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Diversas Umbandas dentro da UMBANDA

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Um dia alguém me perguntou: Qual vertente da Umbanda você pratica? Aquele questionamento me pegou de surpresa. Será que existe tanta diferença assim entre um ritual e outro? Será que a Umbanda é única ou existem várias umbandas diferentes?

Transcrição do Episódio

E aí, gente, bom dia, boa tarde, boa noite! A gente segue aqui na nossa caminhada falando sobre Umbanda, Espiritualidade e Mediunidade. Esses dias eu estava pensando como a gente vive numa época privilegiada. Porque hoje em dia, nós temos a informação muito acessível, não é mesmo? Basta abrir o seu notebook ou acessar o seu celular e você vai ter disponível uma infinidade de conteúdo para estudar, para aprender.

E isso acontece em todas as áreas de conhecimento. Basta ter curiosidade, interesse e um pouquinho de proatividade para buscar a informação. Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e hoje a gente vai conversar sobre algumas correntes filosóficas que existem dentro da Umbanda.

Algumas décadas atrás, por exemplo, você só conseguiria aprender sobre Umbanda se frequentasse um terreiro. E mesmo assim, você só aprenderia a tradição daquele terreiro que você estivesse frequentando. Hoje não! Hoje, o leque de opções para você adquirir conhecimento é muito grande. Você vai ouvir opiniões diferentes sobre um mesmo assunto, conceitos diferentes, pontos de vista muitas vezes controvertidos.

E isso é muito bom, isso é ótimo para despertar a nossa consciência. Nós não podemos nos limitar a uma visão bitolada. Nós temos que estar aberto a pelos menos dar a oportunidade de o ensinamento chegar até nós. Só assim nós poderemos fazer um juízo de valor se aquilo que nós estamos estudando faz algum sentido para gente ou não.

Quando as pessoas me perguntam sobre Umbanda, por exemplo, eu tento passar para elas a visão mais abrangente que eu conseguido da religião. E a Umbanda não é uma religião estratificada, rígida nos seus conceitos.

A Umbanda é muito dinâmica. E essa característica faz com que haja muitas vertentes, muitas correntes filosóficas, muitas maneiras diferentes de se praticar a Umbanda. E todas elas estão certas, todas elas servem de elo para que nós possamos nos conectar com mentes desencarnadas que estão em um patamar superior ao nosso.

Se você já estudou um pouquinho de Umbanda, você já percebeu que, num primeiro momento, pode parecer uma bagunça! Cada dirigente fala uma coisa, cada casa tem um entendimento próprio. Mas a Umbanda foi projetada justamente para ter essa diversidade.

Como assim, Evandro? Isso não é ruim? Não seria melhor se a gente tivesse uma uniformidade de pensamento? Não seria melhor se tivesse uma compilação do conhecimento umbandista? Não seria melhor se houvesse uma padronização nos rituais para que todo mundo começasse a falar a mesma língua?

Olha, eu digo para vocês que ninguém conseguiu fazer isso até hoje. E muito provavelmente ninguém vai conseguir unificar a Umbanda. Porque a Umbanda, ela veio justamente para alcançar a maior diversidade possível de pessoas.

Você concorda comigo que cada um de nós estamos em um grau evolutivo diferente? Cada um de nós possui uma compreensão da espiritualidade muito própria? E a Umbanda respeita isso. Ela nunca vai tentar impor para você um entendimento que não seja compatível com o seu grau de compreensão.

E para que isso aconteça, para que haja essa diversidade, é importante que a prática da Umbanda continue sendo livre. Assim, você vai ter a oportunidade de encontrar aquela Umbanda que realmente fale ao seu coração. E tem mais! A Umbanda não exige que você se torne umbandista.

Ela não se importa com a sua crença, com a sua fé. Porque o objetivo da Umbanda não é converter ninguém. Eu conheço muita gente que frequenta terreiro de umbanda e pratica outra religião. São católicos, evangélicos, budistas, candomblecistas. As pessoas vão lá para tomar um axé, para conversar com as entidades. E está tudo bem! Elas não vão ser cobradas pelo dirigente, pelo fato de não abandonarem a sua fé original.

