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A Linha dos Erês – Salve as Crianças

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Ilustração: Ramira Yuri Ribeiro. Quem são os erês? Por que eles se manifestam com esse arquétipo infantil? Tem gente que fala que os erês são espíritos que morreram quando eram crianças. Tem gente que fala que eles são espíritos encantados. Quem está com a razão?

Transcrição do Episódio

Olá, povo da Umbanda! Sejam bem vindos a mais um episódio do nosso podcast Alma de poeta! Porque esse podcast é meu, esse podcast é seu, esse podcast é dessa espiritualidade maravilhosa que nos acompanha! Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e aqui a gente conversa sobre Umbanda, Espiritualidade, Mediunidade e também sobre as poesias do Pai Antônio.

Hoje eu quero conversar com vocês sobre um assunto que eu estou adiando para falar. E eu estou enrolando para falar sobre esse assunto, não é por preguiça, não! É porque eu acho que essa é uma linha de trabalho que tem uma energia tão elevada, tão complexa para o meu entendimento, uma linha que tem uma visão da espiritualidade tão simples, que eu acabo me sinto meio perdido de falar sobre ela. Talvez porque eu não tenha maturidade espiritual suficiente para entender a grandiosidade dessa linha que se manifesta na Umbanda. Hoje a gente vai conversar sobre a Linha dos Erês, sobre a linha das crianças.

E por que eu acho tão complexo falar sobre essa linha? Por causa da sua natureza que, muitas vezes, foge à nossa compreensão. A linha dos Erês tem uma energia tão pura que é difícil transcrever em palavras o que a gente sente quando recebe a incorporação dessas entidades. Daí começa aquele monte de teorias, né?

Sobre quem são essas entidades que se manifestam na linha dos Erês. E eu vou explicar para vocês todas as teorias que eu conheço, tudo o que eu já estudei sobre essas entidades que se manifestam com um aspecto infantil. Alguns ensinamentos eu peguei de livros, alguns ensinamentos eu peguei de pessoas mais velhas de Umbanda, alguns ensinamentos eu peguei com as próprias entidades.

Quem são os Erês? Por que eles se manifestam com esse arquétipo infantil? Tem gente que fala que os Erês são espíritos que morreram quando eram crianças. Pessoas que desencarnaram antes de atingir a idade adulta. Por isso eles se manifestariam com a roupagem fluídica que eles tiveram em sua última encarnação.

Eu particularmente, tenho uma certa dificuldade de aceitar esse ponto de vista, apesar de respeitar aqueles que entendem dessa forma. Mas por que, Evandro, você tem dificuldade de aceitar que os Erês são espíritos que desencarnaram ainda crianças? Pode ter acontecido? Claro que pode! Quantas e quantas histórias a gente não houve de espíritos que desencarnaram ainda crianças? Claro que existe!

O que eu tenho dificuldade de aceitar é que todos esses espíritos que morreram como crianças teriam a permissão de se manifestar como Erês! Porque, a partir do momento que eu aceitar esse ponto de vista: morreu criança já vira Erê, eu vou estar negando a minha crença no processo evolutivo da reencarnação. Vocês entendem? Porque todos nós, sem exceção, já tivemos milhares e milhares de vidas, né?

Vocês já pararam para pensar em quantas dessas vidas passadas nós morremos crianças? Com certeza deve ter uma ou outra vida que nós morremos na infância. Mas nem por isso nós nos tornamos Erês. Tanto é que nós estamos na Terra ainda, trabalhando e lapidando a evolução do nosso espírito. Mas assim, só para vocês entenderem: essa é a primeira explicação que as pessoas dão: que os Erês são espíritos de crianças que desencarnaram.

Bom, agora tem outra corrente que fala que os Erês são espíritos encantados. Essa é a visão que tem a vertente da Umbanda Sagrada, que foi idealizada por Rubens Saraceni. E o que seriam os espíritos encantados? Seriam espíritos que nunca tiveram uma experiência física aqui na Terra. Espíritos que nunca encarnaram na nossa dimensão do plano físico.

Para você aceitar essa teoria, e eu não estou dizendo que ela não existe, eu estou dizendo que existe essa possibilidade, você tem que partir do pressuposto que existem universos paralelos ao nosso. Existem universos que seguem uma linha evolutiva própria paralela à evolução humana. Essa teoria faz sentido para você? Para mim faz! O próprio Jesus disse que “na casa de meu Pai há muitas moradas”. Tanto é que existe o reino dos elementais. Eu vou falar sobre os elementais com mais detalhe em algum outro episódio.

