Transcrição do Episódio
Olá, galerinha da Umbanda! Sejam muito bem vindos a mais um episódio do Alma de Poeta. Eu comecei a gravar esse episódio um pouco atrasado. Na verdade, eu já queria ter falado sobre esse assunto em episódios anteriores. Mas, enfim, deixa pra lá, né! Como diz o ditado: antes tarde do que nunca! Hoje é dia 20 de janeiro, a data em que eu estou gravando esse áudio. E o dia 20 de janeiro, para nós Umbandistas é um marco. Primeiro porque é o dia de Oxóssi, o Orixá das matas, o grande caçador! E segundo porque, a maioria dos terreiros de Umbanda tem como tradição retomar os trabalhos de atendimento ao público dessa data em diante.
Então, o que acontece? Grande parte dos terreiros de Umbanda encerram as atividades um pouco antes do Natal e retomam as atividades na festa de Oxóssi. Mas isso não é uma regra, tá? Vai depender da sua casa. Tem casa que começa antes, já logo no início de janeiro. Eu já vi terreiros que fazem até plantão durante as festividades de final de ano. Mas a grande maioria costuma observar essa tradição, de parar alguns dias antes do Natal e recomeçar no dia de Oxóssi.
E eu quero aproveitar, que hoje é dia de Oxóssi, né, 20 de janeiro, para falar um pouco sobre esse Orixá. Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e nesse podcast a gente fala sobre Umbanda, Espiritualidade, Mediunidade e também sobre as poesias do Pai Antônio.
Quando a galera da Umbanda ouve a palavra Oxóssi, a primeira coisa que vem na cabeça é floresta, é mata, é selva. Porque esse é o ponto de força desse Orixá. E a segunda coisa que vem na cabeça, quando a gente houve a palavra Oxóssi é caboclo, é índio. O silvícola que vive dentro da mata, isolado da civilização. Porque na Umbanda, Oxóssi é a energia de Deus que sustenta a linha daqueles espíritos que dão atendimento, se apresentando como índios, que nós chamamos de Caboclos de Pena.
E para quem ainda não sabe direito como é que funciona esse negócio de sustentação dos Orixás nas linhas de trabalho, dá uma procurada lá nos episódios anteriores que eu já falei bastante sobre isso. Não dá para gente ficar explicando sempre o mesmo assunto, né gente, porque senão o podcast vai ficar muito repetitivo.
Mas vamos lá! Voltando aqui ao Orixá Oxóssi. Se você faz parte da vertente da Umbanda Sagrada, muito provavelmente, você relaciona o Orixá Oxóssi no trono divino do conhecimento. Agora, se você é mais afinizado com a Umbanda Popular, talvez você tenha aprendido que Oxóssi é o Senhor da Fartura, aquele que traz o sustento para nossa vida! Afinal de contas, Oxóssi, se a gente for analisar de um ponto de vista mais africanizado, é o grande caçador que traz o alimento para a sua tribo.
E se a gente parar para pensar, a visão da Umbanda popular e a visão da Umbanda Sagrada tem muita relação, uma com a outra. Porque, olha só: Tem uma corrente da Umbanda que fala que Oxóssi é o Orixá que traz o conhecimento. E tem outra visão da Umbanda que diz que Oxóssi é o grande caçador, aquele que te ensina a buscar recursos para sua sobrevivência. Vocês conseguem perceber a ligação? Oxóssi traz o conhecimento para que você aplique esse conhecimento na sua vida. É o poder de Oxóssi que te conduz na busca de recursos para você se manter.
Então, se você está passando dificuldades materiais, dificuldades financeiras, se você está desempregado, se o seu negócio não está indo muito bem, é para Oxóssi que a gente pede condições, conhecimento e recursos para que a nossa vida melhore.
Da mesma maneira, se você está estudando para algum curso, se você está preparando para se formar em alguma profissão, é a energia de Oxóssi que vai te impulsionar a ir em busca desse conhecimento.
E quando eu falo em conhecimento, gente, eu não estou me referindo apenas ao conhecimento material. Eu estou me referindo também ao conhecimento espiritual. Porque Oxóssi também traz esse tipo de conhecimento, para que nós possamos também alimentar o nosso espírito. Porque os dois tipos de conhecimento são importantes, né? Enquanto o conhecimento material alimenta o corpo, o conhecimento espiritual alimenta a alma! Eu diria até que o conhecimento espiritual é ainda mais importante do que o conhecimento técnico do mundo da matéria. Porque o nosso corpo, um dia vai morrer, essa experiência nossa aqui na Terra, um dia vai terminar. Só que o conhecimento espiritual que você adquire vai servir te acompanhar pela eternidade.
