra que eu disse? O poder está relacionado ao Orixá e força está relacionada à Entidade). Então, o assentamento é o poder plantado, é o Poder do Orixá enraizado na casa.

E o assentamento é literalmente plantado, mesmo, porque a gente costuma enterrar o assentamento. E quando a casa não enterra, deixa ele bem escondido, longe de olhares curiosos. Lembra que eu falei que a firmeza é transitória, mas o assentamento é permanente? É necessário que assim seja, porque quando a firmeza acaba, quando a firmeza se esgota, é o assentamento que continua sustentando. É o assentamento que continua ali vivo, atuante, produzindo energia constantemente.

É por esse motivo que os assentamentos são tão importantes em um terreiro de Umbanda. Por exemplo, se você fizer uma firmeza no seu terreiro com velas e por algum motivo essas velas se apagarem, o trabalho não vai ficar prejudicado, justamente porque tem o assentamento. O assentamento é o no-break que vai sustentar o trabalho, se por algum motivo a energia da firmeza faltar. De uma certa maneira, os dois acabam se complementando. Só que o assentamento é a estrutura que dá sustentação espiritual ao trabalho, o assentamento é a base de tudo!

Vocês entendem por que que eu disse, no episódio anterior, que o assentamento costuma ser feito apenas em terreiros? Porque o terreiro é a casa que vai receber pessoas que estão precisando de ajuda espiritual. E quase sempre os terreiros costumam sofrer ataques do baixo astral, por conta desse trabalho de caridade que é feito e que muitas vezes acaba incomodando os kiumbas. Por isso que o terreiro precisa ter uma energia fortalecida. E esse fortalecimento se dá através do assentamento.

Dentro de um terreiro, normalmente, costuma ter no mínimo dois assentamentos: um é o assentamento do congá (do altar) e o outro é o assentamento da tronqueira (o assentamento da esquerda). E vocês sabem de onde surgiu esse nome “tronqueira”? A palavra tronqueira vem de tronco. Porque muito antigamente, as pessoas colocavam troncos de árvores na entrada das fazendas, quando eles não tinham condições de colocar porteiras. A tronqueira é que fazia o papel da porteira. A tronqueira é que bloqueava a entrada das pessoas.

E esse conceito foi trazido para o terreiro de Umbanda. A tronqueira é um ponto de força onde as entidades da esquerda bloqueiam a entrada de espíritos maldosos, digamos assim. É na tronqueira que os Exús e Pombajiras filtram os espíritos que podem e que não podem entrar no terreiro.

E o assentamento do Congá? Esse assentamento geralmente é feito embaixo do altar ou próximo a ele. Porque o assentamento do Congá é aquele ponto de força que vai receber o a energia do Orixá e vai espalhar ela pelo ambiente. E o assentamento do Congá geralmente é feito para o Orixá de frente do dirigente encarnado. Porque é ele que vai receber porrada. É ele que vai receber o baque! Quando espíritos trevosos tentam derrubar um terreiro, a primeira pessoa que eles miram é no dirigente da casa. Porque eles sabem que, caindo o dirigente, cai também o trabalho. É por isso que o dirigente tem uma responsabilidade muito maior do que os outros trabalhadores de manter a sua firmeza para conduzir os trabalhos espirituais.

Então, se o dirigente tem Ogum como Orixá de frente, o assentamento tem que ser para Ogum. Se ele tem Xangô, o assentamento vai ser para Xangô. E assim por diante… E o assentamento da tronqueira, geralmente é feito para o Orixá Exú, que é o Orixá que sustenta a linha do povo da esquerda. Só que, além do assentamento, na tronqueira a gente também faz a firmeza para os guardiões que acompanham o dirigente, pelos mesmo motivos que eu já falei, né? Porque ele é a pessoa que está na mira dos kiumbas.

E como eu disse no outro episódio, o assentamento é feito com elementos da natureza que irradiam o Poder do Orixá e também que irradiam a força da Entidade espiritual chefe da casa. Normalmente é o guia chefe que indica como vai ser feito esse assentamento e quais elementos vão ser necessários. E quando a gente monta um terreiro, a primeira coisa que se faz é o assentamento, porque o assentamento é a base de tudo!