Mas assim, se a gente for analisar os Erês como espíritos encantados, a gente vai perceber que muita coisa acaba fazendo sentido. Por exemplo, a falta de percepção que alguns Erês têm do nosso mundo, da nossa sociedade. Muitas vezes, os Erês se manifestam com uma lógica totalmente diferente da nossa. Uma lógica muito infantil.

O modo que eles pensam, muitas vezes, é uma lógica assim meio imatura aos nossos olhos. Talvez pela falta de experiências que essas entidades “não tiveram” entre nós! Ficou meio estranho isso que eu disse. Não sei se vocês entenderam. Talvez, pelo fato deles nunca terem vivido no nosso meio, eles tenham certa dificuldade de entender como o nosso mundo funciona.

Uma vez, eu conversei com um Erê, e na época eu estava passando por dificuldades financeiras, né. Daí ele virou para mim e falou assim: “Tio, você está ganhando pouco dinheiro? Então é só você trabalhar mais. Trabalha mais, tio, que daí você vai ganhar mais dinheiro.” Então, na cabeça dele era muito simples: eu tinha um problema financeiro e a solução era essa! Trabalha mais! Só que a gente sabe que no nosso mundo não é bem assim que a coisa funciona, né?

Dependendo do emprego que você tem, você não vai ganhar mais dinheiro simplesmente trabalhando mais. É lógico que talvez ele tenha falado aquilo para mim com outro sentido, né? Eu precisaria dar uma interpretação mais aprofundada para suas palavras. Talvez ele estivesse querendo falar para eu arrumar um segundo emprego, por exemplo, ou então para eu procurar uma renda extra.

Ou então para eu investir o meu tempo me capacitando, que não deixa de ser uma forma de trabalho, também. O estudo é um investimento que vai ter retorno no futuro. Mas assim, o que eu quero dizer para vocês, olhando por esse ponto de vista de que os Erês seriam espíritos encantados, é que eles têm uma visão muito particular do nosso modo de vida. Muitas vezes, eles trazem soluções simples, e soluções que realmente funcionam!

O Pedrinho, que é o Erê que eu recebo, ele fala assim: “tio, para de olhar a vida como adulto. Volta a olhar a vida como uma criança e você vai ver que muitos dos seus problemas vão deixar de existir”. É isso que essas entidades nos trazem: o retorno à simplicidade. Olhar o mundo com os olhos de uma criança. E quando o Pedrinho fala isso: “olhar o mundo com olhos de criança”, ele está se referindo a resgatarmos a pureza da criança que um dia nós fomos!

A olharmos a vida sem maldade, sem malícia, olharmos a vida com esperança e com a mesma inocência de uma criança. Vocês já imaginaram se todos nós víssemos a vida como uma criança? Não haveria mais guerras, não haveria mais tantas disputas, não haveria mais mágoa, ressentimentos. Porque as crianças não guardam nada disso. Elas podem até brigar uma hora ou outra, se desentenderem, mas isso passa. Dá cinco minutos e elas estão lá juntas brincando de novo.

Eu lembro de uma vez que eu vi na televisão uma experiência feita por psicólogos. E os psicólogos queriam entender qual era o comportamento das crianças pequenas quando elas viam ou passavam por alguma forma de discriminação. A experiência consistia no seguinte: tinha lá diversos grupos de crianças reunidas, de várias etnias diferentes, brancos, pretos, índios, orientais… E essas crianças eram chamadas para ganhar uma taça de sorvete. E elas faziam fila lá para ganhar a sobremesa. Daí, o que acontecia? Na experiência, em um grupo, os psicólogos davam uma taça de sorvete cheia para crianças brancas e uma taça de sorvete pela metade para crianças negras.

Depois eles invertiam, né? No outro grupo, eles davam uma taça de sorvete cheia para crianças negras ou indígenas e uma taça de sorvete pela metade para as crianças das outras etnias. Com esse experimento, os psicólogos estavam tentando entender qual era a reação das crianças quando percebiam esse tipo de discriminação. E sabe o que acontecia? Em um primeiro momento, as crianças não entendiam o porquê daquilo.