Nenhum dirigente vai chegar para o consulente e vai falar assim: “olha, eu estou vendo que você já está vindo aqui no terreiro há vários meses, e que você é de outra religião. Então você tem que se decidir, se quiser continuar frequentando a nossa casa. Você vai ter que escolher entre a sua religião e a minha”. Isso não existe. Isso não faz parte do espírito acolhedor da Umbanda.

Enquanto eu conversava sobre esse assunto com vocês, eu não sei por que estava vindo na minha cabeça o Hino da Umbanda. Eu acho tão linda essa canção! A melodia, a letra… Ela me traz assim um sentimento de união, sabe? A necessidade de nós nos esforçarmos em prol de um objetivo maior.

“Refletiu a luz divina, em todo seu esplendor. Vem do reino de Oxalá, onde há paz e amor. Luz que refletiu na Terra, Luz que refletiu no mar. Luz que veio de Aruanda para tudo iluminar”. Não são bonitos esses versos? Quer saber? Eu vou colocar aqui o Hino da Umbanda para tocar! Assim, se você não conhece ainda o hino da umbanda, vai conhecer!

Não é bonito esse hino? Eu sempre me emociono quando as pessoas cantam o hino da umbanda antes das giras, em ocasiões especiais. Agora que eu ouvi o hino da umbanda, eu já estou satisfeito. A gente pode voltar ao assunto do nosso episódio.

Sabe, quando as pessoas dizem que a Umbanda é uma só, eu concordo! Existe uma força superior que une essa diversidade toda! Mas eu sou da opinião que cada um tem um jeito muito particular de enxergar essa unicidade. Eu não sei se eu estou conseguindo me fazer entender.

Existem alguns princípios norteadores da Umbanda que se irradiam para todas as vertentes. O respeito ao próximo e às suas crenças, o amor pela natureza e por todas as formas de vida, a crença no mundo espiritual, na reencarnação, nas leis de causa e efeito, na justiça divina.

A consciência de que nós vivemos em um emaranhado energético que pode ser manipulado através da nossa vontade, o lado magístico da nossa religião. A crença nos Orixás como forças de Deus, a crença na comunicação de inteligências desencarnadas com o mundo espiritual. Tudo isso faz parte dos princípios que regem a Umbanda em todas as suas vertentes.

E o fato de existirem várias umbandas dentro da Umbanda não vai fazer com que essa religião perca credibilidade. Muito pelo contrário, isso é um fator enriquecedor. A diversidade tem o condão de acrescentar, de agregar. Tem algumas pessoas que tentam impor o seu ponto de vista de entender a Umbanda.

Para essas pessoas, eu costumo dizer o seguinte: a Umbanda é como se fosse um animal selvagem. Se você tenta capturar, ela foge. A Umbanda não aceita ser domesticada, porque ela é livre. A Umbanda permite que você tenha a sua própria visão. Porque dentro da filosofia umbandista, é essa liberdade de crença que vai te proporcionar um crescimento espiritual.

Percebam que, mesmo se você tiver um entendimento muito sólido da umbanda, sobre o que são Orixás, quais são os Orixás que regem o nosso mundo, sobre o método de trabalho de cada falange espiritual, o máximo que vai acontecer é você criar uma vertente da Umbanda, que só vai acrescentar a tudo que já existe.

Hoje em dia, por exemplo, nós temos algumas correntes filosóficas dentro da Umbanda já bastante conceituadas, já bastante difundidas. Vocês vão encontrar, por exemplo, a Umbanda tradicional, também chamada de Umbanda pura ou umbanda espírita, que foi inaugurada por Zélio Fernandino de Moraes.

Vocês vão encontrar a Umbanda Esotérica, de Matta e Silva. Vocês vão encontrar a Umbanda Sagrada, de Rubens Saraceni. Vocês vão encontrar a Umbanda traçada, umbanda mista, Umbandomblé, que as pessoas falam, o Omolocô, a Umbanda Iniciática de Rivas Neto. Percebam que existe uma grande variedade de Umbandas dentro da Umbanda. Daí vocês podem me perguntar: qual dessas Umbandas é a verdadeira? Todas!

Cada uma trazendo o seu ponto de vista e tendo como função principal te conectar com as forças divinas. Qual dessas Umbandas é a melhor? Está bom, eu vou dizer para você: a melhor Umbanda é aquela que você escolhe. Independente de qual seja a corrente filosófica. Se você escolheu determinada vertente, é porque essa te toca mais fundo no coração. Não existe umbanda certa e umbanda errada. Existe apenas Umbanda.

