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A Energia de Exú – Parte 2

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Continuamos aqui nesse episódio a nossa conversa sobre Exú. Vamos entender um pouco mais sobre esse Mensageiro dos Orixás e por que o Orixá Exú foi associado ao Diabo Católico.

Transcrição do Episódio

Oi oi gente! Bom dia, boa tarde, boa noite! Sejam bem-vindos a mais um episódio! Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e esse é o nosso podcast “Alma de Poeta”, feito em homenagem ao nosso querido Pai Antônio, esse preto-velho de luz que nos acompanha e nos protege. Aqui é um lugar onde a gente fala sobre Umbanda, Espiritismo e mediunidade.

Hoje eu vou continuar aquela nossa conversa sobre Exú do episódio 17. Então, como vai ser meio que uma continuação, se vocês não ouviram ainda aquele episódio ainda, eu sugiro que vocês ouçam primeiro a parte 1 e depois ouçam essa parte 2, ok? Bom, mas isso aí é só uma sugestão minha, tá? Nada impede que você ouça e compreenda o que a gente vai conversar aqui também.

Dessa vez, a gente vai começar falando primeiro do Exú orixá. E vocês lembram, né? Exu Orixá é uma coisa, exu entidade é outra! Pois bem, como eu disse na primeira parte que a gente falou sobre Exú, muita gente relaciona esse orixá com o diabo católico. para eles, Exú é o satanás, é o tinhoso.

E olha, essa é uma interpretação que tem origens históricas. Tudo começou lá na África. Quando os europeus chegaram naquele continente, eles perceberam que algumas tribos africanas cultuavam uma divindade chamada Exú.

E esses povos africanos cultuavam Exú como sendo o mensageiro dos orixás, o responsável pela comunicação entre o Ayê e o Orum (entre a terra e o céu). Porque na crença africana, Exú tinha essa particularidade de servir de intermediário entre Deus e os homens.

Por isso, Exú está muito ligado à comunicação entre os dois planos. Exú atua como um intermediário entre o plano material e o plano espiritual. Tanto é que a palavra Exú significa esfera, círculo, porque Exú é o responsável por fazer girar, por fazer acontecer a comunicação entre os dois planos da vida.

Vocês lembram que a gente falou na primeira parte que o orixá Exú está relacionado com o aspecto negativo, no sentido de absorver os excessos? Seria uma energia mais ou menos relacionada aos Orixás cósmicos da Umbanda sagrada. Esse é o primeiro atributo de Exú: ele absorve os excessos, os comportamentos desvirtuados, os pensamentos negativados do ser humano.

E o segundo aspecto de Exú é esse relacionado à comunicação. Por esse motivo, muitas pessoas, inclusive consideram Exú como sendo um orixá menor, pelo fato de acharem que ele é meio que um garoto de recados, que levaria os pedidos do plano material para os orixás e traria as respostas do plano espiritual para terra.

Esse é um entendimento equivocado. Totalmente equivocado. Exú está no mesmo patamar de elevação de Oxalá. Na umbanda, a gente diz que somente dois orixás conseguem se dirigir diretamente a Deus, a Olorum: esses dois orixás são Oxalá e Exú. Vocês lembram que eu falei na primeira parte que, inclusive, esses foram os dois primeiros orixás criados por Olorum? Exú, inclusive, antes de Oxalá.

Tanto é que a força dos outros orixás passa, necessariamente, por um desses dois polos para chegar até Zambi (por Exú ou por oxalá). Então, gente, Exú não é um orixá menor. Exú é um orixá maior, assim como oxalá.

Vocês já perceberam, nos terreiros de Umbanda, que a imagem de Oxalá no altar, que é representada por jesus cristo, fica sempre acima, em uma posição de destaque dos demais orixás? Normalmente a imagem de oxalá fica em um nível mais elevado do que os outros, justamente por isso: porque Oxalá está em um patamar superior aos demais orixás.

A mesma coisa acontece com o Orixá Exú. Só que a Umbanda, diferente do Candomblé, não tem o costume de cultuar esse Orixá. Tanto é que vocês não vão encontrar pontos cantados de Umbanda direcionados para o Orixá Exú. Pelo menos eu não conheço nenhum!

O que tem são pontos cantados para entidades conhecidas como Exús, mas são pontos cantados para o povo da esquerda, mas não para o orixá Exú. Os pontos cantados para o orixá, vocês vão encontrar no candomblé, todos cantados em Iorubá. Eu não conheço nenhum ponto de louvação ao orixá Exú cantado em português. Se vocês conhecerem algum, me falem! E por que isso? Porque a Umbanda não tem o hábito de louvar esse orixá.

