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O Que Vem da Bahia

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Nesse episódio a gente vai conversar um pouco sobre a Linha dos Baianos e essa tal felicidade que eles carregam tão bem e tentam sempre nos transmitir!

SALVE O POVO DA BAHIA

Olá pessoal! Sejam bem-vindos a mais um epísódio do nosso Podcast Alma de Poeta. Aqui a gente conversa sobre espiritualidade, sobre Umbanda, mas estamos abertos para conversar sobre qualquer assunto que seja fonte de crescimento espiritual.

É lógico que, enquanto a gente não recebe convidados especiais aqui no Podcast (e eu espero que isso aconteça logo), eu vou puxando a sardinha mais para o meu lado, não é? Eu acabo falando sobre Umbanda, porque Umbanda é a minha praia, Umbanda é o que eu respiro todos os dias.

Gente, hoje eu acordei sentindo uma energia de Baiano que vocês não tem ideia! É muito forte! E essa energia do povo baiano é maravilhosa! Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e hoje a gente vai falar sobre a Linha dos Baianos na Umbanda!

Salve o povo da Bahia! Salve o Nosso Senhor do Bonfim! É da Bahia, meu Pai!

Quando as pessoas me falam sobre a Linha dos Baianos, a primeira coisa que me vem à cabeça é a alegria, o entusiasmo, a irreverência! Quem já teve a oportunidade de participar, de se envolver em uma gira de Baiano, sabe do que eu estou falando. É uma energia maravilhosa!

UMA EXPERIÊNCIA COM TIBÉRIO

Tem uma Entidade baiana a quem eu sirvo que se apresenta com o nome de Tibério. E quando o Tibério se aproxima de mim, parece que o meu peito vai explodir de felicidade. Às vezes eu fico pensando se ele vivencia essa felicidade 24 horas por dia, sabe? Porque é uma alegria muito intensa!

Eu lembro uma vez em que eu estava no terreiro. E a gente estava lá conversando na rodinha de médiuns (isso era um pouquinho antes de começar a gira). Os médiuns estavam batendo papo, cada um falando da Entidade que recebe e tal… e daí, para puxar conversa, eu disse assim: “Ah, quando eu recebo o meu baiano…”. Ai, ai, ai! Para que eu fui falar isso? O Tibério estava do meu lado. Eu só ouvi a vozinha dele no meu ouvido: “Como é que é? Meu Baiano? Mas rapaz, eu sou Tibério! Eu não sou teu, eu não sou meu, eu não sou de ninguém! Eu sou Baiano! Eu sou baiano mas eu sou livre!”

Ele começou a falar e começou a dar risada de uma maneira tão espontânea que eu comecei a rir também. E o pessoal olhou para mim e perguntou: “Está tudo bem aí?” Depois eu falei para eles o que tinha ouvido do Tibério e todo mundo caiu na gargalhada!

Esse é o Tibério! Irreverente, alegre! E você vê, né? Antes mesmo de começar a gira, ele já estava lá, presente e preparando o mental das pessoas! A Linha dos Baianos na Umbanda é isso! Ela traz alegria e ao mesmo tempo, o Baiano, a Baiana, nos remetem a essa simplicidade! Ao espírito do homem do campo, do homem agreste! Se vocês pararem para perceber, muitos pontos cantados de Baiano acabam falando sobre o sertão, sobre terra batida, sobre porteiras velhas!

POR QUE “LINHA DOS BAIANOS”

Muita gente pergunta para mim o seguinte: “Por que Linha dos Baianos? Por que esse nome: Baiano? Não podia ser linha dos cearenses, linha dos alagoanos, linha dos sergipanos? Por que Linha dos Baianos? Vocês já pararam para pensar sobre isso?

Quando essa linha foi batizada como Linha dos Baianos (se é que houve em algum momento a oficialização desse nome), foi uma maneira que a espiritualidade encontrou de homenagear o local onde o Brasil começou.

Quando os portugueses chegaram no Brasil, eles aportaram aonde? Na Bahia! Tanto é que a primeira capital do Brasil foi na Bahia! Só depois que a Capital mudou para o Rio de Janeiro. Foi na Bahia onde o Brasil começou a receber, inclusive, os primeiros imigrantes africanos. Infelizmente, eles vieram para o nosso país escravizados, em condições tristes de dor, de saudade, de revolta!

Talvez seja por isso que, na Umbanda, a Linha dos Baianos esteja tão ligada com a Linha dos Pretos-Velhos. Tanto é que, se vocês repararem, em muitos terreiros, quando é Linha de Preto-Velho, também desce Baiano. A gente chama de Linha cruzada. E quando é Linha de Baiano, às vezes vem Preto-Velho. Essas duas Linhas são muito próximas uma da outra. Em algumas casas, inclusive, eles dizem que os Baianos, assim como os Pretos-Velhos, fazem parte da Linha das Almas. Outras casas falam que os Baianos são regidos pela força de Iansã.

Eu, particularmente, não vejo problema algum de falar que é uma coisa ou outra. Porque, no final das contas, as Entidades simplesmente vêm, fazem o trabalho de amor e caridade e vão embora.

Porque para elas, pouco importa se nós as vemos como Linha das Almas ou como força de Iansã. Elas só querem nos ajudar, contribuir com a nossa evolução. E cá entre nós, ficar discutindo isso é a mesma coisa de ficar brigando que a minha verdade é mais verdadeira do que a sua. Isso acaba causando dissidência, acaba causando separação. E a Umbanda veio para unir, veio para agregar, a Umbanda veio para juntar a diversidade cultural do nosso povo, para harmonizar as diferenças.

