Transcrição do Episódio
Olá, povo da Umbanda! Olá, meus irmão de caminhada! Estamos iniciando aqui mais um episódio do Podcast Alma de Poeta, mais uma oportunidade que temos para falar sobre Umbanda e Espiritualidade. Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e hoje, atendendo a pedidos, a gente vai conversar um pouquinho mais sobre a Linha dos Ciganos que se manifestam nas giras de Umbanda. E eu não vou dizer quem pediu para eu falar um pouquinho mais sobre o povo cigano, não viu! Não adianta! Kairon, eu não vou dizer que foi você. Muito menos que você é do Rio Grande do Sul, da cidade de Taquará. Está aí o seu pedido, Kairon! Espero que você goste!
Bom gente, vamos lá! Quem está acompanhando os nossos episódios desde o início, deve se lembrar que lá no comecinho, no episódio 16, a gente já falou sobre Santa Sarah Kali e o sobre o povo cigano. Vocês estão lembrados? A gente já falou sobre as teorias de onde surgiu o povo cigano, a gente falou sobre o por que que os Espíritos Ciganos se identificam tanto com a egrégora da Umbanda, a gente já falou da relação que existe entre Santa Sarah e os ciganos. Inclusive eu coloquei lá uma poesia linda, linda, linda que o Pai Antônio passou sobre Santa Sarah. Se vocês ainda não ouviram, vale a pena dar um play lá no episódio 16, que lá eu já coloquei bastante informação sobre essa linha de trabalho.
E eu não sei quanto a vocês, mas eu não consigo pensar na Linha dos Ciganos, sem pensar em festa, sem pensar em música! Porque essas duas coisas estão muito relacionadas à energia que os ciganos carregam. Cigano é isso! É alegria, é entusiasmo, é festa!
Bom, como eu falei para vocês, a gente já conversou bastante sobre o povo cigano lá no episódio 16, né? E para a gente entender direito a Linha dos Ciganos, é muito importante que a gente estude a história deles, que a gente compreenda quem foi o povo cigano, porque fazendo essa análise histórica, a gente vai ampliar muito mais a nossa compreensão da maneira que esses espíritos hoje trabalham no plano astral. Da mesma maneira que os ciganos contribuíram e ajudaram muito a construir a história do mundo, hoje eles também ajudam na espiritualidade, com aquele jeito todo característico: felizes, positivos, alto-astral!
Eu fico muito triste quando eu ouço determinados comentários sobre o povo cigano. As pessoas costumam relacionar os ciganos com algo negativo, né? Frequentemente eles são rotulados como malfeitores, enganadores, bandidos. As pessoas acham que os ciganos gostam de enganar, de iludir. Essa é uma visão totalmente distorcida, atrofiada, que as pessoas tem do povo cigano.
Mas olha só… quando eu falo de povo cigano, eu não estou me referindo àquelas pessoas que ficam no meio da rua, pedindo dinheiro para ler a sua mão, para tirar a sua sorte, para prever o seu futuro. Essas pessoas sim, são enganadoras, são ciganos de araque. Não deve nem saber falar o romani.
Os ciganos de verdade, o verdadeiro povo cigano é aquele que se disseminou, primeiro pelo oriente médio, depois pelo norte da África até chegar no continente europeu. E mais tarde, embarcando em navios, vieram também para as Américas. Esse sim é o verdadeiro povo cigano! O povo que, por muito tempo, foi considerado sem origem certa, sem nação.
E olha, gente, eu vou falar uma coisa para vocês. Esse estereótipo de que cigano não tem pátria, de que cigano não pertence a nenhuma nação, acabou prejudicando muito aquele povo, principalmente quando eles chegaram na Europa. E por que que eu falo isso? A gente tem medo do desconhecido, não é verdade? Se chega uma pessoa para você e você pergunta de onde ela é… E ela responde “Ah, eu não sou de lugar nenhum. Eu não tenho origem. Eu vivo aí, pelo mundo”. Você vai ficar com o pé atrás com aquela pessoa, não é mesmo? Você vai ficar desconfiada. Espera aí… uma pessoa que não é de lugar nenhum? Não sei não… Ela deve ter rabo preso com alguma coisa… Ela deve estar escondendo o jogo. Vocês não pensariam assim? Por que ela não quer falar de onde que ela veio? Com os europeus do século X, XI, XII, que é a época mais ou menos que os ciganos começaram a chegar por lá, não era diferente. Os europeus tinham a mesma desconfiança que a gente tem hoje com qualquer pessoa desconhecida que não fala de onde veio.
