Transcrição do Episódio
Oi pessoal! Bom dia, boa tarde, boa noite a todos! Minha família virtual de fé! Espero que vocês estejam bem! Vamos iniciando aqui mais um episódio do Podcast Alma de Poeta e hoje a gente vai conversar um pouco sobre a importância de manter a simplicidade, de manter a humildade nos trabalhos espirituais… A importância de lutarmos para não deixar crescer dentro de nós, médiuns, a fogueira da vaidade, do orgulho, que acaba destruindo qualquer trabalho espiritual. Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e nesse podcast a gente fala sobre Umbanda, Espiritualidade, Mediunidade e poesias de um preto-velho.
Quando a gente trabalha com mediunidade, a primeira coisa que a gente precisa desenvolver é a nossa humildade. A humildade de nos colocarmos como servidores, como aprendizes, como crianças em busca de orientação. Porque não é porque a pessoa tem um contato mais direto com o plano espiritual, que ela é melhor do ninguém. Não é verdade?
Eu estou falando isso porque, às vezes, os médiuns acabam se deslumbrando com aquela capacidade que eles desenvolvem de receber mensagens do plano espiritual. Como se isso fosse uma coisa extraordinária, o que não é… E esse deslumbramento se transforma em vaidade, em orgulho. Com o tempo, esses médiuns começam a não admitir serem repreendidos, não admitem serem contrariados. Esse é o primeiro passo para a destruição de qualquer médium: a vaidade.
A espiritualidade de luz não pactua com esse tipo de comportamento. Eu vou dizer para vocês o que acontece: A gente está lá, no terreiro de Umbanda ou no centro kardecista, desenvolvendo a nossa mediunidade e, com o tempo, nós começamos a receber comunicações do plano espiritual. Afinal de contas, a espiritualidade de luz não perde uma única oportunidade de auxiliar as pessoas que tem boa vontade.
E realmente, aquela pessoa, de início, começa a receber mensagens maravilhosas, mensagens confortadoras. O médium começa a ajudar muita gente, com o auxílio daqueles guias espirituais que estão se manifestando. Só que o ser humano é “fogo”. Só que as pessoas que estão ao redor, começam a ver aquele médium como uma referência. As pessoas começam a dar mais atenção ao que aquele médium está falando.
E se o médium não tomar cuidado, se ele não se policiar constantemente com esse assédio, a coisa começa a degringolar. O médium começa a achar que ele é importante para aquele trabalho, que ele é imprescindível. kkk Gente, ninguém é imprescindível para nada! Se você acredita que o seu terreiro ou o centro kardecista que você frequenta não é capaz de sobreviver sem a sua presença, você está muito enganado. A vaidade e o orgulho já subiu à sua cabeça. Ninguém é indispensável. Como dizia o nosso saudoso Chico Xavier, “quando morre um capim, nasce outro”. Não crie a ilusão de que o seu trabalho mediúnico é indispensável para o bom andamento da sua casa. Porque isso não é verdade.
A caridade sim é indispensável para o bom andamento de uma casa espiritual, corações bons são indispensáveis para se fazer um trabalho conectado com espíritos de luz. Mas à partir do momento que o médium começa a se achar a última bolacha do pacote, quando o médium começa a se tornar intransigente (ele acha que só o que ele fala está certo), quando o médium começa a se tornar vaidoso, prepotente… Aquela espiritualidade de luz que antes acompanhava ele, começa a se afastar.
Porque os espíritos superiores não gostam desse tipo de comportamento. Eles ficam tristes com essas atitudes. E quando os espíritos de luz se afastam, o que acontece? Será que a mediunidade daquela pessoa vai se fechar? Não vai! A mediunidade vai continuar lá aberta, escancarada! Só que como esse médium não vai ter mais a proteção dos espíritos bondosos, ele vai deixar a sua mediunidade exposta para que outras categorias de espíritos venham se aproveitar da situação. E essas outras categorias de espíritos que eu estou falando, não são tão nobres quanto os primeiros.
São obsessores, são espíritos trevosos, perversos, são espíritos enganadores que vão fazer de tudo para que aquele médium indisciplinado se afunde cada vez mais! E esses espíritos vão começar a massagear o ego daquele médium, porque eles sabem que esse é o ponto fraco daquela pessoa. Os espíritos das trevas começam a alimentar cada vez mais a vaidade e o orgulho daquele médium.