Muitas das coisas que a gente aprende aqui na Terra serve apenas para o nosso sustento temporário, para que a gente se mantenha no mundo físico. Só que grande parte desse conhecimento, não vai ter muita utilidade quando a gente voltar para o lado de lá. Por exemplo: por que eu, como espírito, vou querer saber as regras de trânsito que eu tive que estudar para tirar a minha carteira de motorista? Será que isso vai ter alguma serventia para mim no mundo espiritual? Eu duvido! Só que para a gente, aqui na Terra, esse conhecimento temporário é importante. De repente, dirigir algum veículo automotor faça parte do meu ganha-pão.
Ou então, a gente poderia pensar o seguinte: se eu trabalho com vendas ou eu tenho uma empresa, eu preciso aprender muito sobre determinados produtos, para que eu possa oferecer esses produtos aos meus clientes. Esse conhecimento temporário que eu vou adquirir, aprendendo sobre aqueles produtos, vai ser importante para o meu sustento aqui na Terra. Mas não vai ter relevância nenhuma quando eu voltar para o plano espiritual. Vocês entendem?
Por outro lado, existem determinados tipos de conhecimento que a gente vai aproveitar do lado de lá, ou quem sabe até em outras encarnações. Conhecimentos metafísicos, conhecimentos filosóficos, (de repente até ensinamentos religiosos, se bem que os espíritos dão pouquíssima importância aos dogmas relgiosos do mundo), mas de repente, estudos que a gente faz sobre a nossa natureza como ser humano, de repente, ensinamentos voltados ao campo da psicologia, para a gente se conhecer melhor. Não sei! São vários campos de conhecimento que a gente pode aproveitar também no mundo espiritual.
Então Oxóssi é o Orixá responsável pela aquisição de conhecimento. Mas como eu já disse em outro episódio: não confundam conhecimento com sabedoria, tá? Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! O conhecimento se adquire pelo estudo, aquele estudo sistemático, sabe? Já a sabedoria se adquire pela vivência. E a Orixá responsável pela sabedoria é Nanã Buruquê.
Então, se você está adquirindo conhecimento, seja por meio de livros, seja por meio de cursos, de treinamentos, é o poder de Oxóssi que está atuando no seu Ori, na sua cabeça. Agora, se você já é velhaco em algum assunto, se além do conhecimento, você já tem uma certa malícia de saber interpretar as coisas da maneira certa, então, para esses momentos, é Nanã que vai agir na sua coroa. Porque Nanã é a Orixá mais velha, aquela que traz a sabedoria, a experiência de vida.
E aproveitando que a gente está falando de Oxóssi, eu vou compartilhar com vocês uma poesia do Pai Antônio homenageando esse Orixá tão lindo. Essa poesia me foi passada, já faz um certo tempo, não só para homenagear o Orixá, mas também para saldar o início dos trabalhos. Vamos ouvir?
Eis os filhos amados da Senzala, reunidos nesse amor, sem escala, na infinita bondade dos Orixás. É chegado o momento tão esperado e o ambiente todo sendo preparado para o trabalho poder começar. Hoje vamos saudar o Senhor das Matas, Orixá que toda maldade arrebata, responsável pelo conhecimento da Terra. Orixá presente no verde da floresta, na sabedoria de Zambi que se manifesta, no meio dos vales, da planície e da serra. Oxóssi carrega a força da vida, oferecendo alento para a alma ferida, cuidando dos passarinhos machucados. Orixá que traz a sabedoria infinita, caçador sublime, que nunca hesita em deixar o coração renovado. Senhor absoluto da natureza, na mata virgem, irradia a beleza, na manifestação sagrada do Criador! Nos dentes da onça, traz a braveza, No olhar do esquilo, mostra a pureza em canto suave de verdadeiro amor! Hoje nós vamos saudar Oxóssi, nas alegrias dos corações precoces, que já entenderam a importância da vida. Divino Orixá de sabedoria e coragem, mostra para os filhos a Divina Imagem, nos braços de Zambi, oferecendo acolhida! E as frutas dadas em oferendas, Negro-velho aos filhos recomenda, para levar com muito carinho. Porque os Caboclos, cheios de valor, irão manipular as energias de amor, para fortalecer o vosso caminho.