E não tem esse negócio de pedir para outra pessoa fazer o assentamento do seu terreiro. Muita gente quer montar um terreiro, mas não sabe fazer um assentamento e pede para outra pessoa fazer isso. Totalmente errado! É o próprio Pai de Santo que precisa se incumbir dessa tarefa! Afinal de contas, é a energia dele que vai ser depositada ali. E como eu disse, o correto é que o guia espiritual do dirigente diga como esse assentamento deve ser feito.

Às vezes, o dirigente que vai abrir um terreiro sente uma certa insegurança na hora de fazer os assentamentos, né? Será que eu estou fazendo certo? Será que é isso mesmo? Precisa confiar no que a Entidade está passando. Agora, se a Entidade ainda não passou nada, talvez seja porque ainda não é o momento certo de se abrir o terreiro. Mas, de uma maneira geral, o guia-chefe que vai conduzir aquele trabalho sempre passa os fundamentos corretos para se fazer o assentamento.

Lembrando, pessoal, que os assentamentos na Umbanda são muito mais simples do que os assentamentos que são feitos no Candomblé. Porque a Umbanda é isso, né? A Umbanda é simplicidade em todos os aspectos. Não queiram complicar muito na hora de fazer um assentamento, porque mais vale um assentamento simples , mas que seja eficiente, do que um assentamento complexo, feito com materiais caros e muitas vezes com a participação de outras pessoas estranhas ao terreiro.

Tem um ditado na Umbanda que fala assim: “ninguém consegue assentar do lado de fora o que já não estiver assentado do lado de dentro”. Para o dirigente espiritual fazer um assentamento em um terreiro, ele já precisa estar com aquele assentamento consolidado dentro do seu espírito. Ele já precisa ter a energia do Orixá assentada na sua coroa. Ele já precisa estar vivenciando no seu dia-a-dia os valores que aquele Orixá carrega.

Porque o Templo religioso nada mais é do que uma exteriorização daquilo que está dentro do dirigente espiritual. Afinal de contas, o dirigente vai receber pessoas no seu terreiro. E receber pessoas no terreiro é a mesma coisa que receber pessoas no coração. É isso que separa um bom dirigente de um mal dirigente. A aplicação no dia-a-dia dos ensinamentos que ele recebe da espiritualidade e dos conceitos que ele aprende com a Umbanda.

Para o Pai de Santo fazer um assentamento, ele não precisa ter muitos elementos, mas ele precisa ter muito sentimento. Porque é o sentimento dele que vai movimentar o axé da casa. E o assentamento precisa ser construído com muito amor. O dirigente precisa colocar verdade naquilo que ele está fazendo.

Eu não vou passar aqui para vocês o passo-a-passo de como se faz um assentamento, porque esse procedimento é muito particular de casa. E a não ser que você se torne um dirigente espiritual, você nunca vai precisar fazer um assentamento na sua vida. O que você precisa saber, como Umbandista, é o fundamento, é razão do por que um terreiro precisa de assentamento.

Mas assim, um elemento que é muito utilizado nos assentamentos é o Otá. Para quem não sabe, Otá significa pedra em Iorubá. Então a pessoa busca uma pedra no ponto de força da Natureza, de preferência um ponto de força que corresponde ao Orixá que vai ser assentado. Ou então, se a pessoa quiser, ela pode usar um cristal também, que é muito utilizado para fazer assentamentos. E ela vai fazer todo um procedimento de limpeza energética e consagração desse elemento. Isso demanda tempo, isso demanda dedicação. Porque tem assentamento que demora até 7 dias para ser preparado.

Eu costumo dizer o seguinte: se o assentamento é a base do terreiro, o Otá é a base do assentamento. Talvez o Otá seja a peça mais importante que existe dentro de um assentamento. Porque aquela pedra vai se transformar em um vórtice energético que vai captar a energia da natureza onde o Otá foi consagrado e vai trazer essa energia para dentro do terreiro, para sustentar o trabalho. O único propósito do assentamento é esse, né? Dar sustentação energética a um trabalho que vai acontecer.

E no assentamento da tronqueira? Normalmente a base de sustentação do assentamento de esquerda é a terra! Porque Exú trabalha muito com a energia telúrica. Lógico que daí vão ter outros elementos também, né? Na tronqueira costuma ter tridente, punhal, pregos… Todos elementos de defesa, mas esses elementos funcionando apenas como complemento para a base, que é a terra.

