Pesquisar

A Linha dos Caboclos – Parte 1

Ouvir episódio

Vamos conversar um pouco sobre a Linha dos Caboclos e a razão pela qual a Espiritualidade escolheu essa linha de trabalho para inaugurar a religião da Umbanda no Brasil. O arquétipo do Caboclo reflete, além de força espiritual, a natureza integradora do povo brasileiro.

Transcrição do Episódio

E aí, gente! Salve, salve, meus irmãos de fé! Como é que vocês estão por aí?está todo mundo bem? Vamos falar mais um pouquinho sobre Umbanda? Hoje, atendendo a pedidos, eu vou falar sobre uma linha de trabalho excepcional! Inclusive, é a linha fundadora da Umbanda! Vocês sabem que linha é essa?

Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e esse é podcast “Alma de Poeta”, feito com muito carinho para todos vocês. Nós vamos conversar hoje sobre a linha dos caboclos! Vocês achavam que quem inaugurou a Umbanda foram os pretos-velhos? Acharam errado! Porque quem inaugurou os trabalhos de Umbanda foi um Caboclo, chamado Caboclo das 7 encruzilhadas. Vamos saudar o povo das matas? Vamos saudar a linha dos Caboclos? Okê Caboclos!!!

Saravá ao caboclo 7 flechas, ao caboclo tupinambá, ao caboclo pena branca, ao Cobra Coral, ao Sete Pedreiras, ao Caboclo Arranca Toco, ao Caboclo Ubirajara e tantos outros caboclos de luz que trabalham na Umbanda! Okê, Okê Caboclo!

Quando eu falo que foi o caboclo das 7 encruzilhadas que iniciou a umbanda, eu estou falando aqui da Umbanda tradicional, aquela lá que se iniciou com o médium Zélio Fernandino de Moraes. Porque existem outras, escolas de umbanda, digamos assim, que afirmam que o movimento espiritual da Umbanda é muito anterior à manifestação do Caboclo das 7 encruzilhadas.

Mas essa discussão é um assunto para um outro episódio. Só que entre essas escolas iniciáticas da Umbanda, tem uma coisa interessante. Mesmo a Umbanda esotérica, que é uma escola que afirma que a umbanda vem desde épocas remotas: da Lemúria, dos Atlantes. Mesmo essa Umbanda esotérica também afirma que os espíritos superiores que coordenaram o movimento astral da Umbanda, são espíritos ligados à linha dos caboclos.

Olha só que interessante! Eles falam que a Umbanda foi projetada no plano astral por espíritos que tem uma ligação muito profunda com as terras do continente americano. Esses espíritos, inclusive, chamam a nossa terra de “as terras do cruzeiro”.

Segundo os ensinamentos passados pela Umbanda Esotérica, os espíritos que planejaram a Umbanda são espíritos que viveram nas grandes civilizações que existiram no continente pré-americano, milênios antes da chegada dos europeus por aqui: eles fizeram parte dos povos Incas, Maias e Astecas.

Então, olhando por esse lado, os espíritos que idealizaram a Umbanda seriam, de certa forma, espíritos indígenas com o arquétipo dos caboclos. Legal isso, né? Essas coincidências, entre aspas, que existe entre uma escola umbandista e outra.

Mas assim, voltando para Umbanda tradicional, como eu estava dizendo, a Umbanda foi inaugurada aqui no Brasil por um caboclo. Pela linha dos caboclos. Você que é umbandista, já parou para pensar nisso? De todas as linhas que se manifestam na Umbanda: pretos-velhos, crianças, boiadeiros, Exús, ciganos, marinheiros, Pombajiras, baianos, malandros, etc… Por que que, de todas essas linhas, a Corrente Astral da Umbanda escolheu justamente a linha dos caboclos para inaugurar oficialmente a Umbanda?

Gente, porque a Umbanda, ela nasceu justamente para refletir essa natureza do povo brasileiro: da mistura, da miscigenação de raças. Não existe um brasileiro puro-sangue. Tem gente que fala que o brasileiro puro-sangue é o índio. Mas os índios isolados mesmo, aqueles tradicionais não se consideram brasileiros. Muitos nem sabem falar o português. Então, gente, não existe brasileiro puro-sangue. O nosso povo é formado pela mistura de raças. Branco com índio, branco com preto, preto com índio, daí depois vieram os povos do oriente… Não é?

