Transcrição do Episódio
Salve, salve, meus irmãos de fé! Minha família espiritual de Podcast. Sejam bem vindos a mais um episódio do Alma de Poeta. Sabe o que eu estava ouvindo hoje? Samba! A festa pagã que mistura a religiosidade do povo brasileiro. E tanto isso é verdade, que se vocês derem uma pesquisada, vocês vão ver quanto samba enredo fala de Orixá, fala de Entidades, fala de Umbanda, fala de Candomblé! Eu quero dedicar o episódio de hoje a essa festa! São quatro dias que o Brasil para para sambar, para ouvir o batuque! Para sentir o coro da percussão reverberando no ar. Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e nesse podcast a gente fala sobre Umbanda, Espiritualidade, Mediunidade, sobre as poesias do Pai Antônio e hoje, em homenagem à Umbanda, a gente vai ouvir samba! Espero que vocês gostem!
Eu quero começar a homenagem de hoje, saravando o nosso Pai Oxalá, saravando os nossos Orixás e as Entidades que trabalham nas linhas sagradas da Umbanda! Saravá, Povo de Aruanda!
[Samba-Enredo-01]
É isso aí!!! Saravá, meu povo, Saravá Pai Oxalá! Que vocês possa conduzir a nossa vida mundana da melhor maneira possível. É engraçado, né gente, como os nossos gostos vão mudando no decorrer do tempo. Quando eu era mais novo, eu detestava samba! Eu só queria saber de Rock Nacional. Depois que eu conheci a Umbanda, eu comecei a pegar um amor pelo batuque, que vocês não tem ideia. Aquele som cadenciado do atabaque, começou a bater lá no fundo do meu coração. E, aos poucos, eu comecei a ouvir samba de roda, samba de raiz. Eu comecei a sentir um carinho muito grande por esse gênero musical.
Eu não sei até que ponto a proximidade das Entidades em mim influenciaram nessa mudança radical de gosto musical que eu tive. Porque a mediunidade tem muito disso, né gente. Quando você começa a desenvolver a mediunidade, você começa a perceber com muito mais intensidade os gostos que aquela entidade que está se manifestando em você carrega. E muita Entidade que se manifesta em mim gosta do batuque, gosta da dança. Eu acho que essa comunhão que a gente vai construindo com os nossos guias espirituais vai proporcionando uma mistura de vontades muito linda.
E quando o samba pisa forte no terreiro, daí o meu coração dispara!
[Samba Enredo – 02]
Que maravilha de homenagem, né? “Axé! O samba pisa forte no terreiro. É mistério, é magia, oh! É mandingueiro!” Teve uma vez que uma pessoa chegou para mim e falou assim: “Cara, você como umbandista, você não se sente constrangido, deles colocarem num samba enredo aquilo que de mais sagrado você cultua?”. Daí a pessoa falou assim: “Porque eu, como católico, eu ia ficar muito envergonhado se colocassem o nome de Jesus Cristo ou da Virgem Maria para ser cantado na avenida”.
Daí, eu virei para pessoa e falei assim: “Eu até entendo essas suas considerações, porque você está interpretando que o nosso Sagrado está sendo profanado numa festa mundana. Só que eu entendo de uma maneira diferente. Não é o sagrado que está sendo rebaixado a uma festa mundana. Quando eu ouço um samba enredo falando da minha religião, eu intepreto isso como o mundano que está sendo sublimado. Eu acho lindo demais quando a gente coloca o sagrado no nosso dia-a-dia. Porque a energia dos nossos Orixás vem do Orum para se manifestar no Ayê. Para quem não sabe, Orum é o Céu, Ayê é a Terra. Ou a gente poderia interpretar o Orum como o Sagrado e o Ayê como o mundando.
Mas na Umbanda, não existe esse negócio de pecado como existe em outras religiões. Para nós, umbandistas, tudo é sagrado! Tudo faz parte da criação do Nosso Pai Olorum. Quando eu coloco um copo de cerveja, eu bebo junto com os Caboclos. Eu ofereço para eles a bebida que eu estou tomando. Quando eu estou tomando um sorvete ou eu estou comendo um doce, eu estou comendo junto com Ibeji. Quando eu estou bebendo água, eu estou bebendo água com as Iabás da Natureza. Quando eu estou tomando uma taça de vinho, eu estou fazendo um brinde ao povo cigano!
Então, essa concepção de pecado que o povo carrega é muito particular de cada um! Se você acha que uma coisa é errada, então não faça! Porque aquilo vai ser pecado para você. Mas a partir do momento que você começa a interpretar o Ayê como sendo a contraparte do Orum, então você começa a ver o sagrado em todas as atividades que você faz nessa vida.
É igual o sexo: a Igreja intepreta o sexo como sendo pecado. No catolicismo, existe um repressão muito grande na sexualidade das pessoas. Para mim, o sexo não é pecado, o sexo é divino. Sexo é vida. Desde que tudo seja feito com respeito, com amor, com responsalibilidade, que mal há nisso?