Não é bonitinha essa poesia? Eu não sei quanto a vocês, mas eu me sinto inebriado quando leio ou quando eu ouço esses versos, que são passados pela espiritualidade. Saravá, meu Pai Oxóssi! Okê Arô, meu Pai!
E olha só que interessante, gente: Apesar de Oxóssi ser cultuado no Brasil e também em outros países da América Latina, como Cuba, por exemplo, na África, o culto a Oxóssi foi praticamente extinto e esquecido. E existe uma razão para isso ter acontecido.
Tem uma região lá na África, que eu não sei dizer para vocês exatamente onde fica, que as tribos cultuavam esse Orixá. Elas cultuavam Oxóssi. Mas daí, o que aconteceu? Essa região foi tão massacrada com guerras, com agressões, principalmente com a escravidão, que os habitantes dessa região que cultuavam Oxóssi foram praticamente dizimados. E aqueles que sobreviveram, foram mandados como escravos para as Américas. E foi desse jeito que Oxóssi chegou até o Brasil, trazidos pelos escravos que eram habitantes dessa região.
Então, na verdade, a gente cultua aqui no Brasil um Orixá que não é mais cultuado na África, por essas razões históricas de violência, de morte e de escravização. É interessante isso, né? Como que o Brasil acabou servindo para preservar uma religiosidade que já não existe mais no país de origem.
Diz uma lenda antiga que Oxóssi não precisa de mais que uma flecha para acertar o seu alvo. Oxóssi é o guerreiro que precisa somente de uma flecha, porque ele tem uma mira infalível, ele nunca erra. Tem até um ponto que fala exatamente isso: “Sou filho do guerreiro de uma flecha só, sou filho de Oxóssi caçador”. Vamos ouvir esse ponto?
[Ponto de Oxóssi]
É legal esse ponto, né gente? No terreiro, com o toque cadenciado dos atabaques fica lindo! “Saravá, meu Pai Oxóssi, sua benção, meu senhor! Okê Arô! Saravá, meu pai Oxóssi, sua benção, meu senhor! Okê Arô!
E Oxóssi é comemorado no dia 20 de janeiro, porque ele é sincretizado com São Sebastião. Eu não sei se vocês já viram a imagem de São Sebastião, mas geralmente é a figura de um homem, amarrado a uma árvore e cravejado de flechas.
Para quem não sabe, São Sebastião foi um soldado romano que foi martirizado por não renegar a fé em Jesus Cristo. E ele chegou a ser capitão da guarda pretoriana. Para vocês terem uma ideia, esse cargo só era ocupado por pessoas ilustres. São Sebastião tinha muitos amigos importantes e se relacionava atém mesmo com o Imperador, que na época era o Maximiano. Só que tinha um detalhe: Ninguém sabia que ele era cristão. E naquela época, ser cristão era um crime punido com a morte. Todo mundo tinha que idolatrar os deuses romanos.
Por isso que São Sebastião é conhecido, no meio católico, por ter servido a dois exércitos: o exército de Roma e o exército de Cristo. Só que São Sebastião acabou sendo descoberto. E quando o pessoal descobriu que ele era cristão, o imperador Maximiano se sentiu traído, por aquele que ele considerava um amigo. Daí, primeiro o imperador mandou que ele renunciasse a sua fé em Jesus Cristo. Como isso não aconteceu, o Maximiano mandou que ele fosse morto, para servir de exemplo.
Os arqueiros do exército receberam a ordem de matar São Sebastião por meio de flechadas. Daí, eles tiraram a roupa do coitado, amarraram ele num poste de madeira e começaram a fazer tiro ao alvo. Depois que São Sebastião estava bem ferido, os soldados deixaram ele lá para que ele sangrasse até morrer.
Só que daí, o que aconteceu? Tinha uma moça chamada Irene. E a Irene foi até lá, onde São Sebastião tinha sido martirizado, e percebeu que ele ainda estava vivo. Depois de tantas flechadas, São Sebastião ainda estava respirando. Daí, a Irene e os amigos dela, retiraram o Sebastião de lá e levaram ele escondido para casa e começaram a cuidar dos ferimentos.
E olha só como ele era obstinado naquilo que ele queria. Depois que ele se recuperou totalmente dos ferimentos, são Sebastião teve a coragem de se apresentar ao imperador que mandou matar ele, para pedir que parasse de perseguir os cristãos. E é lógico que o Imperador, na soberba do seu orgulho, não aceitou isso. E dessa vez, mandou que açoitasse o Sebastião até a morte. Depois jogaram o corpo do Sebastião numa fossa, para que ninguém o encontrasse.