Lembrando que o assentamento, normalmente é alimentado de sete em sete dias, para que ele permaneça com a sua eficiência. Então, dependendo da sua casa, você vai alimentar o seu assentamento com água, com velas, com marafo, renovando elementos que são colocados junto com assentamento. É isso que vai fazer com que o poder do assentamento se mantenha.

Lembra que eu comentei da Tenda Nossa Senhora da Piedade que não tem assentamento? Lá eles preferem fazer uma firmeza coletiva para o Anjo da Guarda. Então fica acesa, debaixo do altar, em cima de uma estela de cinco pontas, uma vela de 7 dias que é renovada sempre que necessário. E lá também não tem tronqueira, né? Eles não trabalham com isso.

Em compensação, a Tenda foi construída do lado de uma cachoeira! Aí vocês imaginam a energia que não deve correr na casa, né? Só que olha só que interessante: a casa não tem assentamento e não tem tronqueira. Por esse motivo, os médiuns riscam pontos e fazem firmezas antes de começar cada trabalho. Então, o médium vai lá, risca o ponto no chão com a pemba, acende uma vela em cima, coloca um copo d’água do lado, coloca também uma flor, firma um ponteiro (para quem não sabe, ponteiro é um tipo de punhal). E eles fazem tudo isso a cada trabalho!

Então, percebam que lá não tem assentamento, mas em compensação, cada vez que vai abrir uma gira, tem que fazer todo esse procedimento de riscagem de ponto e firmeza. Agora, o terreiro que tem assentamento, não precisa fazer toda essa preparação, porque o assentamento já supre a necessidade de riscar o ponto. E a tronqueira já supre a necessidade de firmar o ponteiro.

Então, era mais ou menos isso que eu queria falar para vocês sobre assentamento. É uma peça fundamental, importantíssima para sustentar um terreiro de Umbanda. Agora, mudando um pouco de assunto, eu quero compartilhar com vocês a mensagem que eu recebi de um irmão de fé, ouvinte do nosso podcast que mandou um áudio contando a sua experiência na Umbanda.

Essa mensagem foi gravada pelo Antônio Kennedy, de Manaus. Inclusive ele já tinha entrado em contato com a gente anteriormente passando umas sugestões legais e agora eu tive a gratidão e ouvir a mensagem de áudio que gravou. Eu estou publicando o áudio dele aqui, gente, mas ele me deu a permissão para isso, tá? Senão vai ter um monte de gente pensando que se mandar áudio pra mim, eu publico. Não é assim não, está bom? Podem ficar tranquilos! Primeiro eu peço para a pessoa se eu posso incluir o áudio dela no episódio.

Mas conta para a gente aí, Antônio, como é que se deu essa sua caminhada aí pela Umbanda?

[Mensagem de Antônio Kennedy]

Eu que agradeço a você, meu irmão, pela sua disponibilidade de tempo, pela sua boa vontade em contribuir, compartilhando a sua experiência com a gente. E eu tenho certeza que, assim como eu me identifiquei, muitas pessoas que estão ouvindo esse podcast também se identificam com a sua história. Espero que o nosso Pai Oxalá te abençoe cada vez mais nessa caminhada linda que você está fazendo na Umbanda. Muito obrigado por participar do nosso podcast.

E assim a gente chega ao final de mais um episódio. Espero que vocês tenham gostado. Espero que as informações que eu tento passar aqui para vocês sejam proveitosas, que sejam esclarecedoras. E eu digo e repito, não fiquem com dúvidas, porque tudo na Umbanda tem fundamento. Se vocês não sabem o motivo pelo qual é praticado determinado ritual, perguntem! Perguntem para o seu Pai de Santo, para a sua Mãe de Santo, perguntem para os seus irmãos de fé. Essa busca pelo conhecimento é muito importante para o crescimento espiritual de todos nós.

E se vocês tiverem alguma dúvida, algum comentário, alguma sugestão, entrem em contato com a gente. É só entrar lá no site “almadepoeta.com.br” e mandar uma mensagem para mim. Lembrando que o Alma de Poeta também está disponível para vocês ouvirem no Spotify, no Deezer, no Amazon Music, Apple Podcast, Google Podcast e em várias outras plataformas de áudio. Você pode ouvir os episódios no seu aplicativo preferido.

Um grande abraço para vocês, fiquem com Deus. Que o nosso Pai Olorum os abençoe e até o nosso próximo encontro!

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