Daí, o que aconteceu? Com o passar do tempo, o povo começou a criar histórias absurdas, envolvendo o povo cigano. Ainda mais na Idade Média, né? Que tinha uma influência forte da igreja. E todo mundo que não era cristão, na época, era considerado pecador, herege, tinha pacto com o demônio. E assim, chegou-se ao absurdo de falar que o povo cigano era a descendência direta de Caim. Lembra da história de Caim e Abel na Bíblia? Que Caim matou Abel e depois foi condenado por Deus a vagar pelo mundo pelo pecado que tinha metido?
E daí começaram os maus-tratos, as humilhações, as perseguições, simplesmente porque os Ciganos não tinham origem certa. Eles vinham não sei da onde. Ninguém sabia do seu passado. Até que no século XVIII, teve um linguista lá na Alemanha que resolveu estudar o idioma romani. E como ele era um linguista, um estudioso dos idiomas do mundo, ele começou a fazer comparações do romani com outras línguas. E esse cara descobriu que o romani era extremamente parecido com um dialeto que era falado no noroeste da Índia. E a partir desse estudo, ele acabou publicando um livro, afirmando justamente que o povo cigano era oriundo dessa região, do noroeste da Índia.
E olha só que interessante! Mais recentemente (e agora eu estou falando da nossa época), quando se desenvolveu o estudo da genética, alguns cientistas resolveram fazer comparações genéticas de povos ciganos tradicionais com a população que vive no noroeste da Índia. E adivinha só o que eles constataram? Que o linguista do século XVIII estava certo. Os genes do povo cigano é totalmente compatível com os genes dos indianos que vivem naquela região.
E com esse embasamento científico, fica difícil, né gente, duvidar que os ciganos não saíram daquela localidade da Índia. mas daí, vem uma outra pergunta: Por que? Por que os ciganos decidiram, de uma hora para outra, botar o pé na estrada, sendo que eles tinham um lugar para ficar, tinham casas, propriedades. Por que eles abriram mão de tudo isso para começar a rodar o mundo? Bom, isso os nossos historiadores podem explicar. Sabe qual é a resposta? Invasão! Aquela região era alvo de constantes ataques dos povos vizinhos que iam lá para roubar, para dominar, para escravizar. E para não ficar sujeito a esse tipo de perigo, o povo daquela região acabou fugindo de lá.
Não é difícil de entender isso, né gente? Vira e mexe a gente vê notícia na televisão de povos refugiados, fugindo de guerra, de massacre. Tá acontecendo agora lá no Afeganistão, com a volta do Talibã, não é verdade? A única diferença é que hoje, nós estamos no século XXI. E a gente sabe que aquele país se chama Afeganistão. E as pessoas que fogem de lá são afegãs.
Agora, imagina a dificuldade, lá na antiguidade, de saber de onde a pessoa estava vindo? Porque, se bobear, não era nem um país ainda. Naquela época, a Índia devia ser um retalho de tribos que ficavam brigando umas com as outras. Daí chegava para pessoa e perguntava: “da onde você está vindo? Ah, eu estou vindo de blablabla. E onde fica isso? Ah, isso fica lá em blablabla. Devia ser uma confusão aquilo. Sem contar que nem todas as pessoas tinham estudo, muitas não sabiam dizer nem o lugar onde elas moravam. Iam para terras diferentes, com idiomas diferentes que não sabiam falar.
E além disso tudo, tem o agravante de que, com o passar das gerações, a história daquele êxodo foi se perdendo. Naquela época não havia a escrita, como nós temos hoje. Era tudo passado oralmente, de pai para filho. E com certeza tinham aqueles menos comprometidos, que não queriam saber do passado e acabaram não passando a história para os seus descendentes. E por esse motivo, a origem acabou se perdendo no tempo.
O que a história sabe hoje é que, lá por volta do ano 1.000, o norte da Índia foi muito atacado por outros povos. E quando eles atacavam, eles roubavam e escravizavam as pessoas. Isso fez com que os moradores daquela região fugissem para outros lugares mais seguros. E a história conta que teve um sultão lá (que eu não sei o nome) que nesses ataques, acabou fazendo muitos escravos e ele vendia esses escravos para os persas. E os persas, por sua vez, revendiam os escravos para os europeus. Percebam que os ciganos começaram a chegar na Europa por dois caminhos diferentes: ou fugindo numa onda migratória de um lugar que ninguém sabia, ao certo, onde era. Ou então vendidos como escravos.
E com o passar do tempo, esse povo acabou perdendo o vínculo do lugar de onde vieram. Eles já não se consideravam mais indianos. Quer dizer… eu nem sei se naquela época a Índia era considerado um país como é hoje. Mas enfim, eu acho que vocês entenderam o que eu quis dizer. Eles não sabiam dizer de onde vinham, eles falam uma língua que só eles entendiam, diferente de todas as outras. E o pior de tudo é que eles não eram reconhecidos pelos europeus como pertencentes a nenhuma etnia. E isso dava medo! Foi por esse motivo que eles começaram a ser perseguidos por toda a parte.