Só que tudo tem um preço, né? Ao contrário dos espíritos de luz que trabalham por caridade, os trevosos trabalham por interesse. E com o tempo, eles vão começar a incentivar aquele médium a fazer coisas erradas. A trabalhar em troca de determinados favores, ajudar as pessoas em troca de dinheiro, a ter uma vida cada vez mais desregrada. Porque é disso que os espíritos inferiores gostam! Eles gostam do oba-oba! Não estou nem aí para o que pode acontecer, desde que eu sinta prazer, desde que eu alimente o meu vício. É assim que eles pensam.
E quando o médium vê, ele já está no fundo do posso. Quando o médium cai em si, ele já fez tantas coisas erradas, que não tem mais volta. Então, um conselho que eu dou para vocês que estão desenvolvendo a mediunidade agora, ou que querem desenvolvê-la: procurem ser úteis, o máximo possível, no trabalho com a espiritualidade, mas nunca colocando o seu ego na frente. Trabalhem com discrição, de preferência no anonimato.
Não fiquem reclamando, não fiquem criticando, não fiquem achando que vocês são os donos da verdade. Porque, como a espiritualidade diz, a verdade pertence a Deus. Nós carregamos apenas fragmentos dessa verdade. Você carrega a sua parcela de verdade, eu carrego a minha. E está tudo bem! Se a espiritualidade te colocou em um caminho de desenvolvimento mediúnico, é porque tem um bom motivo para isso. Todos nós podemos contribuir, de alguma forma, com o nosso trabalho, com a nossa dedicação, para ajudar na Obra do criador do Universo.
E tenham certeza de uma coisa, gente, se vocês trabalham numa casa séria, os guias saberão encaminhar as pessoas certas para o seu terreiro. E da mesma maneira, quando alguém está desarmonizando com a corrente mediúnica, quando alguém está atrapalhando os trabalhos da casa, a própria espiritualidade se encarrega de afastar aquela pessoa. A gente não precisa fazer anda para isso acontecer. Chega uma hora que ela simplesmente vai embora.
É lógico que a entrada e a saída de pessoas de um centro espírita ou de um terreiro de Umbanda é um processo natural, né? Isso sempre vai acontecer, por inúmeras razões. Eu não estou querendo generalizar que quando a pessoa sai de um terreiro, é porque ela estava atrapalhando com os trabalhos. Às vezes ela saiu porque precisava sair, porque tinha que seguir o seu caminho. Às vezes, aquela permanência naquele lugar era temporário. A gente tem simplesmente que compreender, aceitar e continuar.
E assim, gente, lembrem-se que o objetivo maior de qualquer Terreiro ou Centro Kardecista é a prática da caridade (fazer o bem, não importa a quem), é promover a evolução espiritual das pessoas. E no caso da Umbanda, cultuar os nossos Orixás. A gente precisa ter a consciência de que todos os locais que se dedicam a uma conexão com o sagrado, merece o nosso respeito. A Igreja Católica, os Templos Budistas, as roças de Candomblé, os Terreiros de Umbanda, as reuniões xamânicas, o Santo Daime… Qualquer manifestação do ser humano que vise ajudar ao próximo, merece a nossa consideração.
E eu, como umbandista, entendo o seguinte: todos esses locais sagrados, sejam eles grandes ou pequenos, sejam eles ricos ou pobres, de pessoas escolarizadas ou não, tem o mesmo valor aos olhos da espiritualidade. Não é porque você muda de religião, ou muda de um terreiro para o outro, que você está indo beneficiar o concorrente, como as pessoas interpretam muitas vezes. Não é assim que funciona para a espiritualidade. Do lado de lá, os espíritos de luz dizem que as religiões não são concorrentes umas das outras, mas todas elas são colaboradoras na obra do bem.
Fala uma coisa para mim: Você está insatisfeito com o terreiro onde você trabalha? Você não está se identificando com as giras? Vai lá, conversa com o seu dirigente. Expõe o seus motivos, de uma maneira respeitosa. E ouve o que ele tem a dizer a respeito disso. Volta para casa, medita, reflete. E se mesmo assim você optar sair do terreiro, saia com gratidão, com respeito, nunca falando mal de ninguém, muito menos dos trabalhos espirituais. Agradeça a espiritualidade por tudo o que você conquistou naquele lugar, por todo o conhecimento que você adquiriu, por toda experiência.