Bom, vamos voltar lá para África… As tribos africanas que cultuavam Exú, elas relacionavam esse Orixá à fertilidade, à vitalidade e virilidade do homem. Tanto é que um dos símbolos desse orixá é a figura do ogó (representado por um pênis ereto).

Mas olha só, a concepção que o povo africano tinha do órgão sexual masculino era muito diferente da visão europeia da época. O povo africano via a sexualidade, não com aquela visão distorcida de pecado imposta pela igreja católica, trazida pela religião judaico-cristã. para o africano, a virilidade do órgão sexual masculino estava muito relacionada à ideia de procriação, da continuidade da vida, de vitalidade, saúde, força.

Daí, vocês podem imaginar, né? Chega o europeu lá, se achando o dono da verdade, vê aquele povo todo fazendo oferendas para Exú, inclusive reverenciando o ogó (o falo), usando roupas pretas e vermelhas, que é a cor de Exú, fazendo rituais de corte, como é comum até hoje em alguns cultos de nação. Não demorou muito para o europeu chegar à conclusão de que aquele povo reverenciava o demônio.

Inclusive, os escravos que vieram aqui para o Brasil e que foram obrigados a se converterem para o Catolicismo, eles também passaram a enxergar Exú como o diabo, eles passaram a fazer a mesma associação que o homem branco fazia. Porque o catolicismo foi empurrado goela abaixo para os escravos. Eles não tinham a opção de escolher entre uma crença e outra. Tinha que ser católico e pronto.

Agora vocês imaginam a raiva que esses escravos tinham, não só do homem branco que os maltratava, mas também da igreja católica! Porque os padres da época falavam que os negros não tinham nem alma e que por isso podiam ser escravizados. Falar isso hoje em dia é um absurdo, né? Mas era no que as pessoas brancas acreditavam a 300 anos atrás.

E esses escravos, maltratados, judiados, que muitas vezes eram submetidos a torturas, começaram a invocar Exú, não na concepção originária do seu povo, como o orixá da fertilidade e da virilidade (até porque os escravos não queriam ter filhos para que seus filhos também sofressem no cativeiro).

Mas naquela concepção do demônio mesmo que a igreja pregava e que foi incutido na mente deles. E muitos deles invocavam Exú pedindo o mal, pedindo vingança, fazendo trabalhos de magia para prejudicar os brancos que os aprisionavam e os maltratavam.

Com isso, a imagem inicial de Exú que os antepassados daqueles escravos haviam trazido da África foi totalmente distorcida, corrompida. E essa imagem desvirtuada se arrastou até os dias de hoje. Talvez, por isso, muitos terreiros de Umbanda se recusem, ainda hoje, a cultuar o orixá Exú. E os poucos terreiros que cultuam, geralmente fazem esse culto portas fechadas, longe dos olhares curiosos.

Eu espero que essa nova geração de umbandistas que estão chegando por aí, esses jovens que têm uma fé tão linda na nossa religião, possam aos poucos ir tirando esse estigma que a Umbanda tem com o orixá Exú. Esse orixá não é o demônio, não é o diabo, não faz o mal (pelo menos não na concepção que as pessoas têm de mal). O Orixá Exú, assim como os demais orixás, são forças divinas, são atributos da divindade que atuam no Universo. A gente precisa saber que existe essa força e a gente precisa respeitar.

Agora vamos falar mais um pouco sobre as entidades que trabalham na umbanda com o nome de Exú. As pessoas às vezes confundem porque tem o mesmo nome. Exú Orixá e Exú entidade. São coisas diferentes? São! Mas tem alguma relação entre eles? Tem! Parece meio complicado, mas não é. Eu vou explicar para vocês.

Na Umbanda, existe uma relação das linhas de trabalho com os Orixás. Então, cada linha de trabalho está relacionada a um Orixá diferente. Por exemplo, a linha dos Caboclos está diretamente associada ao Orixá Oxóssi; assim como a linha dos pretos-velhos está associada a Obaluaê, assim como a linha dos baianos está associada a Iansã. Da mesma maneira os Exús e Pombajiras estão associados ao Orixá Exú. Vocês estão entendendo? Orixá é uma coisa, linha de trabalho é outra. O Orixá traz o poder de Deus, a linha de trabalho traz a força do Orixá.

Ah, Evandro, você está falando aí que cada linha tem um orixá, mas eu já ouvi Exú falar que trabalha na força de xangô, ou de caboclas que trabalham na força de iemanjá, pretos-velhos que trabalham na força de oxum. E aí? Como que você explica isso?

Olha gente, nessa minha caminhada pela Umbanda, eu demorei muito tempo para conseguir entender isso. Porque ninguém explica direito, ou melhor, cada um dá uma explicação diferente e isso também me causava muita confusão. Mas pelos livros que eu li, pelas explicações que eu tive de vários dirigentes e até mesmo de entidades, eu cheguei na seguinte conclusão. Cada linha de trabalho está estruturada em uma determinada energia.