E dessa mistura toda que surgiu o termo caboclo. Você sabe o que significa essa palavra? Vamos ver quem era bom de escola aqui! Vocês lembram do tempo da escola que a gente aprendia isso? Tinha caboclo, mameluco, cafuzo, mulato. Cara, eu só tirava nota baixa nessa matéria… Bom, para quem não lembra, Caboclo é a união do branco com o índio. Quando um branco se relacionava com uma índia, o filho desse relacionamento era chamado de caboclo.

Mas Evandro, então o que que tem a ver esse nome de Caboclo com a linha de trabalho na Umbanda? Porque eles falam que são caboclos mas se apresentam como índios, né? Pior que é verdade, né! Quando você vai numa gira de caboclo, a maioria dos espíritos que se manifestam são espíritos de índios. Se você for numa gira d caboclo, é quase certo que você vai acabar sendo atendido pelo espírito de um índico. Pô, então por que que não chama logo gira e índio? Não é verdade? Eu já pensei nisso.

Mas olha só, tudo tem uma razão. Teve uma razão para a espiritualidade dar o nome de gira de caboclo. Se vocês repararem, as entidades que se apresentam nessa linha, eles não querem ser identificados como índios “puro-sangue”. Até porque, quase todos os caboclos que dão atendimento, sabem falar o nosso idioma, mesmo que eles falem errado, mas falam.

Eles não querem ser rotulados como índios porque eles trazem para gente essa ideia da mistura, do Caboclo. Quem é umbandista precisa entender muito bem esse conceito. A Umbanda, assim como o povo brasileiro, precisa ser vista como um grande caldeirão de raças, de crenças, de culturas.

Assim como o Brasil foi planejado pela espiritualidade para receber, absorver e harmonizar diversos povos, diversas culturas. Assim também é a Umbanda. Vocês podem ver que a umbanda é uma religião que absorve elementos de diversas crenças diferentes. Na umbanda você vai encontrar elementos do Catolicismo, do Kardecismo, do Budismo, do Hinduísmo, do Candomblé… E todos esses elementos convivem de uma maneira harmoniosa.

Eu lembro da primeira vez que eu ouvi a história do Zélio Fernandino, quando o caboclo das 7 encruzilhadas se manifestou no centro espírita de Niterói, o espírito disse assim: “eu sou apenas um caboclo brasileiro”. Gente, se vocês ainda não leram ou não ouviram essa história, vale muito a pena. É muito bacana a história do Zélio Fernandino. Eu não vou contar ela inteira aqui, porque vai fugir do nosso assunto. E também porque é uma história bem batida no meio umbandista.

Mas assim, porque que o caboclo das 7 encruzilhadas falou isso? Eu sou apenas um caboclo Brasileiro… Porque, no dia, ele foi questionado pelo dirigente do centro espírita que falou o seguinte: Você diz ser aí um caboclo, mas nós estamos vendo que você usa vestes sacerdotais no seu corpo espiritual. Porque lá no dia tinha um médium vidente que disse que enxergou o espírito que se manifestava usando roupas de jesuíta.

E o caboclo respondeu: isso que vocês estão vendo são resquícios de uma encarnação anterior, quando eu vivi como um padre jesuíta chamado Gabriel Malagrida. Daí ele continuou falando assim: Mas Deus, na sua infinita bondade, me concedeu o privilégio de reencarnar como um caboclo brasileiro.

Olha só que manifestação de humildade linda desse espírito! Porque ele poderia simplesmente já ter falado para todo mundo que era o padre Gabriel Malagrida. Assim, ele seria muito mais respeitado naquela reunião, se tivesse falado que foi um Padre Jesuíta. Porque o Padre Gabriel Malagrida foi um mártir do cristianismo. Ele veio inclusive pregar o cristianismo no brasil, lá por volta de 1700 e pouco, mas quando voltou para a Europa, ele acabou sendo condenado e queimado como herege. Vai entender essa igreja, né?

E porque que esse espírito de luz não se apresentou como o Padre Gabriel Malagrida, mas preferiu se apresentar como o Caboclo das 7 Encruzilhadas? Justamente para dar um chacoalhão naquela sociedade preconceituosa da época. Naquela época, nos centros espíritas… bom, se bem que ainda hoje é assim em alguns lugares… se a entidade não se apresentasse como o Dr. Fulano de Tal, ela não era respeitada, ela não era nem ouvida.

Era tachada como espírito de pouco conhecimento, de pouca evolução. Pretos-velhos e índios, então, gente, não tinham a menor chance de se manifestar em um centro kardecista. E a Umbanda veio meio que para quebrar um pouco essa intolerância, essa discriminação, esse preconceito.

