Transcrição do Episódio
Olá, meus irmãos e minhas irmãs de Podcast! Tudo bem com vocês? Sejam bem vindos a mais um episódio do Alma de Poeta. Meu nome é Evandro Tanaka, eu sou médium umbandista e esse podcast foi idealizado para que a gente possa conversar um pouquinho sobre Umbanda, Espiritualidade, Mediunidade. E também para compartilhar as poesias passadas pelo meu querido guia espiritual. Um amado preto-velho que atende pelo nome de Pai Antônio.
E por falar em poesias, eu quero iniciar o episódio de hoje recitando uma poesia para vocês que conta a experiência reencarnatória sofrida de um espírito que hoje trabalha na Linha dos Baianos. Eu lembro, no dia em que o Pai Antônio passou essa poesia para mim, eu sentia a presença de uma outra Entidade tocando a minha testa. E durante todo o tempo em que ele tocou a minha testa, eu conseguia visualizar nitidamente as cenas que aconteceram na encarnação daquele espírito.
Essa também foi uma poesia em que eu derramei muitas lágrimas, conforme as cenas iam se desenrolando na minha mente. De vez em quando, eu tinha que parar de escrever para enxugar o meu rosto. E olha, por mais que eu me esforce em dar passividade para receber os versos, as palavras são apenas um pálido reflexo das cenas que eu visualizei. Vamos ouvir a poesia? Espero que vocês gostem.
Eu nasci no agreste do Sertão, onde as plantas crescem retorcidas, onde o Sol queima as pedras no chão e as pessoas vivem esquecidas. Minha casa era feita de barro misturada com palhas de milho. No cômodo havia um jarro e água salobra para o meu filho. O que restou da minha família, eu cuidava com muito carinho. Permanecia sempre em vigília, para eles não ficarem sozinhos. Durante o dia, trabalhava na roça de sol a sol, com a enxada na mão. Minha mulher fugiu numa carroça, não aguentando tanta solidão. Meus pequenos, antes eram cinco, um a um, foram todos morrendo. Mesmo assim, trabalhei com afinco, batalhando por nosso sustento. Para cada filho meu que partia, Deus ouvia o meu triste lamento. Havia um choro cheio de agonia implorando por esclarecimento. Quando o Sol brilhava, no outro dia, lá estava eu, novamente de pé. Pegava a enxada, o chapéu, e saía, lutando para manter minha fé! Foi quando meu último filho morreu, por conta de severa desnutrição. O meu mundo, então, escureceu e a minha vida perdeu a razão. O pequeno Júlio era o meu tesouro, o sentido único do meu viver. Enterrei-o num pedaço de couro, não suportando mais tanto sofrer. Na sua cova, gritei como um louco, amaldiçoando toda a Criação. Xinguei os Céus, até ficar rouco, sem ninguém pra segurar minha mão. Saí pelo campo desorientado, andando na Caatinga do Sertão. Mas pelo cansaço, eu fui alcançado, e desmaiei com a cara no chão. Com a violência da minha queda, fui lançado para fora do corpo. Então tive uma grata surpresa e a felicidade iluminou o meu rosto! Na minha frente, encontrei os cinco, correndo felizes para me abraçar. O mais velho sorriu e me disse: "Paizinho, não precisa chorar!" "Porque nós todos estamos bem, felizes e agradecidos, pois quando viemos para o além, pela vovó fomos bem recebidos." "Ela aproveita para lhe falar dessa nova fase que se inicia, pois a mediunidade irá aflorar e tu irás conhecer os teus guias." Quantas horas fiquei inconsciente? Isso eu não saberia responder. Mas acordei com a alma contente, e com grande vontade de viver. Abri os olhos, no final do dia, com o sol a queimar minha pele, inundado por suave calmaria daquele fardo, agora tão leve! Levantei-me com passos trôpegos, mas com o espírito consolado, enquanto permanecia absorto, ouvindo a voz do meu filho amado. Confesso! A partir daquele dia, a minha existência se modificou, com as minhas novas companhias a levarem consolo e amor. Naquela casinha simples de barro comecei a dar atendimento, com a água salobra do jarro, para aliviar muitos sofrimentos. Foi assim que pratiquei a caridade, servindo as pessoas por vários anos. Até que a morte, com suavidade, levou-me de volta para o Povo Baiano.
Que história triste, né? Eu fico imaginando quantas e quantas situações semelhantes não existem por esse mundo a fora… De pessoas praticamente invisíveis, inexistentes para a sociedade, que vivem nos rincões mais isolados desse nosso país. Quantas e quantas pessoas vivem perdidas naquele sertão de Deus, abandonadas à própria sorte… Vivendo silenciosamente as suas experiências dolorosas.