Lógico, né, quem recebia a taça de sorvete pela metade, ficava triste, começava a chorar. E o mais surpreendente dessa experiência é que as crianças que recebiam a taça cheia de sorvete e percebiam que o coleguinha do lado tinha recebido só a metade, elas dividiam a taça de sorvete cheia com eles. Não havia motivo para um ganhar mais e outro ganhar menos. Elas dividiam o sorvete por igual para que elas desfrutassem daquele momento com a mesma alegria. Então, esse é o espírito de Erê, né? De pureza, de ingenuidade, de se sensibilizar com o sentimento do próximo.

Mas vamos lá: voltando para o assunto aqui… Para de viajar, Evandro! Então tem uma corrente que fala que os Erês são espíritos de pessoas que morreram ainda crianças, tem outra corrente que fala que os Erês são espíritos encantados (que nunca tiveram uma experiência encarnatória). E tem uma terceira corrente que fala que os Erês são espíritos que já atingiram um grau de evolução tão grande que eles já têm a percepção de como as coisas deveriam ser, eles tem uma visão muito mais abrangente das Leis Divinas, eles têm uma compreensão muito maior do equilíbrio simples e harmonioso que deve existir entre todos os seres vivos. Eles conseguem compreender Deus com muito mais clareza. São entidades que já depuraram os seus espíritos de tal forma que acabaram quebrando o ciclo reencarnatório. Eles não precisam mais renascer nesse planeta, por conta do grau evolucional que eles já atingiram.

Se vocês me perguntarem qual corrente que eu acredito, eu diria para vocês que eu consigo aceitar melhor essa última, da conquista espiritual. Porque essa última corrente, ela se harmoniza com o entendimento que a gente tem das outras linhas, quando a gente conversou sobre arquétipos. Vocês lembram? Os pretos-velhos tem um arquétipo, os caboclos tem um arquétipo, os baianos tem um arquétipo. E as crianças também têm o seu arquétipo. Mas eu também sou propenso a acreditar na segunda corrente, de Rubens Saraceni, de que existem espíritos encantados, espíritos que nunca encarnaram no plano físico da matéria. Pelo menos não na mesma dimensão em que nós estamos agora.

E se a gente parar para refletir sobre esse assunto, a gente vai perceber que realmente podem existir, no plano espiritual, Erês que já quebraram o ciclo reencarnatório, que já atingiram um determinado grau de evolução. E alguns desses realmente podem ter morrido crianças, em uma ou outra vida, e por isso eles escolhem essa roupagem fluídica para se manifestar. Como também poderiam se manifestar espíritos encantados, por que não? Nós, como umbandistas, precisamos ter a mente aberta para receber e refletir sobre pontos de vistas diferentes. Porque é através do nosso raciocínio que a gente vai construindo a nossa verdade.

O fato é que essa categoria de espíritos existe! E eles se manifestam e eles fazem um trabalho muito bonito dentro da Umbanda. E essa categoria de espíritos que se apresentam como crianças são muito respeitadas no plano espiritual. Tanto é que, em muitos terreiros, eles descem junto com os pretos-velhos, que já são espíritos elevadíssimos. E eu já ouvi vários pretos velhos falarem que os Erês estão em um grau hierárquico superior ao deles.

Na Umbanda, a gente costuma dizer que o trabalho que um Erê faz, entidade nenhuma consegue desfazer. Eles possuem uma espécie de ascendência moral sobre os demais espíritos. E olha só que interessante… Apesar de possuírem esse grau elevado, eles se apresentam como crianças, como eternos aprendizes. Eles se manifestam com aquele arquétipo infantil, acatando ordens, obedecendo, se comportando como se eles fossem os menores de todos, os mais imaturos.

Isso me faz lembrar as palavras de Jesus quando ele disse: “todo aquele que se exaltar, será humilhado. Mas todo aquele que se humilhar, será exaltado”. Vocês já leram essa passagem na Bíblia? Eu acho lindo esse ensinamento.

E tem outra passagem Bíblica, do novo testamento, que eu tenho certeza que Jesus estava se referindo exatamente a essa categoria de espíritos: os Erês. Muito provavelmente vocês já leram ou já ouviram essa parte da bíblia, quando Jesus fala: “Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçam, pois delas é o reino dos céus”. Gente, será que existe um conceito mais fidedigno do que esse para definir um Erê? Jesus está falando que o reino dos céus pertence aos espíritos que se assemelham as crianças.