Os europeus não queriam os ciganos por perto. Ainda mais depois daquela invenção ridícula de que eles seriam os descendentes de Caim. Ninguém queria conviver com um povo amaldiçoado. Eles achavam que os ciganos traziam mal agouro.
Daí, quando os ciganos não eram expulsos pelos próprios moradores, eles eram caçados. É verdade, gente! Caçados mesmo, que nem bicho! Em alguns países, os governantes chegavam até a pagar por cabeça de cigano morto. É um absurdo isso, né gente! Mas é o que aconteceu. E para piorar as coisas, por volta lá do ano 1.500, quando o povo muçulmano e o povo judeu começaram a receber as primeiras perseguições da igreja, adivinha o que aconteceu? Os ciganos que não tinham nada a ver com a briga que existia entre eles, também foram perseguidos e exterminados. É gente! Os ciganos podem falar com propriedade: nada está ruim que não pode piorar!
Só que eles sempre conseguiram dar a volta por cima. Eles sempre conseguiram, de alguma maneira, preservar o seu povo, as suas tradições, o seu idioma e os seus costumes. E esse negócio do povo cigano ter sido sempre muito perseguido é o que explica deles terem se tornado um povo nômade. Porque eles não podiam ficar muito tempo num determinado local que já ia gente lá aporrinhar a vida deles. Por onde quer que eles passassem, eles não tinham paz. E com o decorrer dos séculos, eles acabaram adotando o nomadismo como um estilo de vida. Eles acabaram gostando do estilo vida loka!
Sabe o que é interessante disso tudo gente? Os ciganos nunca se envolveram em nenhum tipo de guerra, nenhum tipo de conflito, eles nunca se indispuseram com nenhuma outra raça. Vocês nunca ouviram falar, na história da humanidade, que teve uma guerra cigana. Os ciganos são um povo pacífico por natureza. Tanto é que quando o tempo fechava para eles, eles subiam na carroça e iam embora. Eles não ficavam para brigar. Não é da índole cigana entrar em desavenças com ninguém.
E quando eles chegavam em uma determinada localidade, eles ficavam pianinho, quietinho no canto deles, procurando passar o máximo despercebidos. Porque eles sabiam que não eram benvindos ondes iam. Eles tinham essa consciência. E por esse motivo, eles tentavam fazer as coisas tudo certinho, para não chamar atenção, para não criar nenhum tipo de problema com os moradores locais. E isso fez com que os ciganos desenvolvessem uma capacidade muito grande de adaptação. Eles tentavam se adaptar rapidamente aos costumes e à cultura daquele povo, para que a presença deles causasse o mínimo de impacto possível. Eles tentavam se adaptar ao máximo ao estilo de vida dos moradores locais.
E isso enriqueceu muito a cultura cigana, sabe? Porque, no decorrer do tempo, eles conseguiram acumular culturas de diversos países. Inclusive, os antropólogos falam que hoje em dia, existem determinadas culturas que eram praticadas nos países da Europa Oriental que a gente só conhece porque o povo cigano manteve viva a tradição. Então os ciganos passavam pelos locais, absorviam a cultura da região e guardavam para si, começavam a aplicar na vida deles, chegando até ao extremo de manterem vivas tradições que não são mais praticadas nem nos locais de origem. É interessante isso, né?
E gente, os ciganos eram perseguidos, eram humilhados, eram caçados, mas eles não causavam problema nenhum. Todo o preconceito que foi construído em cima do povo cigano, foi embasado em mentiras. O povo cigano sempre tentou ser o mais correto possível, nos lugares onde eles passavam. Porque, imagina só… se mesmo eles agindo corretamente, já eram mal tratados e perseguidos. Imagina o que aconteceria se eles fizessem coisas erradas? O cigano quietinho, na dele, já estava errado. O simples fato dele existir já incomodava as pessoas.
Mas beleza! Até agora a gente falou sobre os ciganos encarnados. Agora vamos conversar um pouquinho sobre os ciganos desencarnados. Porque, se eles eram ciganos aqui na Terra, eles morreram e continuaram sendo ciganos no mundo espiritual. Não mudou nada. Continuaram sendo ciganos, por opção, porque eles gostam.
