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Aprendendo e Evoluindo com as Pessoas

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Todo mundo tem alguma lição a nos ensinar. Não importa se a pessoa é pós doutorada em psicologia ou se é uma simples faxineira do seu condomínio. Nós sempre teremos algo a aprender com as experiências alheias. Nesse episódio, nós também vamos conversar mais um pouquinho sobre a origem da Umbanda.

Transcrição do Episódio

Olá, minha família de podcast! Sejam bem-vindos a mais um episódio do Alma de Poeta. Às vezes, enquanto eu estou gravando os episódios, eu fico pensando no tanto de problemas que aparecem nas nossas vidas, né? São problemas de relacionamentos, são problemas financeiros, problemas familiares. Às vezes são problemas que estão além da nossa capacidade de resolução. Nessas horas, a gente tem que buscar ajuda, a gente tem que procurar auxílio externo.

Muitas pessoas deixam de melhorar a vida, apenas por orgulho, por se acharem autossuficientes. Mas nós estamos ainda muito longe da autossuficiência. Nós ainda somos espíritos em aprendizado aqui na Terra. Então, meus irmãos, quando vocês se sentirem perdidos, sem saberem que rumo tomar na vida, procurem orientação, procurem aconselhamento. Existem pessoas boas, dispostas a te ajudar, tanto no plano físico da matéria quanto do outro lado da vida. Nós precisamos apenas estar dispostos a nos abrir para receber o auxílio necessário.

E olha, muitas vezes, uma simples orientação que a gente recebe, um conselho, uma palavra de conforto, já é suficiente para que a gente consiga adquirir forças para continuar a caminhada. Às vezes, quando a gente expõe o nosso problema para outra pessoa, talvez essa pessoa consiga enxergar com mais clareza a saída que nós não estamos conseguindo ver.

Porque muitas vezes, quando a gente está no centro da tempestade, nós não temos serenidade suficiente para analisar aquilo que nós estamos passando com a devida imparcialidade. A gente se envolve emocionalmente de uma tal forma com os nossos problemas que muitas vezes esses problemas parecem se tornar maiores do que eles realmente são.

Ah, Evandro, é fácil você falar isso, porque não é você que está sentindo na pele o que eu estou sentindo. Exato! E é por esse motivo, por eu não estar sentindo na pele o teu sofrimento, é que eu consigo racionalizar com mais clareza sobre o que está acontecendo com você. Muitas vezes, a gente precisa ter a humildade de pelo menos ouvir de bom grado o que a outra pessoa tem para dizer. E olha que isso é difícil! Às vezes o nosso orgulho impede da gente aceite o que a outra pessoa está dizendo.

Eu, através dessa minha caminhada pela Umbanda, já tive a oportunidade de ouvir muitos problemas, muitos relatos difíceis. Como também eu já tive a felicidade de ouvir conselhos maravilhosos, de quem eu menos esperava. E eu aprendi uma coisa com isso: todo mundo tem algo de bom para te oferecer. Não importa se a pessoa é uma pós doutorada em psicologia ou se ela é simplesmente a faxineira que varre o condomínio do seu prédio.

Todo mundo tem uma lição para passar. A gente precisa ter apenas a humildade de ouvir os ensinamentos que essa pessoa carrega. As pessoas estudadas, elas vão nos passar os ensinamentos que elas aprenderam com os livros. E as pessoas simples, que não tiveram a oportunidade de estudar, elas vão nos passar os ensinamentos que elas aprenderam com a vida!

Eu lembro que um dia, eu estava triste com uma situação que eu estou passando na minha vida e eu fui dar aula. Eu não sou professor, está gente. Eu dou aula como voluntário numa instituição que tem aqui em SP que acolhe refugiados de outros países. Então, duas vezes por semana, eu tento ensinar português para essas pessoas que vieram tentar a sorte aqui no Brasil. São pessoas que vieram fugindo de guerras, de violência, de pobreza. E é cada história de vida que a gente ouve, gente, de cortar o coração.

E nesse dia eu estava lá, meio borocoxô, como minha mãe dizia, com as minhas inquietações, quando se aproximou um rapazinho que veio da Síria. Acho que ele devia estar morando no Brasil há uns quatro ou cinco meses. Ainda não falava muito bem o português. Aí ele veio todo alegre, orgulhoso, tentando formular algumas frases que ele aprendeu, cumprimentando, perguntando como eu estava. E eu, educadamente, comecei a conversar com ele, mentindo que eu estava bem, perguntando se ele estava gostando do Brasil e tal.