Então, gente, o que eu quero dizer para vocês, falando aqui sobre Caboclos, é que essa linha é a cara da umbanda, no sentido de mistura, miscigenação. O Caboclo é um elo de ligação que existe entre o povo das matas e a civilização, entre a simplicidade da vida natural e o conhecimento avançado.

O Caboclo caminha com desenvoltura nesses dois meios. O Caboclo consegue harmonizar a comunhão com a natureza juntamente com o acúmulo de conhecimento. E como o caboclo está relacionado à figura do índio, os pontos cantados para os Caboclos fazem sempre menção à natureza, às matas e a Oxóssi!

Vocês lembram que eu comentei, quando eu falei de Exú, que cada linha de trabalho está estruturada na energia de um Orixá? A linha dos caboclosestá estruturada na energia de Oxóssi. Mas assim como acontece com as demais linhas, nem todo caboclo é de Oxóssi. Apesar de eles estarem se manifestando na energia de Oxóssi, cada um vai ter o seu Orixá de Cabeça. Então, você pode encontrar Caboclo de Xangô, Cabocla de Iemanjá, Caboclo de Oxum, Cabocla de Iansã, e por aí vai. Lembra da comparação que eu fiz com uma multinacional no outro áudio? É a mesma coisa!

Os caboclos são conhecidos na Umbanda como espíritos de muita força espiritual. Eles trazem para a gente o arquétipo da coragem para enfrentar os desafios. E são espíritos muito inteligentes, eles sabem agir com muita desenvoltura, em qualquer situação. São espíritos que tem muito conhecimento. O caboclo das sete encruzilhadas, por exemplo, ele dominava qualquer assunto. Conta-se que durante os atendimentos, ele se expressava fluentemente em vários idiomas diferentes. E ao mesmo tempo, traziam uma simplicidade sem igual.

Aliás, gente, o estereótipo do caboclo é justamente trazer a simplicidade do ser humano. Os caboclos e as caboclas se apresentam como pessoas extremamente simples. E, ao mesmo tempo, eles possuem um amor indescritível pela natureza e pelos animais. Eu vou ler uma poesia aqui que eu recebi, já faz algum tempo, e que foi passada, pelo Pai Antônio, junto com um espírito que se apresentava como um caboclo. Vamos ouvir?

Eu sou a mão estendida
Aquele que te fala no íntimo
A voz sussurante e tímida
A ecoar no espaço infinito

Eu sou o som da floresta
O doce canto da cachoeira
O vento passando na fresta
A sombra de uma palmeira

Eu sou aquele que te guia
Nas trilhas fechadas da mata
Sou a força da ventania
As pedras de uma cascata

Sou as asas de um rouxinol
A leveza de um beija-flor
O amarelo vivo de um girassol
Espargindo alegria e cor

Sou o sibilar da serpente
Convidando-te à precaução
A Pureza de uma nascente
As águas frias de um ribeirão

Eu sou o perfume da terra
Sou a brasa, sou o calor
A Neblina no alto da serra
Da vida, eu sou o amor

Sou a destreza da jaguatirica
A força da onça-pintada
Sou a árvore que frutifica
Os bichos da madrugada

Tu ainda não sabes quem sou?
Sou aquele que anda contigo
O teu amparo, o teu abrigo
Tu ainda não sabes quem sou?

Que amor pela natureza, não é verdade? Esse é o espírito do Caboclo, esse é o espírito índio. Um amor imensurável pela natureza, pelos animais e também pelo ser humano. Porque o ser humano também faz parte da natureza. O final da poesia fala assim: eu sou aquele que anda contigo, o teu amparo, o teu abrigo.

você já teve a oportunidade de conversar com um caboclo? Gente, eles transmitem uma energia de confiança em você mesmo, sabe? Os seus problemas, perto de um caboclo, ficam pequenininhos, como se não existissem. O Caboclo consegue transmitir, ao mesmo tempo, humildade, força e coragem.

Bom, pessoal, assim como eu fiz com os outros áudios, eu vou dividir esse aqui também em duas partes, para não ficar muito longo. Espero que vocês estejam gostando, porque eu acho esse universo da Umbanda maravilhoso! Mas, eu sou suspeito para falar, né!

Lembrando que o nosso podcast está disponível no Spotify, no Deezer, na Amazon Music, no Apple Podcast, no Google podcast e também no nosso site “almadepoeta.com.br“. Um grande abraço a todos e que os nossos guias que se apresentam como caboclos possam nos direcionar nessa vida da melhor forma possível.

Deixe seu comentário

Mais deste assunto

Episódio 21
Nenhum número escolhido ainda