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Vingança – A História de Uma Pombajira

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Ilustração: Ramira Yuri Ribeiro. Neste episódio, você vai ouvir um testemunho de dor e sofrimento de uma Entidade espiritual que hoje atua como Pombajira, trabalhando na linha da esquerda da Umbanda.

Transcrição do Episódio

Olá, Povo da Umbanda! Praticantes, simpatizantes e curiosos da nossa religião. Sejam muito bem-vindos a mais episódio do nosso podcast Alma de Poeta. Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e nesse podcast a gente fala sobre Umbanda, Espiritualidade, Mediunidade e, também, sobre as poesias do Pai Antônio.

E por falar em poesias, já faz um bom tempo que eu não coloco nenhuma poesia psicografada do Pai Antônio aqui, não é mesmo? Eu acabo falando muito de outros assuntos e esqueço de colocar os ensinamentos do bom velhinho. Bom, para não perder o hábito, eu vou recitar uma poesia hoje, recebida do plano espiritual, que fala sobre a vingança. Se vocês têm a sensibilidade fraca, eu peço que não ouçam essa história, porque é uma poesia forte, uma experiência difícil que nos foi relatada.

Só para vocês entenderem melhor, essa poesia que eu vou recitar conta uma das vidas de uma Entidade que hoje trabalha na Umbanda, na linha da esquerda. Como de costume, a Entidade contou a história dela para o Pai Antônio, e o Pai Antônio, na habilidade que ele tem com as palavras, transformou essa história em versos. Mais uma vez eu deixo aqui a advertência que é uma poesia forte e triste, mas que nos traz muitos ensinamentos, se a gente souber interpretar. Vamos ouvir o que aconteceu?

Eu vim de uma família humilde,
nasci em uma casa de barro.
Meu pai era um homem rude,
minha mãe, mulher de Navarro.

Quando pequena, eu mendigava,
pedindo dinheiro na estrada.
Pelas mulheres era xingada
e pelos homens cobiçada.

Alguns deles faziam propostas
de uma sordidez absurda
que eu não encontrava resposta
preferindo fingir-me de surda.

Tinha apenas onze anos de idade,
mas no mundo já era vivida.
Enganava as pessoas na cidade
roubando as barracas de comida.

Mas um dia, finalmente fui pega
ao furtar um pedaço de pão.
Naquela hora, eu tive a certeza
que sofreria grande punição.

Fui levada a uma casa deserta
por uns homens bem truculentos.
Empurraram-me pela porta aberta,
dando-me chutes e xingamentos.

Em seguida, entraram na casa
e trancaram a porta por dentro.
O meu rosto queimava em brasa
por causa do espancamento.

No pequeno cômodo empoeirado
caí no chão e comecei a chorar,
vendo aqueles homens malvados
com um brilho estranho no olhar.

Um deles puxou-me os cabelos
e a sua força me fez gritar.
Afastaram os meus tornozelos,
puxando a roupa até rasgar.

A cada vez que eu resistia,
um murro agredia o meu rosto
e minha consciência se perdia
em meio a um enorme desgosto.

Esgotaram-se as minhas forças
e finalmente parei de lutar.
Desaparecia a menina-moça,
com a sua pureza a sangrar.

Aqueles homens, um após o outro,
em cima de mim se revezaram,
deixando sobre o meu corpo
a libido que extravasavam.

Ao saciarem as suas volúpias,
deixaram-me lá, semiacordada,
afogada no meu próprio sangue
e com várias costelas quebradas.

Antes dos homens saírem,
um deles falou com desdém:
"Deixe morrer essa ordinária,
não vai fazer falta a ninguém!"

Foram embora e eu desencarnei,
em meio a um atroz sofrimento.
Iniciou-se assim o meu ódio
por aqueles cinco elementos.

Já vivendo no mundo espiritual,
permanecia muito angustiada,
lembrando-me sempre do mal
de ter sido tão violentada!

Chorava desesperadamente,
cobrindo as minhas vergonhas,
ao lembrar do momento indecente,
revivendo uma dor tamanha.

Até que as trevas me seduziram
com os pensamentos de vingança.
Pelo sofrimento que me infligiram,
eu planejei terrível cobrança.

Cultivei meu ódio pacientemente,
esperando o desencarne de cada um,
para poder torturá-los, inclemente,
sem mostrar arrependimento nenhum.

Que horrível vingança foi aquela
que eu derramei nos homens odiados,
causando-lhes horríveis sequelas,
deixando seus espíritos deformados.

Com uma faca suja e enferrujada,
eu arrancava suas partes mais íntimas
para que fossem novamente costuradas,
no prazer de torturar minhas vítimas.