E o rapaz me disse assim: “Brasil lindo. Maravilhoso viver Brasil”. Daí eu perguntei: por que que você acha o nosso país lindo? Daí o rapaz tirou o celular do bolso e começou a mostrar fotos para mim. Escombros do que restaram da cidade dele depois que foi bombardeada por extremistas islâmicos. Eu não sei se era a Al Quaeda ou o Taleban… eu sei que era algum grupo terrorista. E eu comecei a ver aquelas fotos… meu… é muito impactante. Os prédios em ruínas, as pessoas todas cheias de poeira no meio dos destroços. Daí o rapaz virou para mim e falou assim: “olha. Esse país meu… agora entende Brasil bonito?” E ele continuou falando: “Eu aqui, primeira vez, vê árvore”.

E eu ouvindo aquilo, olhei para aquele jovem que estava sorrindo para mim e pensei comigo: “meu, qual que é o meu problema mesmo? Será que essa minha tristeza se justificaria diante da experiência que esse rapaz viveu lá na Síria?” Eu lembro que naquele dia, eu saí na rua, olhei uma árvore plantada na calçada e disse assim: “Obrigado, meu pai! Eu tenho a oportunidade de ver uma árvore na minha frente”.

Parece uma coisa tão banal para nós que nascemos aqui no Brasil, mas para aquele rapaz que cresceu na Síria, em meio a conflitos, no meio da guerra, a visão de uma simples para ele era árvore era maravilhosa!” Bom, mas eu quis contar para vocês essa experiência que eu tive, para mostrar que todo mundo tem algo a nos ensinar. Basta apenas nós termos o discernimento e a boa vontade de tentar enxergar a vida com os olhos daquela outra pessoa.

Eu estava falando desse trabalho voluntário que eu faço, mas com essa pandemia, foram suspensas as aulas presenciais, né? Eu continuo fazendo o trabalho voluntário, mas agora pela internet. Eu lembro de um outro caso também, que eu estava dando uma aula pela internet para um casal de Libaneses. É o Mahmoud e a Fadia. Até hoje eu dou aula para eles. Eles são super interessados em aprender o português. Apesar de eles estarem há pouco tempo aqui no Brasil, menos de um ano, com eles eu consigo ter um pouco mais de desenvoltura para conversar, porque eles também falam inglês.

Daí eu estava comentando com Mahmoud desse encontro que eu tive com o rapaz sírio. O Mahmoud virou para mim e falou assim: “olha, nós muçulmanos usamos uma expressão muito bonita que eu não sei falar em português, mas em árabe se diz “al han do li lá”. Daí ele me explicou o que significa essa expressão. Ele disse assim: para tudo de bom que acontece na nossa vida, no nosso dia, a gente costuma falar “al han do li lá”. E a gente fala essa palavra com um intenso sentimento de gratidão. É um agradecimento a Deus pelas coisas que a gente está passando, por aquilo que nós já conquistamos na vida, pelas oportunidades que aparecem no nosso dia…

E eu dormi pensando naquilo que o Mahmoud me falou. Ele é muçulmano e ele me trouxe um ensinamento lindo do Alcorão. A necessidade que nós temos que agradecer a tudo, agradecer todos os dias, até mesmo as pequenas coisas que acontecem na nossa vida. E olha só que legal, gente! Religiões totalmente diferentes, culturas totalmente diferentes, mas que trazem os mesmos ensinamentos que eu já ouvi de outras pessoas aqui no Brasil.

De pessoas inclusive que são muito queridas na minha vida, por quem eu tenho um amor profundo. Quantas vezes no nosso dia, nós agradecemos a Deus pelas coisas que nós temos. Quantas vezes nós falamos “al han do li lá”, não em árabe, né gente, mas elevando o pensamento ao Criador de Tudo e dizendo “Obrigado, Senhor”, “Graças a Deus”.

Quantas vezes nós paramos para admirar um amanhecer ou um entardecer, para sentir o prazer que nos dá encher o nosso pulmão de ar. Para apreciar a beleza de uma flor pequenininha que está lá perdida no meio do jardim? Quantas vezes nós paramos para agradecer a cama em que nós dormimos, a coberta que nos esquenta, o transporte que nos leva aonde precisamos ir… Pra tudo isso os muçulmanos falam “al han do li lá”.