E eu costumo dizer uma coisa para as pessoas que vem até mim para pedir conselhos quando querem se desligar de uma casa: nunca abandonem um trabalho espiritual por causa das pessoas encarnadas. “Ah, eu não me dou bem com Fulano, com Ciclana, eu não gosto do Beltrano”. Gente, o que importa é o trabalho que aquele local está fazendo para ajudar as pessoas. Não interessa os seus gostos ou desgostos pessoais, não interessa os seus problemas de relacionamento. Isso aí é uma coisa que quem tem que resolver é você. Porque muitas vezes, o problema de um determinado relacionamento seu com outra pessoa está apenas dentro de você. Não tem nada a ver com o lugar que você frequenta. Agora, se você não está se identificando com o trabalho que está sendo realizado, aí é uma outra história. Isso sim justifica você a abandonar uma casa e procurar outra.
Outra coisa que eu queria dizer para vocês que já frequentam ou que pretendem frequentar um terreiro: Não queira jamais que o terreiro que vocês frequentam dependa de você. Se tiver ali uma atividade que só você sabe fazer, ensina para as outras pessoas fazerem o que você sabe. Porque isso também é fazer a caridade. Você vai estar dando a oportunidade daquela pessoa também se sentir útil. E fazendo isso, você também contribui para preservar os conhecimentos da Umbanda. Porque quando você ensina algo a alguém, você está fazendo o seu conhecimento se prolongar no tempo.
Só que assim, gente, como eu disse lá no começo, ninguém é insubstituível. Se você não quiser passar adiante aquilo que você sabe, pode ter certeza que a espiritualidade vai encontrar uma maneira de preparar as outras pessoas para dar continuidade àquilo que você fazia.
E não me levem a mal quando eu falo que ninguém é insubstituível. Eu não estou querendo dizer que você não tem valor nenhum para o seu terreiro. Não é isso! Olha lá como vocês vão interpretar minhas palavras, hein! Eu sou responsável pelo que eu falo, não pelo que vocês entendem. kkk Eu estou brincando, mas o que eu quero dizer é que: para a espiritualidade, todo mundo é importante, todo mundo tem valor, todo mundo pode contribuir com o seu trabalho. Para a espiritualidade, não existe trabalho mais nobre ou menos nobre. Não existe trabalho mais digno ou menos digno.
Só que o ser humano é “fogo”, né? As pessoas começam a rotular as atividades, os trabalhos, os serviços. Me fala uma coisa: Será que a pessoa que acende as velas no altar é mais digna do que aquela pessoa que lava o vaso sanitário antes de começar a gira? Eu duvido! Talvez seja até o contrário, né? Lembra do que o nosso mestre Jesus disse: “Todo aquele que se exaltar será humilhado, mas todo aquele que se humilhar será exaltado”.
Só que tem muita gente que pensa o contrário, né? Tem gente que acha que para se exaltar, o outro precisa ser rebaixado. As pessoas tentam se diferenciar aqui na Terra com privilégios, com tratamentos especiais. E olha, gente, isso acontece muito com dirigentes, viu. Com Pais de Santo, Mães de Santo, Sacerdotes. Sabe o que essas pessoas tem de especial, afinal de contas? Nada! A única coisa que elas tem maior do que as outras é o ego.
Ai Evandro, que blasfêmia você está falando! A gente precisa respeitar aqueles que conduzem os trabalhos espirituais, a gente precisa respeitar o Pai de Santo, a Mãe de Santo. Eu concordo, a gente precisa respeitar, mas sem dar nenhum tipo de tratamento especial, simplesmente pelo cargo que ele ocupa. Esse é o mal da nossa sociedade: diferenciar as pessoas pelo nível cultural, pelo nível intelectual, pelo nível social. A Umbanda veio para quebrar esses paradigmas. A espiritualidade da Umbanda veio trazer a importância de todos nós sermos tratados da mesma maneira. Não importa se você é o Pai de Santo, o Pai Pequeno, o Ogã, o médium, o cambone, ou simplesmente o assistido. Aos olhos do nosso Pai Olorum, todos nós temos o mesmo peso e a mesma medida.
A gente precisa mudar essa nossa cultura de estar sempre privilegiando e rebaixando as pessoas, por situações que não fazem o melhor sentido. E essa atitude deve começar dentro da nossa casa, do nosso terreiro, para depois ser espalhada pela vida a fora. Como diz o ditado: Seja você a mudança que você quer ver no mundo. Essa é a mais pura verdade!
E a Umbanda vem trazer a ideia de igualdade. Não é à tora que se chama corrente mediúnica. Eu sou um elo da corrente, você é outro elo da corrente. E esses elos vão se unindo para formar uma longa corrente que une encarnados e desencarnados. E é através da igualdade de tratamento que a Umbanda constroi uma linda corrente de amor. É através da igualdade de tratamento que nós permanecemos firmes, em torno de um objetivo maior, que é transformar vidas, curar pessoas, abrir caminhos, libertar almas. É por meio da igualdade de tratamento que nós vamos caminhando em direção ao Pai Maior.