E depois de morto, São Sebastião apareceu, em espírito, a uma devota cristã que se chamava Lucina, dizendo o local exato onde ela encontraria o corpo dele. E o espírito de São Sebastião pediu para que pegassem o corpo dele e enterrassem nas catacumbas, junto com os apóstolos de Cristo.
Bom, essa é resumidamente a história de São Sebastião. Daí, vocês podem me perguntar: tá Evandro! Mas o que essa história tem a ver com Oxóssi? Bom, teoricamente nada, a não ser aquela imagem de São Sebastião cravejado de flechas. Quando os escravos africanos ficaram sabendo que São Sebastião foi praticamente peneirado com as flechas e mesmo assim, sobreviveu, de uma certa maneira, eles associaram esse milagre a Oxóssi. Não me perguntem o porque disso, que eu não saberia responder. O fato é que Oxóssi, na Umbanda, é sincretizado com São Sebastião.
[Ponto de São Sebastião]
É isso aí! Salve São Sebastião! Salve o meu Pai Oxóssi!
Só que assim, gente, Oxóssi é sincretizado com São Sebastião, mais aqui na região sudeste, principalmente em SP e no RJ. Porque se você for lá para a Bahia, você vai ver que Oxóssi é sincretizado com São Jorge. E aqui no sudeste, São Jorge é sincretizado com Ogum. Confunde esse negócio de sincretismo religioso, né? Mas, enfim! Faz parte da diversidade cultural desse Brasil imenso que é o nosso país!
Em alguns terreiros, Oxóssi também é chamado de Odé, que significa caçador em Iorubá. Porque Oxóssi carrega todos os atributos de um bom caçador: a ligeireza, a astúcia, o conhecimento, a habilidade de capturar a caça. E ao mesmo tempo, Oxóssi traz esse amor imenso pela natureza, pelas plantas e pelos animais.
Daí, você pode me perguntar assim: Caramba, Evandro! Isso aí não é meio contraditório? Relacionar a imagem de um caçador, que mata os animais e ao mesmo tempo tem amor e respeito por esses animais?
Se você olhar para isso, do ponto de vista indígena, com os olhos de um caboclo, você vai ver que não tem nada de mais nisso. Porque o índio caçava o estritamente necessário para trazer a comida para sua família. O índio não gosta de matar bicho. Ele mata por necessidade. Não é igual o homem branco (que se diz civilizado), e que vai pescar e vai caçar por prazer, que inflige sofrimento aos animais por hobby. O respeito e o amor do caboclo pela natureza é muito maior do que o nosso. Então, quando fala que Oxóssi é caçador e ama a natureza, não tem contradição nenhuma nisso.
E eu quero terminar esse episódio aqui fazendo uma prece para o nosso Pai Caçador:
“Oxóssi, meu pai! Caçador do plano espiritual, sustentador da minha vida, elevo o meu pensamento a Ti, meu Senhor, para pedir a tua proteção. Com o teu arco e a tua flecha certeira, defendei-nos das ofensas, das desgraças, da miséria e da fome. Derrama em nossas vidas, meu pai, a prosperidade material e espiritual. Derrama em nossas vidas a abundância que nos proporcionará oportunidades de ajudar outras pessoas mais necessitadas do que nós. Derrama sobre mim esse poder que emana de Ti, porque eu não temerei nada, enquanto estiver coberto do Teu Axé! Que assim seja, meu Pai! Okê Arô, Oxóssi!
E com essa prece, nós terminados esse episódio, fazendo essa singela homenagem ao Grande Caçador! Espero que vocês tenham gostado. E continuem acopanhando o nosso podcast, vocês também podem ouvir o Alma de Poeta nas principais plataformas de áudio: Spotify, Amazon Music, Google Podcast, Deezer, Apple Podcast, AnchorFm, Youtube e também pelo nosso site “almadepoeta.com.br“. Entrem lá, mandem um alô para mim, deixem seus comentários, tirem suas dúvidas, que eu vou ficar muito feliz em responder.
Então, fiquem com Deus! Eu desejo muita prosperidade na vida de vocês, nesse ano umbandístico que se inicia! Que o nosso Pai Oxóssi os abençõe! Okê Arô!