E os espíritos que se apresentam como ciganos, eles trazem muita sabedoria e uma bagagem enorme de conhecimento, justamente pela característica que eles desenvolveram de absorver a cultura e os ensinamentos de todos os lugares por onde eles passaram, seja no plano físico da matéria, seja no mundo espiritual. Porque, não se enganem, gente. Os ciganos continuam com o estilo vida nômade deles no plano astral. Da mesma maneira que eles gostavam de perambular aqui na Terra, eles também gostam de viajar pelo mundo astral. E eles tem a capacidade de ir para os sítios vibratórios mais distantes que a gente consegue imaginar. Eles chegam em lugares, na espiritualidade, que a maioria dos espíritos nunca ouviu falar.
Um dia o Pablo, o cigano que trabalha comigo, chegou para mim e falou assim: “Sabe qual é a maior alegria de um cigano quando desencarna?”. Daí eu respondi: “Não, qual que é?” Ele deu uma risada divertida e falou assim: “A maior alegria do cigano é quando ele descobre que o universo é infinito. Porque daí ele sabe que vai ter toda a eternidade pela frente para explorar novos lugares e conhecer novas culturas. E essa é a maior felicidade de um cigano quando desencarna”.
E gente, eu já tive diversas experiências no terreiro, da espiritualidade cigana falando para mim que os ciganos nunca desamparam os seus filhos. Filhos, assim, no sentido de protegidos. Eu já vi a Entidade falando para algumas pessoas que, aconteça o que acontecer, elas estarão sempre amparadas pelo povo cigano. Daí, um dia, eu fiquei encafifado e perguntei: “por que você falou isso para aquela pessoa? Daí o cigano virou para mim e falou assim: “Porque ela faz parte do meu povo. Hoje ela pode estar encarnada como cidadã do teu país, mas aqui no plano espiritual, ela faz parte do meu povo. E quando ela desencarnar, ela vai voltar para sua família verdadeira.”
E isso faz muito sentido, né? Porque quando a gente volta para o plano espiritual, a gente procura aquele agrupamento de espíritos com quem a gente tem mais afinidade. Vocês já perceberam que tem pessoas que tem uma verdadeira paixão pela cultura cigana? E elas, pelo menos nessa vida, não tem a mínima ligação com os ciganos. Não nessa vida! Mas quem pode afirmar que ela já não foi uma cigana em vidas passadas? Ou que ela não faz parte de um agrupamento cigano no plano espiritual?
Eu digo uma coisa para vocês… Se você sente uma atração pela Linha dos Ciganos, ou pela cultura cigana. Ou então, se você é médium de Umbanda e o teu guia de cabeça é um cigano. Pode ter certeza de que você faz parte do povo cigano no mundo astral. Você só está meio perdido aqui na Terra, mas mais cedo ou mais tarde, você vai se reencontrar com seu povo.
E se você tem alguma ligação com esses ciganos maravilhosos que trabalham no espaço, façam por merecer, nessa vida, o acolhimento que eles vão te dar, quando você desencarnar. Não decepcione a sua família espiritual. Haja na sua vida, assim como eles agiram quando estavam aqui na Terra: fazendo sempre a coisa certa, vivendo com positividade, com alegria. Tendo forças para recomeçar com coragem quando a sua vida estiver ruim. Porque é isso que eles faziam, né? Quando eles viam que a vida deles estava ruim em algum lugar, eles amarravam a trouxa, subiam na carroça e iam recomeçar a vida do zero em outra localidade. Esse é o espírito cigano!
E assim, as pessoas costumam dizer, na Umbanda, que a Linha Cigana é muito boa para resolver questões amorosas ou conseguir prosperidade material. Eu, particularmente, acho que a maior habilidade que os espíritos ciganos tem é de passar orientação, de dar aconselhamento, justamente pela bagagem de conhecimento e sabedoria que eles acumularam no decorrer dos milênios. Então, quando vocês forem conversar com um cigano ou com uma cigana, peçam isso: peçam orientação, peçam bons conselhos. É nessa área que eles são especialistas!
Espero que vocês tem gostado do episódio. Falar sobre o povo cigano é sempre muito prazeroso para mim. Eu sinto uma alegria muito grande. E se vocês gostaram, mandem um e-mail pra mim falando que gostaram. Se vocês ficaram com alguma dúvida, mandem um e-mail para mim que eu respondo. Se vocês tem alguma crítica ou sugestão a fazer, mandem um e-mail para mim. Vocês podem entrar em contato comigo pelo e-mail: [email protected]. Ou então se vocês preferirem é só acessar diretamente o site “almadepoeta.com.br” e escrever lá a sua mensagem.
Um grande abraço a todos. Fiquem com Deus. E que o povo cigano e Nossa Santa Sarah cuidem da evolução de todos nós! Optchá!
show!!!
Excelente
Sou uma cigana de alma.