Enquanto eu falava sobre esse negócio de ficar exaltando ou rebaixando as pessoas de acordo com o trabalho que elas fazem, eu lembrei de um senhor que eu tive o privilégio de conhecer, há muito tempo atrás. O seu Ernesto. Ele já era uma pessoa de uma certa idade. Isso foi logo quando eu comecei a me envolver mais seriamente com a Umbanda.
E eu lembro que, por mais cedo que eu chegasse no terreiro, o Seu Ernesto já estava lá. Daí os trabalhadores iam chegando, né, quando ia se aproximando o horário da gira. E muita gente brincava com ele, né: “Oh, Seu Ernesto, dormiu no terreiro hoje?” “Oh, Seu Ernesto! Está louco, hein! O senhor só pensa em macumba. Esquece do terreiro um pouco para viver a vida”.
E eu comecei a ficar curioso com aquilo, sabe, porque eu reparei que durante gira mesmo, o Seu Ernesto não incorporava nenhuma entidade, não cambonava ninguém, ele só ficava no cantinho dele, quietinho, assistindo a gira. E eu descobri que o seu Ernesto chegava de manhãzinha no terreiro, quando era dia de gira, e ele dava um grau no local! Ele começava lavando os banheiros, depois varria o terreiro todinho, passava pano, limpava o altar, tirava o pó das imagens. Era uma dedicação total.
Daí, um dia, eu cheguei para o Seu Ernesto, a gente começou a conversar. E eu toquei nesse assunto. Eu perguntei para ele assim: “Seu Ernesto, eu reparei que o senhor chega muito cedo no terreiro, né, limpa o terreiro todinho, mas na hora da gira mesmo o senhor não participa. Por que o senhor não participa da gira?”
Daí, o seu Ernesto, com aquele jeito simples dele me respondeu assim: “Ah, filho, eu fico lá no meu cantinho, porque eu acho lindo ficar assistindo as entidades trabalharem. E eu não tenho mediunidade para ser médium da corrente, também não tenho conhecimento para ser cambone. Eu fico mais à vontade de ficar assistindo”.
Então eu perguntei para ele: “Mas se o senhor não participa da gira como trabalhador, por que o senhor chega tão cedo no terreiro?”. E o seu Ernesto, com a mesma simplicidade falou assim: “Então, como eu disse para você, eu não tenho nem mediunidade, nem sabedoria, como as outras pessoas daqui da casa tem. Então, a única maneira que eu encontrei para ajudar e mostrar minha gratidão é chegando mais cedo para deixar o terreiro bem limpinho e organizado para as pessoas poderem chegar e se sentirem bem”.
E quando eu ouvi aquelas palavras que saiam da boca dele de uma maneira tão espontânea, eu comecei a chorar. E o seu Ernesto, vendo eu chorando, começou a chorar também. Daí, ficaram dois bobos lá chorando, um olhando para cara do outro.
Depois desse dia, eu peguei uma admiração tão grande por ele, que várias vezes, eu me esforcei para chegar um pouco mais cedo no terreiro para ajudar ele nos afazeres. Não dava para ser sempre porque as giras eram durante a semana e eu saia tarde do trabalho. Mas gente! Vocês tinham que ver a energia maravilhosa daquele homem. Enquanto ele fazia a limpeza, ele ficava rezando. Ele limpava o terreiro e cantando ponto. Era uma conexão linda com o plano espiritual.
Por isso que eu digo para vocês: esses são os verdadeiros professores da minha vida! Eu não gosto de aprender com gente erudita, com gente culta. Eu gosto de aprender com as pessoas simples, com pessoas humildes, como foi o seu Ernesto. Eu acho que é por isso que eu gosto tanto da Umbanda. Eu gosto de aprender com preto-velho, com cabloclo, com Erê. São espíritos que nos trazem sabedoria com simplicidade.
Bom, pessoal, vou encerrando por aqui. Espero que vocês tenham curtido mais esse episódio. Ah! E eu peço desculpas para as pessoas que tentaram mandar mensagem para mim ontem e antes de ontem, porque o site ficou algumas horas fora do ar. Eu tive que mudar o serviço de hospedagem e o site ficou indisponível durante algum tempo. Mas já está tudo regularizado, então, podem entrar lá e mandar mensagens de novo pra mim, que eu já estou recebendo e respondendo normalmente! Está bom?
Um grande abraço a vocês, fiquem com Deus! E até o nosso próximo encontro.