UMBANDA DIFERENTE DE CANDOMBLÉ

Olha só que interessante: sabe aquelas baianas típicas de Salvador, que usam saia rodada, que vendem acarajé? Vocês sabiam que a grande maioria delas, se não for a totalidade, não cultuam a Umbanda, porque elas são do Candomblé?

E daí você pode me questionar: “Ué, mas eu pensei que era a mesma coisa!” Bem, não é! Deixa eu tentar explicar para vocês fazendo uma comparação. A Umbanda é tão parecida com o Candomblé quanto o idioma português é parecido com o idioma francês. Vocês conseguem perceber? Não é porque eu falo português que eu vou entender o que um francês está falando. E vice-versa. Apesar de os dois idiomas terem muita coisa em comum, muitas palavras parecidas, ainda assim são idiomas diferentes.

Com a Umbanda e com o Candomblé acontece a mesma coisa. As duas religiões tem muitos pontos em comum, tem muitos pontos de contato. Afinal de contas, as duas religiões cultuam Orixás, são religiões monoteístas, acreditam na reencarnação, na influência dos espíritos em nossas vidas, mas os rituais são diferentes, as oferendas são diferentes, até mesmo a comunicação mediúnica é diferente. Enfim, eu não vou me aprofundar nesse tema agora, porque talvez esse seja assunto para um outro episódio. Quem sabe?

Enquanto eu conversava com vocês, eu estava lembrando de uma vez que o Pai Antônio escreveu. Uma poesia que, se não me engano, foi com a colaboração do Tibério. Eu acho que foi assim: o Tibério entrou com o conto, com a parábola e o Pai Antônio foi encaixando os versos. Essa poesia ficou muito bonita e tem ensinamentos que eu acho fantásticos. Vocês querem ouvir como é que ficou essa composição poética? Essa poesia se chama “A Bacia”.

A BACIA (Poesia Psicografada)

Estava andando lá na Bahia,
aproveitando a luz do dia,
Preta-Velha mandou chamar.
Pediu pra pegar a bacia,
enchê-la toda de alegria
e levar para o cazuá.

Saí voando pelo campo,
feliz como um pirilampo
carregando a bacia no braço.
Mas parava pra ver as flores,
naquela manhã, de lindas cores,
enfeitando todo o espaço.

Logo depois, parei num rio,
quando ouvi um suave pio
de um pássaro a gorjear.
Imitando o seu assobio,
quando vi, já estava no rio
displicente a me refrescar.

Esqueci das horas do dia,
brincando com aquela bacia,
nem vi o tempo passar.
Mas depois veio a agonia!
O que Preta-Velha queria,
eu não me esforcei em buscar.

Voltei muito envergonhado,
cabeça baixa, olhar de lado,
carregando aquela bacia.
Preta-Velha veio com jeito,
vendo meu modo suspeito,
e perguntou com simpatia:

“Fio, suncê tá aborrecido.
Então me conta o ocorrido.
Onde tá sua alegria?
Não vejo mais o colorido
nem seu jeito extrovertido,
só tô vendo essa bacia…”

“Preta-Velha”, falei chateado,
Estou com esse jeito acanhado
pois suas ordens eu não cumpri.
De manhã eu saí com a bacia
querendo enchê-la de alegria,
mas na tarefa eu sucumbi.

Parei para ver as flores,
sonhando com lindas cores,
mas fiquei pelo caminho.
Ouvi delicadas aves,
de melodias suaves,
na beira de um ribeirinho.

Quando percebi, o dia acabou
e a minha alma se envergonhou
pelo tempo desperdiçado.
Se antes estava contente,
vibrando naquele ambiente,
agora estou envergonhado.

“Fio”, disse a Preta sorrindo,
“Inté que suncê tava indo,
enchendo bastante a bacia.
Mas quando fez preocupadô,
a alegria se derramô
deixando a alma vazia.”

“O fio num pode esquecê
muito menos esmorecê
quando quiser sentir alegria.
Tristeza é que nem furinho,
derramando pelo caminho,
o conteúdo da bacia.”

CUIDADO COM OS PENSAMENTOS

Essa poesia fala do cuidado que a gente tem que ter com nossos pensamentos. Cada pensamento de tristeza que a gente tem no decorrer do dia vai fazendo furinhos pequenos na nossa bacia. E por esses furinhos, começa a vazar todo o líquido valioso da felicidade que nós estamos carregando, que nós estamos acumulando no decorrer da vida.

Quanto mais pensamentos de tristeza você tiver, mais furinhos você vai fazer na sua bacia. Eu não sei se vocês repararam, na poesia, a mensagem que ela traz. O Baiano estava tão feliz no começo, aproveitando o dia, curtindo a natureza… e aí, de repente, ele ficou com a consciência pesada, ele ficou arrependido por sua atitude. Esse comportamento fez com que todo aquele sentimento de alegria desaparecesse. A felicidade acabou sendo drenada pela culpa.

Às vezes, sentimentos de arrependimento, de vergonha, de culpa, acabam minando as nossas forças. Daí, a gente vai vivendo um dia após o outro, sem apreciar a beleza da natureza, sem aproveitar a oportunidade que Deus nos dá todos os dias para recomeçar!

Vamos lá, pessoal! Vamos incorporar essa alegria do Povo Baiano em nossos espíritos! Vamos encher a nossa bacia de felicidade. Daí, quando a gente voltar, carregando a nossa bacia, lá para o plano espiritual, a gente vai poder dizer orgulhoso para a Preta-Velha assim: “está aqui o que a senhora mandou eu buscar lá no plano da matéria”.

Espero que vocês tenham gostado de mais esse episódio. Um grande abraço para vocês. Desejo a todos uma semana abençoada, cheia de luz e de alegrias!

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