O meu conselho é que você estude todas as vertentes. Faça um comparativo entre uma e outra. Não para criticar e falar que isso está certo ou está errado, mas para identificar aquela que fala mais fundo na tua alma.

Se você pegar a Umbanda Esotérica, por exemplo, ela não vai falar que tudo começou com Zélio Fernandino de Moraes. Essa vertente fala que a Umbanda é muito mais antiga do que a gente imagina. Que ela vem de épocas que já se perderam no tempo. Épocas pré-diluvianas, pré-adâmicas, que a Umbanda já existia em continentes perdidos da Lemúria e da Atlântida.

Inclusive eles falam que o termo Umbanda vem do idioma sânscrito, originalmente conhecido como Aumbandã, que seria algo como o conjunto das leis divinas. A Umbanda Esotérica tem uma visão particular até dos Orixás. Matta e Silva dizia que existem 7 orixás: Na visão da Umbanda Esotérica, existe Orixalá, Ogum, Oxóssi, Xangô, Yorimá, Yori e Iemanjá.

Percebam que dois desses Orixás são característicos dessa vertente religiosa. Você não vai ouvir falar de Yori nem de Yorimá em nenhuma outra corrente filosófica, além da Umbanda Esotérica. Segundo essa corrente, Yorimá estaria relacionado à linha dos pretos-velhos, enquanto Yori estaria relacionado à linha das crianças.

Já a Umbanda de Pai Ronaldo Linares entende que existiram 10 Orixás. E ele coloca uma certa hierarquia entre esses Orixás. Na concepção de Pai Ronaldo, Oxalá estaria acima de todos, enquanto que Obaluaê estaria abaixo de todos. E no meio desses dois, a gente encontraria Xangô, Oxum, Iemanjá, Oxóssi, Iansã, Ibeji, Nanã e Ogum.

Já na Umbanda Sagrada, que é a vertente idealizada por Rubens Saraceni, a Umbanda não teria nem 7, nem 10 Orixás. Ela teria 14. Catorze Orixás divididos em 7 tronos. Então, segundo Rubens Saraceni, haveria o trono da fé, composto por Oxalá e Logunan; o trono do amor, composto por oxum e Oxumaré; o trono do conhecimento, composto por Oxóssi e Obá, o trono da justiça, composto por Xangô e Iansã, o trono da Lei, compostos por Ogum e Oroiná, o trono da evolução, composto por Obaluaê e nanã e o trono da geração, composto por Iemanjá e Omulú.

E na visão da Umbanda Sagrada, por que haveriam 2 orixás em cada trono? Um seria responsável pela irradiação das forças daquele trono, que eles chamam de orixá universal. E o outro seria responsável pela absorção dos excessos, que eles chamam de Orixá Cósmico.

Inclusive, tem uma música linda da Umbanda Sagrada que fala desses 14 Orixás. Se você é Umbandista, provavelmente você já ouviu esse ponto em algum lugar. Se você não é umbadista, olha só que lindo esse ponto de louvação aos Orixás.

O que que vocês acham desse ponto cantado? Não é bonito? Quando amor, quanta devoção, quanta inspiração da pessoa que compôs essa canção!

Então, pessoal, Só para finalizar aqui o bate-papo de hoje, porque já vai dar o nosso tempo. Vocês percebem a diferença de entendimento que existe entre uma vertente e outra? Mas nem por isso, elas deixam de ser Umbanda.

Por exemplo, quando a gente fala de Orixás, todas elas têm um ponto em comum: o culto a essas forças que nós ainda não entendemos muito bem o que é, cada uma interpretando de uma maneira peculiar, mas todas concordando que são forças divinas, são poderes emanados do Criador!

Se a nossa conversa de hoje fez você ficar mais confuso ou confusa com relação a essa religião, então você está no caminho certo. Esse é primeiro passo para você entender a grandiosidade da Umbanda. Através dessa diversidade de entendimentos, a espiritualidade tenta abraçar o maior número possível de pessoas, respeitando o grau evolutivo de cada uma.

Com o tempo, você vai começar a se identificar com determinada corrente filosófica, e, ao mesmo tempo, vai ter a consciência de que esse é apenas um entendimento seu. Quando nós entendemos o que a Umbanda nos oferece, isso só vem fortalecer ainda mais a nossa fé.

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