Os homens que um dia me violentaram
padeceram no mais terrível sacrifício,
pagando pelo mal que praticaram,
vivenciaram o maior dos suplícios.

Mas um dia, a vingança chegou ao fim,
pois os cinco tinham se arrependido.
Com tristeza eles olhavam para mim,
exibindo seus corações doloridos.

Pediram com sinceridade ao Pai Criador
para reparar todo o mal praticado.
Então, no céu, um clarão se formou
e os cinco homens foram resgatados.

Mas eu continuei lá, sozinha,
sem entender o que havia acontecido.
Eu gritava: "Essa vingança é minha!
Saiam daqui, seus intrometidos!"

Amaldiçoei os enviados da luz
vomitando avalanches de impropérios.
Mas em nenhum momento, eu me dispuz
a reavaliar meus deturpados critérios.

Após muito sofrer na escuridão,
comecei a esgotar minha revolta.
E desabrochou em mim a compaixão
pelas almas sofridas em minha volta.

Deixando de lado a minha frieza,
desapareceu o ódio no meu coração,
mas ainda permanecia a incerteza
de não saber o que fazer, desde então.

E naquele dia, eu chorei convulsivamente,
envergonhada daquela minha vingança.
Ao perceber que minha alma era doente,
eu clamei por misericórdia e esperança.

O Amor do Pai não desampara
aos filhos que buscam a regeneração.
E a escuridão se torna bem mais clara
quando a dor se transforma em perdão.

Finalmente, pela Luz fui acolhida,
na bondade que o Criador nos inspira.
Em carinhosos abraços, fui recebida
por radiantes e formosas bombojiras.

Eu tive que reparar todos os erros
em nova existência de dor e perda.
Mas hoje eu trabalho com muito zelo,
como pombajira na linha da esquerda.

Após intenso preparo espiritual,
estudando muito a Umbanda Sagrada,
hoje eu ajudo a desmanchar o mal,
protegendo os indefesos na estrada.

Que história, né gente? Que poesia forte! Que poesia triste! E eu sou grato pela humildade que essa entidade teve de contar a sua experiência. Quantos de nós aqui na Terra não fazemos ideia de que nossas atitudes surtem efeitos positivos ou negativos na vida de outras pessoas. Quantas atitudes inconsequentes nós já fizemos nessa vida, algumas das quais nós já nos arrependemos, outras que nós não temos a mínima ideia de que veremos a consequência depois de desencarnarmos.

Eu não sei quanto a vocês, mas essa poesia me fez refletir muito de como as nossas atitudes aqui na Terra surtem efeitos no pós vida, naquilo que nós vamos encontrar no plano espiritual. Na história que a gente acabou de ouvir, 5 homens, inconsequentemente, violentaram e mataram uma menina de onze anos, sem ter a mínima consciência de que esse espírito revoltado seria o algoz deles na vida que se segue após a morte do corpo físico.

Eu lembro que eu fiquei tão impressionado com essa poesia que eu comecei a fazer perguntas para o Pai Antônio. Como assim, Pai Antônio? Como que uma menininha de onze anos teria força para subjugar o espírito de 5 homens? O Pai Antônio então, pacientemente, começou a me explicar como funcionam as coisas do lado de lá.

Esse espírito que desencarnou no corpo de uma menina já era um espírito muito antigo e vivido, com uma força mental muito grande. Não se enganem, pessoal. Muitas vezes, o espírito de uma criança carrega a experiência de um espírito ancestral. Ele conta que depois que aquela menina desencarnou, ela ficou perambulando pela cidade, na época era uma pequena vila, acompanhando o dia a dia daqueles cinco malfeitores que haviam tirado a sua vida.

Aqueles cinco homens, eles tinham suas famílias, eles tinham seus comércios seus empregos. E para a sociedade onde viviam, eram pessoas acima de qualquer suspeita. Ninguém nunca ficou sabendo do que aconteceu dentro daquela casa.

Só que o espírito daquela menina começou a atuar na vida deles de uma maneira muito desequilibrada. Ela começou a fazer de tudo para que as coisas dessem errado na vida de cada um. Aqueles que tinham comércio, começaram a afundar em dívidas. Outros começaram a desenvolver doenças e vícios. Tudo pela influência perniciosa daquele espírito que se ligou à vida deles pela revolta.

A menina começou a induzir um a um ao desespero. O Pai Antônio conta que daqueles homens que abusaram dela, dois se suicidaram. Um se matou por causa das dívidas que contraiu e que foram se acumulando. Outro se matou porque tinha uma certa sensibilidade mediúnica e via o vulto da menina ao seu lado acusando e ameaçando. Ele achou que tinha ficado louco e tirou a própria vida.