A poesia conta a história de um espírito que viveu no agreste do sertão brasileiro, numa situação de extrema pobreza. Para vocês terem uma ideia, ele vivia numa casa de pau-a-pique. Para quem não conhece ou nunca viu, casa de pau-a-pique são aquelas casas feitas de barro, tem bastante no sertão nordestino. E no lugar onde ele vivia, não tinha nem água potável. É uma situação, assim, inimaginável para quem vive num centro urbano como São Paulo. Eu, pelo menos, não consigo imaginar como seria a vida sem ter água para tomar banho, sem ter água para cozinhar, sem ter água para matar a sede. Mas, infelizmente, essa é uma realidade para muitas pessoas, né?
E vocês perceberam, gente, que apesar do espírito ter passado por situações que enlouqueceriam muitas pessoas… De ver todos os filhos morrerem, desnutridos, de ter sido abandonado por sua companheira, de ter que trabalhar de sol a sol com uma enxada na mão para conseguir se manter vivo. Mesmo assim, a gente percebe como aquele espírito era bom. Um pai atencioso que lutou até o último instante para tentar manter o último filho vivo. E vocês percebem o desespero dele depois, né? Quando se viu só… enterrando o último ente querido que havia sobrado.
E mesmo ele sendo um espírito bom, naquele momento de desespero, ele acabou blasfemando, ele xingou, ele se revoltou. Porque, meu Deus? Por quê? Quantos de nós já não passamos por situações trágicas e nesses momentos, acabamos duvidando da existência e da bondade do Criador? Isso é normal, gente! Nós somos seres humanos e nós somos colocados aqui na Terra, muitas vezes, em condições difíceis, para que nós possamos evoluir o nosso espírito, para que nós possamos testar a nossa força espiritual, para que nós possamos testar a nossa fé.
Só que mesmo naqueles momentos em que a nossa fé está cambaleando, a espiritualidade de luz fica firme ao nosso lado. Porque eles sabem que aquele momento de desespero está sendo a prova de fogo necessária na nossa vida encarnada. Quando vocês estiverem passando por dificuldades, lembrem-se que os espíritos familiares, aquelas entidades desencarnadas que acompanham a tua evolução, vão estar do teu lado, dandos forças, incentivando para que você não desista.
E olha só aquele espírito! No momento de maior aflição da vida dele, quando ele pensou que tinha perdido tudo, ele foi arrebatado do seu corpo físico e teve a oportunidade de reencontrar todos os filhos que ele amou tanto aqui na Terra. E depois desse momento sublime do reencontro, ele dedicou o resto da sua vida para fazer a caridade, para ajudar outras pessoas em situações tão difíceis quanto a dele.
E é lógico, né gente… Quando esse espírito desencarnou, ele desencarnou numa situação privilegiada, pelo tanto de resgate cármico que ele conseguiu fazer naquela vida. E hoje, esse é um espírito de luz que trabalha amorosamente na Linha dos Baianos.
Bom, agora, mudando um pouco de assunto, eu queria conversar com vocês sobre um costume que existe em quase todos os terreiros de Umbanda. Pelo menos, todos os que eu frequentei até hoje tem esse hábito: O hábito de pisar no abassá descalço. Para quem não sabe, abassá é aquela parte interna do terreiro onde se forma a corrente mediúnica, os médiuns incorporam e onde as entidades dão atendimento.
Por que existe esse costume de entrar descalço no abassá? Bom, para mim, isso é mais do que um costume. Isso é uma necessidade. Mas vamos la, eu vou tentar explicar para vocês as razões do por quê existe essa necessidade. Algumas casas chegam até mesmo a exigir que as pessoas tirem os sapatos antes de entrar no abassá.
Vamos conversar primeiro sobre a origem histórica disso. O que o sapato representava para o negro escravo, recém libertado do cativeiro. Nos séculos passados, no tempo da escravidão, andar descalço no Brasil simbolizava a condição de escravo. Porque os escravos eram proibidos de ter sapatos. Eles tinham que andar descalços.
Daí, o que acontecia? A primeira coisa que o negro fazia quando recebia a sua liberdade era arrumar um par de sapatos. Para eles, o sapato era sinônimo de liberdade. Quando eles calçavam os sapatos, eles estavam calçando também o status de um homem livre. Era como se, de uma certa maneira, simbolicamente, eles se auto-incluíssem na sociedade. Vocês entendem?