Hoje, quando eu me sinto triste com situações, com pessoas, quando eu fico injuriado comigo mesmo, eu penso nesses ensinamentos simples que eu recebo dos outros e que acrescentam tanto na minha vida. Não sei… talvez seja a espiritualidade que esteja colocando essas pessoas no meu caminho, para que eu aprenda com elas. São pessoas simples que nos trazem grandes lições de vida! Assim como são as Entidades da Umbanda. São espíritos simples que nos trazem grandes ensinamentos. Quem já participou de uma gira de Umbanda e já teve a oportunidade de conversar com um preto-velho ou com um caboclo, ou com uma criança, sabe do que eu estou falando.

Porque esses espíritos, de uma maneira simples, de uma maneira humilde, trazem ensinamentos maravilhosos para gente. Assim como aquele garoto sírio me trouxe… assim como meu aluno libanês também acabou me relembrando de atitudes que já deveriam estar internalizadas na minha vida. E cada um trouxe o ensinamento da sua maneira, cada um do seu jeito, talvez sem ter a noção de que estaria contribuindo tanto para o meu crescimento espiritual. Mas para isso, a gente precisa ter a mente e o coração abertos para receber o ensinamento. Como disse o nosso Mestre Jesus, a gente precisa ter ouvidos para ouvir.

Bom, mas vamos lá. A gente ainda tem um tempinho aqui no episódio que eu gostaria de aproveitar para responder o e-mail do Antônio Kennedy, de Manaus. O Antônio entrou em contato comigo pelo site do Alma de Poeta dizendo que ele está gostando muito de ouvir o podcast e ele deixou uma sugestão aqui para gente conversar. O Antônio escreveu o seguinte para mim: “Olá, bom dia. Eu estava ouvindo o seu podcast, no episódio 14, e acredito que às vezes há uma confusão quando tratamos da origem da Umbanda. Mas afinal, qual é a origem da Umbanda? De onde ela surgiu? Ela é uma religião totalmente brasileira? Acredito que a resposta a essas perguntas podem esclarecer aqueles que se interessam, apesar de você já ter falado um pouco nesse episódio.”

Muito obrigado, Antônio, pelo seu contato! Eu já respondi o seu e-mail, assim como eu costumo fazer com todos que escrevem para o podcast enviando dúvidas e sugestões. E realmente esse é um questionamento muito frequente, né? A gente costuma ver, por exemplo, na mídia, falando que a Umbanda é uma religião de matriz africana. E isso acaba trazendo uma certa confusão, né? As pessoas acabam pensando que a Umbanda nasceu na África, quando não é verdade.

A Umbanda é uma religião 100% brasileira, assim como é o Candomblé, assim como é o Catimbó-Jurema. E por que que eu digo isso? Em lugar nenhum do mundo você vai encontrar nenhuma dessas três religiões, como sendo nativas daquele país. Claro que hoje em dia já tem terreiro de Umbanda na Alemanha, em Portugal, até no Japão. Mas você vai ver que, em todos os casos, quando a gente fala da prática da Umbanda ou do Candomblé em outros países, existe sempre uma ligação com o Brasil. São brasileiros que vivem no exterior e que estavam sentindo falta de praticar sua religião e resolveram abrir um terreiro.

Eu tenho certeza de que tem muito candomblecista que vai chegar para mim e vai falar assim: “você está errado”, o Candomblé veio da África, junto com os escravos. Tanto é que a gente fala em Iorubá. Tudo bem, mas se você for lá na África, você pode rodar o continente africano inteirinho que você não vai encontrar, em nenhum lugar, a prática do Candomblé. Você vai encontrar outras práticas religiosas, que cultuam os Voduns, os Inquices e os Orixás, mas que são totalmente diferentes do Candomblé brasileiro.

Porque o Candomblé, realmente ele nasceu junto aos escravos. Só que lá na África, cada região cultuava um Orixá diferente, ou alguns Orixás diferentes. Tinha lugar que cultuava só Iemanjá, tinha lugar que cultuava só Exú, tinha lugar que cultuava só Xangô. E como vieram para o Brasil escravos de diferentes lugares, eles acabaram, no decorrer dos séculos, formando um panteão de Orixás, nos moldes que a gente conhece hoje em dia. Então, assim, essa compilação de crenças, esse emaranhado religioso, começou a ser formatado aqui no Brasil, com o nome de Candomblé. É por isso que a gente fala que o Candomblé nasceu no Brasil.

Com a Umbanda, já é diferente. A Umbanda é uma religião que nasceu no Brasil e que apenas absorveu elementos de outras religiões e de outras filosofias. Lá no episódio 28 eu já contei a história do início da Umbanda. Mas assim, a manifestação do Caboclo das 7 encruzilhadas foi apenas a oficialização do culto de Umbanda como religião.