Um terceiro foi assassinado por dívida de jogo. O quarto morreu por uma doença misteriosa que apareceu no seu corpo físico, que na época, ninguém sabia o que era. Daqueles 5 homens, apenas 1 morreu de morte natural, mesmo assim, sofrendo a decepção de ver a sua família totalmente desestruturada. Filhos revoltados, mulher que o traía, empregados que roubavam o seu patrimônio.

Imaginem vocês que todas essas desgraças que recaíram sobre a vida deles teve uma origem: a vingança! O sentimento de vingança é um dos mais fortes que existem e um dos mais destruidores também, tanto para a pessoa que sofre a vingança quanto para a pessoa que planeja.

E o Pai Antônio conta também que o espírito daquela menina não agiu sozinho. Ela acabou sendo ajudada por uma falange de outros espíritos que também vibravam no sentimento de revolta. Eu não sei se vocês sabem, no mundo espiritual existe uma categoria de espíritos que se intitulam como justiceiros. São espíritos que ainda não tem uma consciência despertada para as verdades das Leis de Deus e que, por isso, eles atuam querendo fazer justiça com as próprias mãos.

E quando uma pessoa morre, assim entre aspas “injustiçada”, esses espíritos, indignados com situação, acabam convencendo e arregimentando aquela pessoa pra trabalhar com eles. No caso dessa menina, essa falange de pseudo-justiceiros organizou toda uma programação pra destruir a vida daqueles que a prejudicaram.

E depois, quando os 5 desencarnaram, eles foram aprisionados e entregues à aquele espírito que se sentiu prejudicado, para que acontecesse a vingança.

É importante a gente ter a consciência aqui também que o mal não dura para sempre. Deus sempre nos dá novas oportunidades de recomeço. Depois que aqueles homens se arrependeram sinceramente dos seus atos, eles foram retirados do baixo-astral, onde estavam sofrendo e sendo torturados. Eles foram resgatados por entidades de Luz.

E percebam que o próprio espírito daquela menina também começou a despertar, depois de muita revolta, para as atitudes erradas que ela teve. E olha só que interessante, tirando toda a revolta que aquela Entidade teve, por causa do seu desencarne violento, no fundo ela era uma pessoa boa. Tanto é que depois que os 5 foram resgatados, ela começou a ter compaixão pelos outros que sofriam no baixo astral e começou a ajudá-los da maneira que sabia fazer.

E ela gostou tanto dessa atividade de ajudar o próximo, que acabou adquirindo a simpatia dos espíritos socorristas que atuam no Umbral, os Exús e as Pombajiras. Lógico que ela teve que reencarnar novamente, em uma vida de muito sofrimento, de muita dor, para poder expurgar do seu espírito alguns resquícios de desequilíbrio que carregava.

E hoje, depois de muito estudo, depois de muito aprendizado, depois de muita experiência, ela atua também como pombajira, na linha da esquerda, ajudando pessoas encarnadas que, assim como ela, estão passando por dificuldades ou perigos aqui na Terra. Por isso, hoje, ela se intitula pombajira da estrada, porque ela protege as pessoas dos perigos que podem encontrar pelo caminho.

Essa era a mensagem que eu queria compartilhar com vocês hoje. Todo sofrimento traz aprendizado, mas não é por esse motivo que nós precisamos sofrer. Nós evitaremos muito sofrimento na nossa caminhada evolutiva, se soubermos se soubermos interpretar os ensinamentos que recebemos de espíritos mais vividos do que nós.

O sentimento de vingança, de ódio, de mágoa, não levam a lugar nenhum. Esse tipo de sentimento negativo só serve para fazer a gente estagnar a nossa evolução espiritual. Vocês querem prosperidade na sua vida? Façam o bem, ajudem as pessoas. E da mesma maneira que vocês ajudam, vocês serão ajudados. Porque essa é a Lei Divina.

Espero que tenham gostado do episódio. Lembrando que vocês podem ouvir o Alma de Poeta nas principais plataformas de áudio. Acessem lá o Spotify, o Deezer, o Google Podcast, Apple Podcast. Também estamos presentes no Amazon Music, no Youtube e ainda vocês podem ouvir os episódios no nosso site Alma de poeta. Deixem lá o seu comentário, a sua dúvida. Eu vou ficar muito feliz em responder. Um grande abraço a todos, fiquem com Deus, Que o nosso Pai Xangô dê a cada um de nós o que for do nosso merecimento.

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