Só que quando começaram a surgir os terreiros de Candomblé e, mais tarde, os terreiros de Umbanda, os negros deixavam os sapatos de lado, porque para eles, lá no fundo, o sapato simbolizava a sociedade branca opressora, aquela sociedade que trouxe tanto sofrimento para a vida deles.
Quando os escravos libertos e os descendentes entravam no terreiro, era como se eles estivessem voltando para a Mãe África. Eles queriam esquecer que estavam nas américas. Eles queriam esquecer da existência do homem branco. E como o sapato, naquela época, era o símbolo de status da sociedade branca, eles faziam questão de tirar os sapatos e deixar do lado de fora. Porque eles queriam viver aquele momento, de retorno às suas raízes, da maneira mais intensa possível.
Então, os negros que viviam no Brasil, cultuavam os seus Orixás descalços, da mesma maneira que eles cultuariam se estivessem na África. Esse é o lado histórico da coisa.
Agora, vamos entender essa prática por um outro lado. Pelo lado energético. E esse é o ponto mais importante pelo qual nós permanecemos descalços no abassá. Quando você está usando sapato ou chinelo… qualquer coisa que impeça que o seu pé toque diretamente no solo, a energia que corre pelo seu corpo não flui… ela não é descarregada.
A partir do momento em que você pisa descalço no chão, o seu pé funciona como se fosse um “fio-terra”. Toda energia negativa que você carrega, vai ser atraída pela força telúrica. E isso vai facilitar muito a limpeza fluídica que a equipe espiritual vai estar fazendo no seu corpo. Quando você enconsta a planta do pé naquele solo sagrado, que está sendo trabalhado energeticamente pela espiritualidade, acaba ocorrendo uma transferência energética muito importante para que você se sinta bem.
Eu, sinceramente, não consigo pisar num terreiro de Umbanda calçando sapatos. Eu começo a me sentir muito mal se eu não ficar descalço. Pode estar o frio que for, eu vou estar sempre com o meu pé descalço pisando no chão.
Sem contar, gente, que nós encarnados, andamos por lugares que nem sempre tem uma energia boa. E o sapato acaba acumulando uma sujeira espiritual muito pesada. Quando a gente sai de sapato na rua, é como se nós estivéssemos pisando em esterco. E aquele esterco energético vai se acumulando na sola do sapato, poluindo os lugares onde você pisa. Inclusive, eu acho um hábito muito salutar de você tirar os sapatos quando você entra dentro da sua casa. Você não vai sujar o chão e não vai poluir energeticamente o ambiente onde você mora.
E assim, para quem cultua mais a Umbanda Xamânica (eu sou suspeito para falar, porque eu adoro o Xamanismo). O solo representa a morada dos nossos antepassados. Afinal de contas, quando o nosso corpo físico morre, ele volta para a terra, né? E o Xamanismo tem um respeito muito grande pela terra. Então, quando você pisa descalço no chão, isso pela visão Xamânica, você está entrando em contato com os seus ancestrais. Você está entrando em contato com todo o conhecimento, com toda a sabedoria que os seus ancestrais carregam.
Ora gente, na Umbanda, os nossos guias, os nossos protetores espirituais, nada mais são do que os nossos ancestrais, aqueles que vieram antes de nós, que já caminharam o caminho que nós estamos percorrendo hoje e, por isso, conseguem nos orientar melhor. Então, pela visão da Umbanda Xamânica, quando você tira os sapatos, você está entrando num contato mais direto com a sua ancestralidade espiritual.
E sem contar, né, que é muito bonito também você tirar os sapatos em sinal de respeito, em sinal de humildade. Quando nós tiramos o sapato dentro do terreiro, nós estamos nos colocando em pé de igualdade com os nossos irmãos. Naquele momento, não interessa se você veio com um tênis de 100 reais ou se veio calçando um sapato de 3.000 reais. A única coisa que você vai trazer para dentro do terreiro é o seu pé descalço, igual ao de todos os outros.
Então, pessoal, quando vocês forem visitar um terreiro de Umbanda, tirem os sapatos. Mesmo que ninguém peça para você fazer isso, tira. Mostra humildade, mostra respeito. Você vai ver como a sua percepção do ambiente espiritual se intensifica quando você fica descalço. Não só no terrreiro de Umbanda como em qualquer lugar. Você já pisou descalço na grama? Ou na terra úmida? É uma delícia. É uma energia revigorante que a gente sente. A mesma energia que eu sinto quando eu piso descalço no terreiro.