Então, por exemplo, a energia da Orixá que sustenta a linha dos marinheiros é de Iemanjá. O poder que sustenta a falange dos pretos-velhos vem de Obaluê. O poder que sustenta a linha da esquerda vem do Orixá Exú. Então, uma coisa é o Orixá que sustenta determinada linha de trabalho. Outra coisa é o Orixá que atua sobre a coroa das entidades que trabalham naquela linha, certo?

Por exemplo, se uma entidade se manifesta como preto-velho, de acordo com o seu arquétipo (lembra que a gente falou sobre isso?), então, para aquela linha de trabalho, ela se apresenta sustentada pela força de Obaluaê. Mas isso não significa que todos os pretos-velhos que trabalham na Umbanda tem a sua coroa regida por Obaluaê. Cada um tem um Orixá regente. Pode ser que um preto-velho tenha xangô na sua coroa, pode ser que e tenha Ogum, Oxum… mas isso não vai impedir ele de trabalhar dentro da energia na qual aquela linha foi estruturada.

Vamos fazer aqui uma comparação mais próxima da nossa realidade? Imagina o seguinte: imagina que eu, você, fulano, ciclano e mais 20 pessoas foram contratadas para trabalhar em uma empresa multinacional. Vamos escolher uma empresa que todo mundo conhece. Nós fomos contratados para trabalhar na Coca-Cola. Olha que chique, gente! Todo mundo aqui contratado para trabalhar na Coca-Cola. E como a Coca-Cola é uma multinacional, ela contrata gente de tudo quanto é canto. Tem gente do Brasil, gente dos Estados Unidos, gente da argentina, do Japão, da Índia.

Agora imagina o seguinte: todos nós, de diversas localidades, fomos convocados para participar de um workshop representando a nossa empresa. Certo? Daí a gente vai lá, no dia da reunião e se apresenta para o recepcionista do evento. Oi, meu nome é Evandro Tanaka. Daí o atendente vai perguntar. Qual empresa você está representando? Daí eu respondo: eu estou representando a Coca-Cola.

O atendente vai anotar lá e vai me dizer assim: seja bem-vindo. Tem mais alguns membros da sua empresa lá naquele canto. Se você quiser, pode se juntar a eles. Daí eu vou lá, no cantinho que me foi indicado e eu realmente constato que todas as pessoas que estão lá, trabalham na mesma empresa que eu, só que cada uma delas é de um lugar diferente. Uma é da Espanha, outra é do Canadá, outra é de Israel, mas todos nós trabalhamos para mesma empresa: a Coca-Cola.

Vocês entenderam? Com as entidades é a mesma coisa. A Entidade vai chegar no terreiro e vai falar assim: Oi, meu nome é pai João! Daí o dirigente espiritual da casa vai falar: Oi, Pai João! Que linha você está representando? O pai João vai falar: eu represento a linha dos pretos-velhos e me apresento na energia de Obaluaiê. O dirigente espiritual vai anotar e vai dizer assim: pai João, tem alguns outros espíritos naquele canto que representam a mesma linha sua e também se apresentam na força de Obaluaiê, você pode se juntar a eles, se quiser.

Daí o pai João vai lá e percebe realmente que todos os espíritos naquele canto são pretos-velhos e pretas-velhas, só que cada um tem na sua coroa um orixá diferente. Um vibra na força de Oxum, outra vibra na força de nanã, outra vibra na força de Xangô, mas todos, naquele momento, estão representando o poder de Obaluaiê. Vocês entenderam?

Assim, vocês vão encontrar Exús e Pombajiras que irradiam a energia de outros orixás, apesar de estarem representando, naquela linha de trabalho, o força de Exú!

Bom, pessoal, eu acho que já tem bastante coisa aqui para gente refletir… eu não quero deixar o áudio muito longo. Eu estou me policiando para fazer gravações em torno de 20 minutos, para não ficar uma coisa muito cansativa também, né? Espero que vocês tenham gostado.

Lembrando que essa é uma visão minha, mas que foi construída em cima de muito estudo e reflexão. Se a casa onde você frequenta fala alguma coisa diferente, então fiquem com as orientações da sua casa, está bom! Sempre que houver alguma divergência entre o que eu falo e o que o seu dirigente fala, acate os ensinamentos do seu dirigente!

Obrigado por nos acompanhar em mais esse episódio e sigam o nosso podcast nas principais plataformas de áudio: Spotify, Google Podcast, Deezer, Apple Podcast, Amazon Music, Youtube e também pelo nosso site “alma de poeta”. Um grande abraço a todos e que o nosso Pai Olorum abençoe a vida de todos vocês!

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