Porque se você parar para ver, se você fizer um estudo mais aprofundado sobre isso, você vai perceber que as manifestações mediúnicas de espíritos de africanos e de índios já ocorria no Brasil, muito antes da oficialização da Umbanda. Afinal de contas, a mediunidade de incorporação não pertence à Umbanda, né? Nem a religião alguma. A mediunidade pertence ao ser humano. É um atributo da natureza, é uma habilidade que as pessoas possuem.

É lógico que, dependendo da vertente de Umbanda que você pratica, vai ter uma certa polêmica com relação ao momento em que a Umbanda surgiu. Tem algumas correntes que falam que a Umbanda já existia no plano astral antes dela surgir aqui na Terra. Segundo essa corrente, a criação da Umbanda se deu, primeiro no plano espiritual e depois obteve a permissão de ser apresentada no nosso plano material. Eu acho que tem muita lógica esse entendimento! Eu concordo com esse ponto de vista.

Só que nessa corrente que fala que a Umbanda já existia no plano espiritual, começam algumas divagações, né, que eu acho que nem tem muita importância. As pessoas começam a questionar: “desde quando existe a Egrégora da Umbanda no plano espiritual”. Daí começam aquelas teorias… de que a Umbanda já existia desde a época de civilizações antiquíssimas, que viveram em continentes perdidos, continentes que já não existem mais.

Se isso é fato ou se isso fake, já não me importa. Eu acho que não há a necessidade de a gente ficar dando demasiada importância de quando a Umbanda surgiu no plano espiritual. Que ela existe lá, ela existe! É incontestável. Mas ficar nessa discussão de quando ela nasceu, eu acho que já é um pouco de preciosismo na nossa parte.

Tem um ensinamento budista que eu gosto bastante. Ele fala assim: “não se preocupe de tentar entender a Deus. Não perca o seu tempo tentando entender algo que ainda está além da sua compreensão. Preocupe-se com coisas mais imediatas, que surtirão efeitos mais concretos na sua evolução espiritual. O budismo fala: ao invés de tentar entender a natureza de Deus, preocupe-se mais em se melhorar como pessoa. É isso o que importa no momento”.

E esse mesmo ensinamento, eu trago para Umbanda. Não perde o seu tempo tentando entender a natureza de um Orixá ou quando que a Umbanda foi criada no plano espiritual. Isso só vai alimentar a sua vaidade. Porque, independente da conclusão que você chegue, você vai acabar achando que sabe mais do que o outro.

A gente precisa direcionar as nossas atitudes para coisas mais concretas, que realmente vai fazer com que o nosso espírito evolua. É lógico que é bom saber, é bom estudar, é bom adquirir conhecimento, mas desde que esse conhecimento tenha um propósito, né? De nada vale a gente estudar, apenas para alimentar o nosso ego, para gente achar que a gente sabe mais do que as outras pessoas.

Eu acabei me enrolando aqui no assunto, Antônio, que não tem nada a ver com a sua pergunta. Que por sinal, eu acho que é uma pergunta muito pertinente. Mas, resumindo, sim! A Umbanda é uma religião genuinamente brasileira. Ela nasceu no meio do nosso povo, da nossa cultura, para atender as nossas necessidades espirituais. Eu te agradeço imensamente pela sugestão, da gente poder conversar um pouco mais sobre esse assunto.

E assim… independente da vertente de Umbanda que você mais se afiniza, independente da corrente que você segue, são apenas pontos de vista, né? A gente vai trocando figurinha para completar o nosso álbum. Às vezes você tem uma figurinha que eu não tenho, às vezes eu tenho uma figurinha que você não tem. E a gente vai se ajudando. A sua maneira de enxergar o mundo deixa a minha visão mais abrangente. Assim como a minha maneira de interpretar a Umbanda, talvez possa enriquecer um pouco mais a sua experiência dentro da nossa religião.

Espero que vocês tenham gostado do episódio. Se vocês gostaram, mandem um e-mail para mim. Se vocês não gostaram, mandem um e-mail para mim também. Das duas maneiras eu vou ficar feliz de receber um feedback de vocês. Para quem ouve o podcast aqui pelo Spotify ou pelo Deezer, ou pelo Amazon Music ou qualquer outro aplicativo, saibam que a gente também tem um site onde vocês podem deixar as suas mensagens. É só digitar no seu navegador “almadepoeta.com.br“. Ou então, se vocês quiserem, já manda um e-mail direto para mim. “[email protected]“. Eu vou ficar muito feliz em responder.

Um grande abraço, fiquem com Deus. E como dizem os árabes: “al han do li lá” por mais esse episódio!!!

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