Vocês percebem a analogia das palavras de Jesus com a explicação que a Umbanda dá sobre os Erês? Somente os espíritos puros, aqueles que já atingiram um tamanho grau de evolução, a ponto de conseguir enxergar a existência com os olhos de uma criança é que farão jus a viver no paraíso. Eu acho linda essa passagem bíblica. E essas palavras de Jesus reforçam o entendimento que eu tenho sobre a Linha das Crianças.

E olha, gente, eu vou confessar uma coisa para vocês: de todos os mentores que eu recebo, por meio da incorporação, o Pedrinho foi uma das últimas entidades que eu consegui sintonizar para dar atendimento, de tão sutil que é a sua energia! Eu ainda tenho uma dificuldade muito grande, eu preciso me concentrar muito na hora da gira, eu preciso seguir à risca os preceitos, para conseguir receber essa entidade.

E quando ele vem, ele vem com aquela alegria contagiante, sabe? Dá gargalhada, ri, faz brincadeira, planta bananeira, dá cambalhota. É uma manifestação fantástica. Quando eu estou com o Pedrinho, eu percebo a vida tão bonita! Eu sinto uma gratidão tão grande pelo “papai do céu”, como ele costuma dizer. É uma sensação inexplicável. Eu não consigo traduzir isso em palavras. E o Pedrinho sempre traz ensinamentos profundos sobre a vida, sobre o Universo, mas os assuntos que ele aborda são falados de uma maneira muito singela, com aquele jeito infantil de criança. Essa linha de trabalho é maravilhosa!

E essas crianças, esses espíritos infantis são excelentes quebradores de demandas. Através da sua energia sutil, daquela energia pura que eles emanam, eles conseguem destruir qualquer tipo de trabalho negativo que tenha sido feito, seja por espíritos encarnados ou desencarnados. Os Erês são excelentes dissipadores de energias. Quando a criança incorpora no seu médium e começa a cantar e bater palma, na verdade, elas estão dissipando as energias desequilibradas do ambiente.

Nesse sentido, a gente diz que os Erês transmutam as energias com muita facilidade. E pelo fato delas terem essa habilidade de transmutar energias, elas são chamadas para harmonizar os lares, elas são chamadas para harmonizar os terreiros. E elas são chamadas também para serenar o mental dos seus médiuns e das pessoas que são atendidas. Porque as crianças, com aquelas brincadeiras, com as risadas, elas vão descarregando as energias densas das pessoas, elas vão dispersando pensamentos ruins e sentimentos negativos.

E lembrando, gente, que os Erês não comem doces nem bebem refrigerantes ou sucos. Eles já morreram, eles não precisam mais disso. Eu já disse nos episódios anteriores e eu vou repetir de novo: da mesma maneira que preto-velho não precisa fumar, que caboclo e Exú não precisa beber, as crianças não precisam comer doce. Elas apenas usam esses alimentos para manipular energias. Doces, bebidas açucaradas, balas, pirulitos. São elementos que elas usam para trabalhar o campo energético, tanto do médium como das pessoas que estão recebendo atendimento.

Quando vocês conversarem com um Erê, abram o seu coração, para permitir que aquela energia pura invada a sua alma. Reflitam sobre as mensagens infantis que eles passam, e que vem recheadas de muita sabedoria. Tentem enxergar o mundo e a vida na perspectiva de uma criança. Vocês vão ver como a energia maravilhosa dessas crianças tem o poder de harmonizar os seus sentimentos, de serenar a sua mente, de trazer alegria para sua vida.

É isso, gente! Espero que vocês tenham gostado! Como eu disse para vocês, falar sobre os Erês, para mim é um assunto muito complicado, mas eu espero que pelo menos eu tenha conseguido passar uma explicação clara. Hoje eu começo a compreender um pouco melhor a natureza dessa linha de trabalho.

Se vocês gostaram desse episódio e vocês ainda não ouviram os episódios anteriores, procurem lá no Spotify, no Deezer, no Google Podcast, no Apple podcast, no Amazon Music. Procura o “Alma de Poeta” em alguma dessas plataformas de áudio que vocês vão encontrar todos os episódios. Ou se vocês preferirem, acessem o nosso site “alma de poeta”. Lá vocês podem ouvir os episódios, deixar mensagens, tirar dúvidas, entrar em contato. Basta me escrever que eu respondo para vocês com o maior carinho! Um grande abraço, fiquem com Deus e que a linha das crianças traga bastante alegria na vida de vocês!

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