É lógico que eu não estou falando daquele sexo desregrado, daquele sexo doentio. Não é isso! Eu acho que os prazeres do mundo se transformam em pecado quando você começa a cometer excessos. E isso se dá com o sexo, isso se dá com a bebida, isso se dá com a comida. Tudo o que é demais nessa vida, não presta, fica deturpado.
Mas tenta ter uma visão mais umbandista das coisas e colocar o sagrado nos prazeres do mundo, e você vai ver como você vai conseguir levar uma vida muito mais equilibrada. Como que você coloca o sagrado naquilo que te dá prazer? Primeiro: desde que aquilo que você está fazendo não seja prejudicial a você mesma. Por exemplo: não tem como você colocar o sagrado no uso de drogas, porque você sabe, conscientemente, que você está acabando com a sua vida. Não tem como você colocar o sagrado num sexo desregrado que está desrespeitando a outra pessoa. E esse é o segundo ponto: respeitar o próximo. O primeiro é você respeitar a você mesmo e o segundo é você respeitar o próximo.
Então, por exemplo, se você bebe em excesso, ao ponto de ficar embriagado, não existe o sagrado nisso. Porque você está se prejudicando e está causando tristeza para as pessoas que te amam, que querem o teu bem. Mas, a partir do momento em que você exerce o seu autocontrole nos prazeres do mundo, não existe pecado nisso. A gente está na Terra, a gente está encarnado. E se a gente está aqui, é para desfrutar de tudo o que os nossos Orixás nos trazem. A gente só precisa saber consagrar as nossas atitudes.
Vamos ouvir mais um samba enredo? Agora eu quero fazer uma homenagem a essa linha de trabalho que é muito ligada aos morros do Rio de Janeiro e, consequentemente, eles são apaixonados pela noite, pela boemia e pelo samba. Salve a malandragem! Salve essa espiritualidade de luz que caminha nas vielas tortuosas do mundo, ajudando as pessoas que precisam de amparo.
[Samba Enredo – 03]
“É que eu sou malandro, batuqueiro. Cria lá do Morro do Salgueiro”. É isso aí malandragem! Que vocês possam continuar trazendo até nós esse gingado da vida, nos ensinando a contornar os obstáculos, a desviar dos perigos!
Tem um refrão de um samba muito famoso que fala assim: “malandro é malandro, mané é mané”. Essa é uma canção do Bezerra da Silva, se eu não me engano. E teve um dia, que estava tendo gira de malandro lá no terreiro e eu estava incorporado com o Mariano”. E daí, mentalmente, eu falei para ele assim: “É Mariano, malandro é malandro, mané é mané”. Daí o Mariano deu uma risada debochada e falou para mim: “Tu está errado! Aqui para nós mané é malandro, malandro é mané”.
E daí, eu fiquei confuso, né? Mas como assim? Mané é malandro e malandro é mané? Porque o samba não fala isso, não! E daí o Mariano começou a falar para mim: “Vocês aí na Terra acham que ser esperto é tirar proveito das pessoas inocentes. Por isso que cantam: malandro é malandro, mané é mané.
Só que, aos nossos olhos desencarnados, a gente não vê mais desse jeito. O cara que se faz de sonso na vida e só leva bordoada dos outros, para a espiritualidade, esse é verdadeiro malandro. Porque é aquele que está desfazendo o nó do destino dele para crescer mais rápido espiritualmente. E aquele malandro encarnado que só quer tirar proveito em cima dos outros, quando ele passar para o plano espiritual, ele vai perceber que não foi malandro coisa nenhuma. Que ele piorou ainda mais a condição dele como espírito. Ele chega no plano astral e ele percebe que, na verdade, ele é o verdadeiro mané. Por isso que eu digo para você: “Mané é malandro. Malandro é Mané!
E eu, que não quero ser mané, abaixei a cabeça e aprendi mais esse ensinamento de um malandro de verdade. Essa é a sabedoria da malandragem que dá nó até em pingo dágua.
Mas vamos lá! Já que a gente está falando de Malandro, vamos continuar na esquerda e prestar as nossas homenagens ao povo da banda, ao povo da rua! Saravá, meus irmãos Exús e Pombajiras. Que vocês permaneçam sempre do nosso lado, nos protegendo dos perigos do mundo. Laroyê Exú, Exú é Mojubá. Laroyê Pombojira, Pombojira é mojubá!
[Samba Enredo – 4]
E ouvindo esse samba enredo, a gente termina o episódio de hoje, saravando essa força maravilhosa que no protege. Salve meus irmãos da rua, salve meus irmãos do cemitério! Que essa luz que vocês carregam continuem iluminando as trevas do mundo! Boa noite compadre, boa noite comadre!