E agora, eu queria aproveitar esse episódio para fazer um agradecimento especial para a Fernanda, que mora em Santo André. A Fernanda é jornalista e também tem um site muito bacana que se chama Eleve-se. Ela entrou em contato comigo um tempo atrás dizendo que acompanha os episódios do Alma de Poeta e como forma de agradecimento, ela colocou um link no site dela, na página principal, com os últimos episódios do podcast. Então, eu deixo aqui os meus agradecimentos para você, Fernanda, pelo seu carinho, por você ter aberto um espaço na sua página para divulgar o nosso podcast.
E vocês que gostam desses assuntos sobre espiritualidade, acessem o site da Fernanda que tem muita coisa legal. Tem um conteúdo bem bacana. Lá ela publica artigos sobre autoconhecimento, astrologia, espiritismo, numerologia, Umbanda, tarô. É muito bacana os assuntos que ela divulga no site. Se você ficou interessado, o endereço é “eleve-se.com.br”. O “eleve-se” é com tracinho, tá? Eleve, tracinho, se.com.br.
Muito obrigado, Fernanda, pelo seu carinho. Desculpa a demora para te dar um retorno da gentileza que você teve de divulgar o podcast no teu site. E conte comigo sempre que você precisar de alguma coisa.
Eu vi um artigo muito bacana que a Fernanda publicou no site, que fala sobre a mensagem de um Exú sobre a pandemia. Eu vou pedir licença para a Fernanda de ler essa publicação aqui no podcast, que eu achei muito bonita. A mensagem fala o seguinte:
Enquanto os interesses estiverem voltados para os próprios umbigos, na individualidade de cada ser humano, o coletivo vai sofrer pelas mazelas que irão acometer o planeta. A guerra de hoje é invisível. Não usa armas de fogo e nem força física. As forças trevosas usam o silêncio e o invisível para atingir a coletividade. Mas existe um caminho para que não sejam atingidos por esta peste perniciosa. O caminho é a caridade pura, no dar ao próximo aquilo que ele necessita. Em enxergar a dor do outro, em entregar ao próximo o que lhe falta, seja alimento ou cobertor. Portanto, meus caros, se um necessitado bater à sua porta, não negue ajuda. Não negue o alimento a quem tem fome ou o cobertor a quem passa frio. Se tiver apenas dois ovos, entregue um. Se tiver apenas um cobertor, entregue e fique sem nenhum, porque tu és mais abastado do que aquele pobre espírito sofredor. O bem, o amor e a ação protegerá todos vocês de todas as ameaças invisíveis que assolam o planeta. Acreditem, só o amor e a caridade serão capazes de tirá-los desse tormento. Comece hoje, não espere uma oportunidade. A oportunidade se apresentará diante de cada um, sem qualquer necessidade de buscar o momento ou a ocasião.
Essa mensagem foi recebida durante uma sessão de desenvolvimento mediúnico num terreiro de umbanda aqui em São Paulo e foi publicada com a permissão do plano espiritual.
Muito bonita essa mensagem, né? Vinda, olha só de quem: de um Exú! De um espírito que trabalha numa Linha que é tão discriminada por quem não conhece. Se vocês gostaram, acessem lá o site da Fernanda, que tem muito mais conteúdo. Eleve-se.com.br
Então é isso, gente! Espero que vocês tenham gostado do episódio de hoje. Obrigado a todos pelo carinho. Tem um pessoal que já acompanha o podcast há algum tempo que está entrando em contato comigo pelo Instagram, pelo Tiktok. Muitos estão ajudando a divulgar o Alma de Poeta, estão compartilhando as mensagens, as poesias. Eu acho isso muito bacana. E eu fico imensamente grato por essa atenção que vocês tem com o Podcast.
Vocês que estão mandando mensagens para mim, me perdoem a demora em responder. Às vezes eu consigo responder um pouco mais rápido, às vezes eu demoro mais. Depende da minha correria da semana. Tem semana que eu estou mais tranquilo, tem semana que “só por Deus”. Mas é assim mesmo, né gente? Graças a Deus a vida está corrida! Isso significa que tem muita coisa para ser feita.
Se vocês gostaram do episódio e hoje, continuem acompanhando o Alma de Poeta pelas plataformas de áudio. Você pode ouvir os episódios no Deezer, no Spotify, Google Podcast, Apple Podcast, Amazon Music, Youtube… E se você quiser, você pode ouvir os episódios entrando diretamente no nosso site: almadepoeta.com.br. Entrem lá, mandem uma mensagem para mim, comentem, divulguem. Eu fico sempre muito feliz em receber um feedback de vocês.
Um grande abraço a todos, meus irmãos e minhas irmãs de caminhada, minha família virtual! Que o nosso Pai Oxalá continuem abençoando a caminhada de todos vocês e até o nosso próximo encontro.